terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mulheres Perfeitas

Não sei se você já teve a oportunidade de assistir ao filme “Mulheres Perfeitas”, que tem no elenco algumas figurinhas conhecidas de Hollywood como Nicole Kidman, Matthew Broderick, Glenn Close e Bette Midler. O filme não é novo, mas assisti há pouco e fiquei pensando sobre o enredo improvável, mas intrigante.
O fato é que um casal se muda para uma pequena cidade do interior e aos poucos vai percebendo que as mulheres de lá parecem ter saído recentemente da caixa: corpo perfeito, cabelo de dar inveja, casa impecável, culinária de revista e sorrisos inabaláveis. Sem TPM, sem lágrimas, sem reclamações.
E para resumir, o casal descobre que se tratava de um plano muito bem arquitetado, para transformar as mulheres em robôs que fizessem e agissem apenas de acordo com a vontade de seus maridos. O plano era levado a cabo através da implantação de um chip no cérebro destas esposas, responsável pela execução do software “mulheres perfeitas”.
Gostos à parte, já que o filme ficou meio indeciso entre a comédia e o suspense, pode servir para uma breve reflexão. Basta olharmos para a História, para perceber que mesmo sem chip, muitas gerações de mulheres nasceram programadas para executar apenas uma tarefa durante toda a vida: fazer a vontade dos homens fossem eles maridos, pais, irmãos ou em qualquer outro tipo de relação.
Quando a “farsa” foi descoberta e o “chip” foi retirado, a situação mudou, mas não necessariamente melhorou. Claro que um grande fardo foi retirado das costas de toda uma geração de mulheres, que já nasceram sem a necessidade inerente de pensar apenas com os neurônios dos homens que as cercam, mas ainda existem e cada dia surgem, questões a serem discutidas.
Neste blog tratamos do tema muitas e muitas vezes e a cada dia que passa percebo que não é suficiente. Porque as mulheres continuam querendo ser perfeitas, sob a ótica distorcida da sociedade que trocou o machismo retrógrado dos séculos passados, por um mais moderno e multifacetado, disfarçado de exigência do mercado.
Sim, porque em qualquer camada da sociedade, se uma mulher quiser realmente se igualar a um homem em questões profissionais e de direitos humanos, ela terá de provar que é muito melhor. Ser igual não basta. É pouco, ou quase nada.
Ela terá que provar que é capaz de ser uma profissional amplamente bem sucedida, uma dona de casa hábil e uma mãe exemplar. Em muitos casos, ela terá de aceitar ter dois empregos: um mal remunerado, que é o da profissão e um filantrópico, que é o de casa.
Caso não consiga, será criticada pela falta de cuidado com os filhos, pelo desleixo com a aparência, por dispensar pouca atenção ao marido, pela falta de concentração no trabalho. E você reconhece um tipo assim de longe: é aquela que anda esvoaçante, que esbarra em você no supermercado e não perde tempo pedindo desculpas. É aquela que alega que paga caro, justamente para que o filho seja educado pela escola. É aquela que precisa a todo tempo, ser lembrada de respirar de vez em quando.
Você também reconhece uma figura destas no metrô, dormindo em pé, apesar do barulho e do sacolejo. Que vive cheia de culpa pelo que não faz. Que muitas vezes se pega pensando: ‘quem foi que inventou esse raio de igualdade dos sexos?’.
Um novo ano irá começar e com ele, uma nova oportunidade de fazer diferente, de pensar e de agir diferente. De entender que perfeição é fazer o máximo que podemos com aquilo que temos, aceitando as limitações e sendo o que somos, da forma mais verdadeira possível.
Mulheres perfeitas absolutamente não existem aqui, então lutar para ser uma delas, sob qualquer aspecto é a maior das tolices que podemos cometer. Afinal, como diz a protagonista Joanna ao final do filme: “não se trata de perfeição. Perfeito, não funciona”.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Renovando os propósitos

Não sei você, mas tive a impressão de que acabei de tirar a guirlanda de natal da porta e já estou colocando de novo. Parece clichê, mas o tempo está voando mesmo, atropelando tudo o que vê pela frente e nos deixando com cara de paisagem, como se estivéssemos sempre saindo da cama, meio letárgicos.
Isso me faz pensar sobre como fazemos propósitos a cada final de ano e sobre como eles na maioria das vezes não se cumprem quando chega a próxima noite do peru recheado. Passou tão rápido que lá pelo terceiro ou quarto item da lista de “este ano eu prometo”, já estamos procurando a promoção das nozes para a ceia. Impressionante.
E nesta corrida desenfreada que se tornou a vida, acabamos esquecendo de olhar para dentro e para como estamos cuidando daquilo que deveria ser mais importante do que qualquer coisa. Vivemos o amor de qualquer jeito, deixamos a família de lado, depositamos nossa devoção em coisas efêmeras, invertemos as prioridades. Tudo em nome do tempo, que apesar de ser igual para todos, tem a sua quota de livre arbítrio: cada um usa como bem entende.
Mas esta oportunidade é sazonal e mais uma vez bate à porta: o natal anuncia que um novo ano vai chegar e teremos mais 365 dias para cumprir (ou não) as promessas daquela lista, que salvo raras exceções, devem ser as mesmas dos últimos 10 anos. E caso a sua lista já esteja amarelada, que tal fazer uma nova relação, como novos propósitos? Aí vão algumas dicas:
Fazer dieta: esta é básica. Quase todo mundo deve ter esse item na lista. Mas não corte apenas calorias, gorduras e doces. Corte o excesso de zelo, de compromissos, de arrogância, de hipocrisia, de contas para pagar. Monte um prato simples, com aquilo que é essencial para viver e livre-se do peso extra que você carrega, no corpo e na mente.
Fazer exercícios: na minha lista este item é o mais antigo. Vamos exercitar o corpo, a medicina diz que é bom para uma porção de coisas ligadas à saúde. E vamos exercitar a bondade, o desapego, a esperança, a fé e as atitudes concretas. Todos nós sabemos o que é correto, falta mesmo é um pouco de exercício, de movimento real em direção ao objetivo.
Trabalhar menos: se você adotou um estilo de vida que precisa de muito trabalho para ser sustentado, repense suas necessidades. O seu excesso de trabalho, se você é funcionário, gera mais divisas para alguém que talvez não precise tanto e tira você do lugar onde você mais deveria desejar estar, que é o lar. E se você é patrão, quem sabe seja a hora de começar a pensar em viver com menos, para viver melhor.
Fazer uma viagem: pense em quantos destinos maravilhosos você ainda não conhece e planeje concretamente ir para algum deles. Viaje literalmente com sua família e viaje também de forma abstrata, nos seus sonhos, nos seus planos, nas suas ideias. Viaje no seu futuro, nas coisas que espera, nas possibilidades que a vida oferece. Viaje sentada no tapete da sala, sozinha, ou com seus filhos e marido. Mantenha os pés no chão e a cabeça no alto!
Acho que estes quatro itens já ajudam a começar uma nova lista. E não importa se você tem dificuldade de cumprir propósitos, ou se já não acredita que quando o final do próximo ano chegar as coisas estarão de fato, diferentes. Porque, como me disse uma vez um psiquiatra que conheço, “a gente muda, quando a gente muda”.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Entre o amor e o corpo

Quando você deseja preparar um jantar especial ou aquele almoço familiar de domingo, vai ao açougue e pede mais ou menos assim: “vê dois quilos de filé, por favor”; ou então “um peito de frango sem osso, por gentileza”. E assim por diante, cada um com suas preferências. Mas você por acaso, algum dia, já imaginou chegar em uma loja e pedir assim, com esta facilidade, as partes do corpo que você gostaria de substituir?
Me vê 60 centímetros de cintura, por favor”; ou quem sabe “eu quero um nariz bem fininho, por gentileza”; ou ainda “embala pra mim duas pernas bem longas, mas tira a gordura antes de pesar hein!”. Parece loucura não é? Só que de certa forma, a metáfora é bem real em nossos dias.
Não estou me referindo a cirurgias plásticas. Nem à imensidão de novas tecnologias para corrigir os “defeitinhos” do corpo. Estou falando de como transformamos nosso corpo em bem de consumo e de como chegamos a tratá-lo como barganha de feira, como faziam os antigos mercenários.
A História nos mostra que a padronização da beleza não é recente, sempre existiu. Os modelos de referência é que foram mudando. Ser magra, inclusive, já foi sinônimo de ser doente ou incapaz para a maternidade. Bonitas mesmo eram as mulheres que tinham um corpo largo, apropriado para acomodar bem os bebês. Já hoje...
E por causa destas mudanças que não são bruscas, mas que sutilmente vão delineando uma nova sociedade, cada vez mais mercantilizada e voltada para o consumo, criou-se uma nova geração de mulheres, que supervaloriza o corpo em detrimento de quaisquer outros valores ou sentimentos. Isso não quer dizer que elas estejam mais saudáveis. Talvez uma boa parte sim, mas na grande maioria dos países, percebe-se um aumento desenfreado da obesidade – mostrando que a preocupação com o corpo permeia apenas o nível filosofal.
E já que estamos falando em peso, coloque na balança o tamanho da frustração que isso causa: a mídia grita cada dia mais alto que ser magra é ser bonita, é ser saudável, é ser aceita, é ser desejada, é deixar de ser solitária. E por outro lado a sociedade de consumo cria novas necessidades de cardápio mais rápido, mais prático, mais confortável e de calorias mais e mais vazias. Que disputa não?
No meio dessa guerra existem mulheres neuróticas, que lamentam o sobrepeso devorando uma caixa de bombons, ou que comemoram a perda de 300g indo ao fast-food mais próximo. E pior do que isso: que aprenderam e ensinam que o tamanho da felicidade é diretamente proporcional ao tamanho das medidas.
Para provar que meu raciocínio não é apenas uma crítica ao sistema, cito uma recente pesquisa do Max Planck Institute for Human Development na Alemanha, que mostrou dados deprimentes: as mulheres se dizem mais felizes estando magras do que num relacionamento.
O estudo monitorou 24 anos das vidas de mulheres alemãs (entre 1984 e 2008) e descobriu que mais mulheres estavam felizes por estarem no peso que julgavam adequado, do que por ter um relacionamento estável. Estar acima do peso, por outro lado, foi considerado mais deprimente e excludente do que ser solteira.
Nada de novo para nós, mulheres tupiniquins não é? Todo mundo sabe, mas quase ninguém fala, que as mulheres só acreditam em felicidade no amor quando estão dentro de uns jeans tamanho 38. A partir daí tudo se torna incerto e o chocolate se mostra o melhor parceiro possível.
Claro que a saúde física tem reflexos na vida emocional e vice-versa. Claro que estar magro é fisiologicamente melhor do estar acima do peso. Claro que esse é o ideal para se ter qualidade de vida e que isso influencia também na qualidade dos relacionamentos. Mas coisificar o corpo a ponto de que seu status quo seja mais importante do que a felicidade dos seus relacionamentos é um nível absurdo de alienação, que futuramente cobrará suas reservas numa sociedade cada vez mais individualista e solitária.
Se você acha que anda se enquadrando na pesquisa é hora de parar, repensar suas escolhas e rever seu conceito de felicidade. Porque este corpo que abriga você, mais cedo ou mais tarde vai te deixar na mão. Mas as pessoas que você amar e que te amarem durante a vida estarão lá e serão a única coisa que realmente importa.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O ter, o ser e a campainha do apartamento 1

Faz tempo que não tenho inspiração para escrever. Sim, eu espero a inspiração. Não tenho força criativa suficiente para jorrar palavras. Admiro quem tem, quase invejo. Mas eu preciso de situações e novas leituras. Ambas, bem casadas, me fazem escrever. Vamos a elas.
Moro em uma das maiores cidades do mundo, onde cada pessoa é sim, uma ilha. São Paulo é o lugar que conheço, embora conheça poucos mesmo, onde cada pessoa vive exclusivamente para si, no pior sentido que a frase possa ter.
Um bom exemplo disso é o casal que mora no apartamento 1, bem ao lado do meu. Se por alguma infelicidade você precisar tocar a campainha deles, esqueça. Eles não atendem. A recenseadora do IBGE tocou o interfone deles e nada. O entregador de água tocou o interfone, para afinal, entregar a água que eles pediram e nada. Eu já toquei a campainha, em caso de urgência e nada. Devem ser surdos – pensei - mas não são. Eles conversam entre si e embora o volume de voz indique surdez é apenas falta de noção mesmo.
Não bastasse isso, o homem toca saxofone (muito mal, diga-se de passagem) o dia inteiro. Não é hipérbole. É o dia inteiro mesmo. É um alívio quando o telefone deles toca, uma breve pausa. Quase me faz gostar de Kenny G, imagine só. E isso me faz pensar que eles vivem como se sozinhos fossem no prédio, na comunidade, na vida. Sequer chegam ao questionamento de que pode haver alguém incomodado. Para eles, “alguém”, simplesmente não existe. Triste não é?
Enfim, como eles há milhares espalhados pelo mundo. Talvez eu pudesse tentar ser mais branda e pensar que no meio de tantas possibilidades, eles são pessoas alternativas. Mas não são, infelizmente. Eles são surdos-mudos sociais, o que me faz sentir aquela sensação terrível de pena. Porque até os fisicamente surdos aprendem a “ouvir”. Mas os surdos sociais dificilmente atingirão essa compreensão.
E se analisarmos as mutações sociais ocorridas no mundo, suas revoluções, suas guerras, seus ajustes e as diferentes necessidades de cada época, percebemos que isso não é apenas reflexo do tempo em que vivemos. É assustador, mas é um novo modo de vida – que exclui e marginaliza tudo o que está fora de “mim”. Nunca os pronomes eu, meu e mim fizeram tanto sentido quanto neste século.
E aí me peguei tendo o seguinte pensamento: perdemos muito mais tempo preenchendo o ter do que o ser. E no ter definitivamente não há espaço para o outro. No ser sim, há um imenso campo de futebol para várias partidas simultâneas. Mas o ter é escuro e vazio.
A lógica do consumo cria uma necessidade absoluta em mim, de algo sem o qual consegui viver desde sempre, mas que já não posso mais. Então preciso trabalhar mais, produzir mais, me conectar mais, para estar mais perto do tão precioso objeto. Quando consigo comprá-lo, já está obsoleto e começa tudo outra vez.
Aí penso que o raciocínio pode ser muito simplista. Mas a Viviane Andrade Pereira, que escreveu o livro “Corpo ideal, peso normal – transformações na subjetividade feminina” concorda comigo. Já são duas pessoas, não deve ser tão simplista assim. Ela disse: “Consumir é uma atividade presente em todas as sociedades humanas. Atualmente consumimos para satisfazer as nossas necessidades básicas, mas também as necessidades de identificação, status, pertencimento e gratificação individual. O consumo aponta para uma reflexão acerca da sociedade em que vivemos e sobre quem somos”. Brilhante.
Então para resumir a questão, a problemática é essa: nos aproximamos virtualmente, pela globalização tecnológica e os processos que ela implica; geograficamente, por causa da explosão demográfica; e nos afastamos socialmente, porque estamos concentrados demais naquilo que precisamos ter, em detrimento do que precisamos ser. Existe solução pra isso? No campo teológico sim. Mas pra quem ignora essa esfera, só me resta recorrer à filosofia dos parachoques de caminhão: “depois, não diga que eu não avisei”.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Você realmente precisa disto?


Caminhando pelos corredores de um shopping center em uma grande cidade é possível entender o fenômeno do endividamento feminino. Motivo de piada, embaraços e até brigas, o estouro do cartão de crédito costuma ser rotina na vida das famílias de classe média para cima. As mulheres em especial são campeãs no quesito “Ih! Me perdi nas contas outras vez!”.
Andando pelo shopping, elas olham para os manequins com lindos vestidos, presos na parte de trás da cintura com alfinetes. Então, na verdade, não querem o vestido, querem aquela cintura. E nunca param de comprar, achando que em algum momento vão encontrar exatamente a fórmula que, sem esforço e sem sacrifício, as tornará lindas e desejáveis.
Claro que não é só isso. Mas em grande parte é sim: quando compramos compulsivamente, estamos tentando preencher um espaço que é relacional. Nada material poderá preencher. E enquanto cada uma de nós não descobrir isso de fato, as empresas de cartões de crédito, os bancos, as lojas, a publicidade e todo segmento envolvido na problemática continuará a lucrar na mesma proporção: compulsivamente.
No mês de agosto, a empresa especializada em pesquisas sobre mulheres, Sophia Mind constatou que 59% das mulheres brasileiras estão endividadas e que 21% delas não sabem como pagar a conta. A pesquisa também apontou que 81% das brasileiras compram a prazo e 11% delas, não controlam os gastos.
Esta pesquisa apenas oficializou aquilo que a gente já sabe. Ouvimos por aí toda hora, no salão de beleza, na fila do supermercado, na sala de espera do médico, esperando as crianças na escola. Todo mundo sabe que grande parte das mulheres tem dificuldade de resistir a um sapato, uma bolsa, uma joia, à coleção de roupas da nova estação. E quanto mais a dívida cresce, mais aumenta a angústia de não conseguir pagá-la e mais se pensa em comprar, tentando aplacar a ansiedade que esta situação causa. Como sair, então, deste círculo vicioso?
A minha solução pessoal é bem simples, mas funciona. Uma vez fui a uma loja com um grupo de colegas de trabalho e coloquei o olho em um sapato. O mundo parou, a fivela do sapato brilhou mais do que nunca e uma névoa tomou conta do lugar. Então um amigo me puxou da nuvem e perguntou, sem dó, nem piedade: “você realmente precisa deste sapato?”.
Como uma amazona distraída, caí sentada do alto do cavalo galopante da ilusão e respondi: “não, não mesmo”. A partir de então, a tarefa tem sido bem menos dolorosa para mim.
Obviamente que, como toda mulher que se preze, as cores e modelos de cada nova estação ainda enchem meus olhos como frutas maduras em um pomar perfumado. Mas identificando todos os sentimentos possíveis, percebi que o de deitar no travesseiro à noite sem dívidas, me deixa mais feliz do que aquele despertado pelo cheiro de um sapato novo dentro da caixa.
A pesquisa também mostrou que quase 70% das entrevistadas já usaram ou usam o cheque especial e 27% destas o fazem todos os meses. E muitas delas responsabilizaram os problemas de última hora como fator determinante para entrar no vermelho. Ou seja: a renda está tão comprometida com o pagamento de dívidas, que não existe espaço para imprevistos.
Cada mulher (e cada homem também) precisa encontrar um caminho que torne viável o contorno do endividamento e ainda assim, a satisfação das necessidades pessoais. Ter o controle da situação nas mãos é como poder comer uma trufa sem engordar, ou como se a louça de uma hora para outra, se tornasse autolimpante: tecnicamente impossível, mas, totalmente desejável.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Enquanto isso, na sala de justiça...

Quando vejo um projeto de lei como o da “palmada” sendo amplamente discutido tanto na mídia, quanto fora dela e em qualquer esfera da sociedade, logo me pergunto: o que os políticos estão aprontando desta vez? Para mim, um projeto como este não passa de uma cortina de fumaça, para encobrir alguma coisa mais séria que está para ser votada e sobre a qual se espera pouca divulgação.
Sim, porque dizer para os pais como eles devem educar os filhos está totalmente fora da rede de atuação do governo. Ou pelo menos, deveria estar. Isso me faz lembrar a Liga da Justiça, um antigo desenho infantil cujos personagens eram super-heróis que se reuniam na sala de justiça para resolver os problemas do mundo – desde que o mundo estivesse em Detroit. Muito barulho, muito espetáculo e nenhum resultado, já que aplicar uma lei sem critério e fiscalização, não resolve todos os problemas do mundo.
Isso não quer dizer que sou a favor da surra como forma de educação. Conheço pessoas que foram educadas sem uma única palmada ou puxão de orelha e que se tornaram ótimos pais, cidadãos, seres humanos, enfim. Mas também conheço outros que foram corrigidos com palmadas e não são piores por isso. Todos os outros carregam algum tipo de sequela e então, para mim, tudo está resolvido: a resposta está no equilíbrio.
Uma pessoa que espanca uma criança é exponencialmente diferente daquela que, após tentar todos os recursos possíveis, chama o filho para uma conversa e explica porque ele vai levar algumas palmadas. Não dá para jogar os dois no mesmo balaio de gatos. E para o primeiro caso já existem leis. Espancar, torturar, machucar e humilhar uma criança é crime. Discipliná-la dentro de um limite aceitável e razoável de castigo é um ato de amor.
Cada família deve ser responsável por discutir e criar formas de disciplina. E a surra certamente não deve estar inclusa entre as opções. É perfeitamente possível educar uma criança sem ela. Porém, há centenas de fatores a serem considerados e cada caso deve ser analisado, antes de se admitir que exista uma lei proibindo os pais de disciplinarem os filhos com palmadas. As crianças precisam é que as leis vigentes sejam cumpridas e de proteção contra o abuso e a violência. Este projeto de lei não tem absolutamente nada a ver com isso.
Os instrumentos legais para fazer valer a letra da lei é que estão obsoletos. A polícia é que está defasada e perdida. As verbas destinadas à proteção e amparo destas crianças vítimas de suas famílias é que são escassas. De leis estamos fartos, precisamos é de justiça.
A sociedade está completamente confusa sobre como educar as crianças na era pós-moderna. Os professores não podem mais exercer qualquer tipo de disciplina sobre os alunos. São ameaçados diariamente pela marginalidade que alcançou as salas de aula das periferias ou pela impunidade que ronda as escolas das classes mais altas. Mas estão de mãos amarradas, sob pena de perderem seus empregos ou serem processados.
Da mesma maneira, os pais perderam a capacidade de julgar a melhor maneira de impor disciplina aos filhos. Encaram o não como “neurotizador” e simplesmente o aposentaram. É melhor não contrariar as crianças, elas podem ficar estressadas e desenvolver alguma síndrome - explicam. O que para mim nada mais é do que uma desculpa para seguirem suas vidas sem se incomodar com o que os filhos andam fazendo por aí.
Enquanto nossos políticos perdem tempo e gastam nosso precioso dinheiro discutindo um projeto sem fundamento como este, aproximadamente 100 mil crianças morrem a cada ano em nosso País, vítimas da violência. Se aprovada, a lei poderá mudar isso? Certamente não. O criminoso que espanca uma criança até a morte é um sociopata que se considera acima da lei. Não podemos confundi-lo com pais amorosos, tentando impedir que seus filhos sejam más pessoas futuramente, por falta de disciplina.
O projeto tem um bonito enredo, um discurso emocionante e uma capacidade incrível de mobilizar a imprensa em torno do assunto. Mas é totalmente inócuo, pelo menos para o fim a que se destina. Então, o que será que está acontecendo na sala de justiça?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Estranha evolução


Fico perplexa quando ouço por aí, nos meios acadêmicos, midiáticos e populares, que o homem está evoluindo. Não só pela falta de provas cabais, nem pela arrogância de algumas teorias sem fundamento, mas pelo simples fato de que é só olhar para o homem, para comprovar que na verdade, ele está involuindo.
Os anos passam, os séculos transcorrem e quanto mais a ciência se multiplica, mais miserável o homem se torna. Descobrem-se dezenas de curas e centenas de novas doenças. Criam-se avanços tecnológicos e utilizam-se muitos deles para fins inglórios. A maioria da população mundial trabalha para sustentar a minoria que desfruta. E o homem é capaz de matar por motivos cada vez mais torpes. Onde está a evolução disso tudo?
A expansão do conhecimento é inegável e também a superação tecnológica que a humanidade protagoniza diariamente. Só que isto não tem tornado o homem melhor, mais apto para o convívio, mais dado às relações e mais preocupado com as questões sociais. Pelo contrário: na mesma medida em que o mundo melhora tecnologicamente, o ser humano piora.
Sempre houve violência e discórdia. Isso não é novidade por aqui desde que o mundo é mundo. O que mudou é que a violência é cada dia mais gratuita e cruel e sua exposição é tão exagerada, que está deixando de nos sensibilizar. Nem os filmes mais elaborados, com detalhes minuciosos quanto aos enredos de violência e morte conseguem se equiparar ao que acontece aqui na vida real.
A barbárie dos últimos acontecimentos no Brasil nos deixa perplexos, mas precisa mesmo é nos deixar atentos. Homens que matam suas companheiras, amante que manda esquartejar a mãe de seu filho, pais que têm filhos com as próprias filhas, mulheres que abandonam filhos recém nascidos para morrer, adolescentes de famílias ricas que estupram meninas: tudo isso não deve gerar histeria coletiva, mas deve acender a lâmpada da nossa sentinela.
A sentinela é aquele aviso que deveríamos ter diante das situações adversas. Coisas como mude sua atitude, se afaste desta pessoa, adote outro comportamento, saia desta rota são mensagens que recebemos todos os dias. E com o tempo vamos deixando de ouvir. Vamos deixando de perceber. Vamos perdendo a capacidade de julgar se uma situação oferece risco ou não.
Se a sua sentinela não está funcionando como deveria, faça uma lista e cole na geladeira. Como vimos no caso recente do goleiro Bruno e sua amante Eliza, a polícia nem sempre vai proteger você. Então é você quem deve fazê-lo. Anexe à sua lista, pequenos lembretes do tipo: beber e dirigir causa mortes; sexo fora do contexto certo causa sofrimento; dizer sim a tudo que os filhos querem causa problemas futuros; andar armado é perigoso; sair com estranhos é fria; usar drogas mata; não fiscalizar o que os filhos fazem na internet é péssimo; não conhecer os amigos deles é um erro fatal; usar o corpo para obter vantagens financeiras é arriscado. E a lista segue.
Precisamos proteger as nossas famílias, fechar as portas para as situações de risco, abrir bem os olhos para ver o perigo que nos rodeia. Se o homem estivesse mesmo evoluindo, nada disso seria necessário.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Aconteceu de novo


Acompanhamos estarrecidos (pelo menos a maioria de nós) mais um caso com desfecho trágico para uma família brasileira. Mais uma jovem mulher assassinada, privada do seu direito de viver e conviver. Mais um período de luto para o Brasil. Mais um período de luto para a humanidade.
Mércia vivia um momento promissor na carreira e segundo familiares, um momento feliz na vida. Mas conforme quem a matou, ela não tinha esse direito. Ela não podia ser feliz, a menos que aceitasse viver sob a coação de quem deliberadamente escolheu outro tipo de vida para ela.
E mais uma vez acompanhamos entorpecidos a imprensa divulgar fotos e imagens do corpo encontrado na represa, como se lhes pertencesse. Aquele corpo pertence à família de Mércia, nem um tipo de mídia – da mais poderosa à mais simples – tem o direito de mostrar aquelas imagens.
Esta mulher morreu porque tinha consciência. Ter consciência hoje em dia pode ser muito perigoso. Outras tantas, milhares eu diria, não têm consciência de sua situação. Não sabem que são mulheres, que são belas, que são livres, que têm valor, que há um mundo de possibilidades. Vivem ali, amarradas, atreladas ao pé da cama. E no dia em que tiverem consciência disso, correrão risco de morte, como Mércia corria.
Ela provavelmente descobriu que era boa demais para aquele homem. E não me venham os ativistas de direitos humanos usar o absurdo, legal, mas imoral, de dizer que estamos julgando precipitadamente o ex-companheiro dela. As evidências gritam mais alto do que qualquer prova.
Ela um dia deve ter acordado e olhado no espelho, daquelas olhadas para dentro de si, e visto que merecia muito mais do que uma coleira que a permitisse apenas espiar pela janela. Viu que não servia para ela aquele tipo de vida, aquele tipo de caráter. E por ter bom senso, terminou aquele relacionamento.
Então, mulheres, prestem atenção a isso e não sejam vítimas de homens sem caráter como este que vitimou Mércia. Se forem ameaçadas, denunciem, registrem boletim de ocorrência, mas não dependam da polícia. Avisem a família, os amigos, se mudem e andem acompanhadas. Não fiquem caladas, achando que o homem está blefando. Se ele disser, como aquele homem disse para Mércia, que você irá se encontrar com Deus mais cedo, não duvide dele. Proteja-se, proteja seus filhos, fuja, faça o que for necessário.
Gostaria de dizer que acredito que este será o último caso deste tipo, mas não posso. Porque o que vemos por aí é que há um tipo de homem que não aceita receber não como resposta. É uma pequena parcela da população masculina que não aceita o fato de que as mulheres, tal qual eles, têm direito ao seu livre arbítrio.
Não deixem de ter consciência, de perceber sua importância no mundo, de se valorizar para priorizar as vontades perniciosas dos outros. Mas saiam destes relacionamentos antes que eles destruam sua vida, sua família, sua identidade.
A única maneira de preservar a memória de mais esta vítima deste tipo de violência inaceitável é não permitindo que aconteça com você.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Expectativas

Estive pensando sobre expectativas. E embora sejam inconclusivas as minhas ideias, elas ao menos lançaram uma pequena luz sobre o assunto, que estava há algum tempo dançando moonwalk na fissura sagital do meu cérebro (aquela que fica entre os dois hemisférios). Sim, porque para mim as expectativas não são nem lógicas, para estarem no hemisfério esquerdo e nem simbólicas, para estarem no direito.
Expectativas são pequenas bombas espalhadas pelo campo dos nossos sentimentos e, vez ou outra, pisamos nelas e voamos pelos ares, retalhados, feridos e confusos. Ou então, de tanto pisar em falso, optamos por parar no meio do caminho e simplesmente não pisar. Porque não pisar significa não correr o risco de se ferir.
Mas, acho que especialmente para as mulheres, as expectativas têm ainda um segundo elemento: a crueldade. E o que é pior ainda: a autocrueldade. Porque não há quem consiga ser mais cruel com uma mulher do que ela mesma e suas expectativas.
Desde os nossos primeiros passos começamos a esperar. Esperamos ser belas, inteligentes, sorridentes, amadas. Aí o tempo passa e esperamos circular por todos os grupos populares da escola. Mais tarde, quando temos que optar por uma carreira, esperamos ser bem-sucedidas e ainda ter tempo para cuidar do cabelo, das unhas, da pele.
Então surge a maior de todas as nossas expectativas: a do príncipe encantado. Sonhamos que ele virá mesmo num cavalo branco, apesar de sabermos que dificilmente os cavalos circulam em vias públicas. Que ele será igualmente bonito, educado, sensível, generoso e rico. Certo, muitas mulheres trocam o “ser rico” por outras coisas mais importantes. Mas a lista de qualidades esperadas segue mais ou menos nesse ritmo.
E aí com o passar do tempo e alguns beliscões da realidade, nos damos conta de que ninguém consegue reunir tantas qualidades e ainda ter um excelente caráter, que querendo ou não é enfim, o que mais importa. E aí baixamos um pouco nossas expectativas, nos contentamos com algumas qualidades da lista e casamos.
E então casadas, temos novas expectativas. Esperamos que eles nos ajudem com as tarefas domésticas, que continuem românticos como no namoro, que abandonem alguns hábitos nocivos que adquiriram ao longo da convivência materna, que façam massagem sem que precisemos pedir e sem esperar nada em troca.
Aí vêm os filhos e esperamos que sejam... Bem, não vou tocar nesse assunto, se não o texto não vai ter fim. Você consegue perceber como esperamos demais das pessoas e da vida, sem nem mesmo saber se estamos preparados para tanto?
Não quero dizer que devemos ter baixas expectativas e que devemos nos contentar com o que a vida nos apresenta, como eternas Polianas ou como se não fôssemos agentes da nossa existência. Contudo, creio que baixar um pouco as nossas altas expectativas, nos torna mais habilitados a conviver em sociedade e em harmonia, já que nem todo mundo, o tempo todo, conseguirá suprir nossas necessidades de satisfação.
Penso nas crianças, que se alegram com tão pouco, até os cinco anos pelo menos, quando passam a diferenciar as tecnologias dos videogames. É tão interessante observar uma criança diante de uma taça de sorvete, de uma folha em branco, de uma casinha de lençóis, de uma boa história. Elas esperam apenas ser amadas e alimentadas e tudo o que vier além disso, as surpreende e fascina.
Por causa da nossa fatídica mania de esperar demais, perdemos esta tão bela capacidade de nos surpreender, de nos encantar, de acreditar. E passamos a vida como se estivéssemos em uma estação ferroviária abandonada, esperando por um trem que sabidamente não virá.
Não há uma receita para isso, porque de vez em quando vamos cair nessa armadilha. Quem sabe voltando às nossas origens pueris possamos descobrir que todo mundo tem alguma coisinha a oferecer. E que essa coisinha pode não ser exatamente o que queremos, mas sim, absolutamente do que precisamos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

High definition mental: use o seu!

Não sei se você já teve a oportunidade de assistir alguma coisa em UHDT (Ultra High Definition Television) o sistema de tevê em alta definição, que está sendo implantado no Brasil. Se já, percebeu que num primeiro momento não dá aquele impacto de descoberta do fogo que o governo gostaria, quando anunciou a novidade. Mas realmente se nota uma maior definição dos detalhes, para desespero de quem ainda não fez plástica para aparecer na televisão.
Chegando perto, você pode notar coisas que nem a poderosa maquiagem consegue esconder: sinais do tempo, pequenas manchinhas, rugas, cor real dos dentes, essas coisas que os mortais costumam ter. O fato é que a alta definição consegue mostrar aquilo que todo mundo quer esconder: a verdade.
Fiquei pensando em como seria legal se a gente instalasse um sistema HD em nossa mente. Não para ver as coisas externas, os detalhes estéticos, mas a verdade sobre o que realmente querem nos dizer com todas as informações que uma novela passa. Seria no mínimo interessante.
Entra novela e sai novela e as temáticas não mudam muito: dinheiro, sexo, poder, trapaças, traições, distorções de valores e um pouco de humor caricato, que ninguém é de ferro. Mas quando eu ligo meu HD mental, posso ver um pouco mais sobre o que está por trás disso.
Quando a personagem trai o marido com rapazes mais jovens de maneira muito natural, meu HD mental me diz que a sociedade de massa, quando receber essa mensagem não vai decodificá-la como deveria. Vai assistir, vai achar normal, porque já está anestesiada, vai incorporar ao seu próprio comportamento e a vida vai seguir cada vez mais torta.
Quando os protagonistas são bonitos, intensos, perspicazes e conseguem imprimir um pouco de vida na rotina de seus telespectadores que só fazem trabalhar, eles podem até não ter o melhor caráter e o comportamento mais adequado, mas no final, lá no fundo, todo mundo acaba quase que torcendo por eles.
Se você acha que eu estou exagerando, perceba as entrevistas de artistas quando estão protagonizando papeis polêmicos. Geralmente, se são vilões, chegam a ser agredidos na rua. Foi o caso do ator Jackson Antunes, quando viveu o papel de Leonardo na novela “A Favorita”. Por causa das maldades de seu personagem, Jackson, que já sofre de problemas de saúde relacionados a uma trombose na perna, foi parar no hospital e quase teve um agravamento do quadro. E por que isso acontece? Porque as pessoas não sabem mais diferenciar o real do imaginário. Simples assim.
As novelas fazem as pessoas acreditarem em uma vida melhor sem esforço, onde trabalho duro não leva a nada, onde marido bom é marido bonito, onde boa esposa é a do vizinho, onde as coisas se resolvem por acaso. Aí a dona de casa, cansada de um dia cheio de fogão-tanque-pia olha pro maridão sentado atrás do jornal, que já não tem mais a barriguinha do Cauã Reymond e o sorriso do Rodrigo Lombardi e pensa: o que é que eu estou fazendo aqui?
Assim como muitos homens, que também são noveleiros, olham para as belas atrizes que vivem da imagem e para a imagem e então olham para suas esposas, que vivem para a casa, o trabalho e os filhos e procuram o botão ejetor do sofá. Pequenas crises são sutilmente instaladas nos lares, porque os cônjuges não conseguem mais superar as altas expectativas que as novelas incutem em suas mentes, sobre como deveriam ser os relacionamentos.
Então os autores das novelas dão entrevistas sobre como é “bacana” poder usar o horário nobre para causas sociais, para abrir espaços de discussão e por aí vai. Mas qual é o ônus dessa tão importante oportunidade? É como dar um presente envolvido em muitas caixas vazias, até que lá no fundo se encontre uma pequena caixa com o conteúdo, que nem sempre é tão genuíno quanto parece. Depende do quão bem seu HD mental está funcionando.
A discussão sobre quem influencia quem, se a televisão mostra o que o povo quer ou o povo quer porque a televisão mostra é multifacetada e eterna. Mas uma coisa é certa: quanto menos qualidade se apresenta na telinha, para garantir audiência, mais decadência moral se instala sorrateiramente na vida da família brasileira.
Nosso sistema de High Definition mental é muito mais poderoso do que este que a tecnologia desenvolveu para melhorar a qualidade de imagem. Basta um pouquinho de vontade de querer usá-lo e, a princípio, pode ser até assustador enxergar tão claramente coisas sobre as quais antes só se tinha uma vaga ideia. Mas com certeza vale à pena tentar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Homens maus, mulheres românticas e autoridades incompetentes


Sempre achei que culpar as autoridades por tudo o que acontece ao nosso redor é uma forma de lavar as mãos e fingir que a responsabilidade é de alguém e nunca da gente. Mas tem uma questão que está me incomodando bastante e sobre a qual penso que falta um dedinho de autoridade, especialmente a legisladora.
Nos últimos meses a mídia nos “jogou na cara” inúmeras reportagens sobre homens que mataram suas mulheres ou namoradas em virtude da separação. E não bastasse isso, alguns deles mataram também os filhos ou em alguns casos, apenas os filhos, como forma de vingança.
Temos aí dois problemas terríveis. O primeiro é o do homem, que comete uma atrocidade destas. E o segundo é o da imprensa, que noticia. Há um bom tempo atrás, este tipo de notícia era evitado, principalmente se o homicídio fosse seguido de suicídio, pois a ampla divulgação pode gerar o fenômeno da cópia, ou seja, pessoas mentalmente prejudicadas ou em depressão podem se sentir estimuladas a fazer o mesmo. Está lá, no código de ética dos jornalistas, caso alguém ainda saiba o que isso significa.
Mas já que foi e é noticiado, vamos discutir. O recado é claro: as mulheres querem viver suas próprias vidas, fazer suas escolhas, ser independentes, se libertar de relações de abuso e violência? Que paguem por isso então. E com a vida, sua ou dos próprios filhos.
Não quero fazer apologia à separação, longe disso. Sou adepta da idéia de que todo casamento tem salvação e de que essa conversa de “incompatibilidade de gênios” nada mais é do que inabilidade para lidar com as diferenças. Mas ninguém é proprietário de ninguém, para se achar no direito de cercear a liberdade do outro e até de tirar-lhe a vida.
Dados na Anistia Internacional relatam que cerca de 70% das mulheres assassinadas no mundo são vítimas dos próprios maridos ou companheiros. No Brasil, a cada 15 segundos uma mulher sofre violência doméstica e leva em média, de 10 a 15 anos para efetuar uma denúncia.
A chamada à reflexão serve também para as mulheres. Esse tipo de comportamento autoritário, arbitrário e explosivo surge lá atrás, durante o namoro. Só que românticas que somos, pensamos que ele vai mudar ou até fechamos os olhos para não ver. Ah, ele acabou com as minhas amizades, mas elas eram ruins mesmo. Confiscou meus contatos telefônicos e minha agenda, mas foi para me proteger. Liga de meia em meia hora, mas certamente é porque me ama muito. Cuidado! Seu pincher pode se transformar em pitbull, mais cedo do que você imagina.
A fase do namoro é muito importante para conhecer a pessoa com quem se pretende passar o resto da vida. E ninguém muda de uma hora para outra. Se ele parece controlador durante o namoro, no casamento não vai ser diferente e pode ser até pior. Boas escolhas costumam resultar em felicidade, salvo raras exceções.
Mas aí a mulher não escolheu muito bem ou teve uma tremenda surpresa com a mudança de comportamento do marido, que passou a ser violento e ameaçador, gerando um desgaste emocional imenso. Azar o dela? Não, jamais! Aí é que entra a questão onde falham as leis e as autoridades competentes. A lei Maria da Penha é ótima, mas falta cumpri-la à risca. Mulheres e crianças que estão sofrendo ameaças devem ser protegidas de maneira eficaz e não apenas em tese.
As leis precisam ser severas e a punição precisa ser exemplar. Em algum momento isso tem que cessar. Não é possível admitir que a cada dia mulheres sejam assassinadas ou percam seus filhos porque não suportaram viver sob o teto de uma subordinação danosa.
Ou seja, as mulheres precisam escolher melhor, as autoridades precisam agir mais rápida e eficientemente e os homens precisam abrir mão da sua necessidade de controle e domínio. Se quiser conquistar uma mulher e tê-la para sempre ao seu lado, liberdade e respeito devem estar na sua lista de qualidades.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Antes que seja tarde


Imagine a vida doméstica antes da revolução industrial. Você sentada na sala, bordando uma linda toalha de mão, vestindo uma longa saia, com as crianças aos pés, ensinando quadrinhas e cantigas de roda. Monótono não?
Agora pense na sua vida diária hoje, em pleno século XXI, onde não só foram abolidas as saias longas, os bordados e as cantigas de roda, mas principalmente a presença dos pais na vida dos filhos. Um salto, uma mudança abrupta, um progresso cujo preço incomensurável é medido pelas estatísticas da violência e do abuso infantil.
Não podemos mais pensar em uma família que desempenhe os mesmos papéis do passado, quando os homens sustentavam a casa e as mulheres cuidavam dos filhos. As coisas mudaram, as mentes mudaram. O mundo mudou. Mas não podemos mais admitir que as crianças sejam sacrificadas pela necessidade que seus pais têm de sobreviver e até um pouco mais do que isso: de consumir.
Mas é exatamente isso que temos feito com as crianças. Deixamos estas folhas de papel em branco à mercê de qualquer tipo de tinta. E as histórias que se escreve nem sempre tem sido as mais belas e com finais felizes, como nos contos de fadas, que há muito não se conta mais.
De acordo com a Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na Infância, de hora em hora no Brasil morre uma criança queimada, torturada ou espancada pelos próprios pais ou parentes próximos. 12% das 55,6 milhões de crianças brasileiras menores de 14 anos são vítimas anualmente de alguma forma de violência doméstica. Ou seja, por ano são 6,6 milhões de crianças agredidas, dando uma média de 18 mil crianças vitimizadas por dia, ou 750 crianças vitimizadas por hora ou ainda, 12 crianças agredidas por minuto.
Quando essa violência ocorre dentro de casa, por um dos pais ou responsáveis ou pelos dois é um problema social, uma chaga que precisa ser curada. Geralmente esse mal atinge as classes mais baixas da sociedade e está relacionado ao alcoolismo, ao desemprego e a um grande número de pessoas ocupando um mesmo cômodo da casa.
Porém, quando a criança é agredida ou abusada fora de casa é porque não estão prestando atenção em sua vida, nos lugares aonde vai, com quem anda e se está ou não segura. Muitos pais permitem que seus filhos sumam por algumas horas para ter um descanso. Mas basta uma hora para a tragédia acontecer e mudar completamente a vida dos envolvidos.
Diante de tantas notícias de atrocidades cometidas por pessoas doentes, não podemos ignorar a responsabilidade que recai sobre quem detém a guarda de uma criança. Não podemos nos dar ao luxo de sermos ingênuos em relação ao ser humano e confiar as crianças a pessoas que muitas vezes, nem mesmo conhecemos profundamente.
Gostaria de viver em um mundo onde fosse possível pedir ao vizinho que olhasse as crianças para uma rápida ida ao supermercado ou onde se pudesse permitir que as crianças brincassem livremente na rua ou voltassem para casa sozinhas depois da escola. Mas essa utopia tem levado milhares de pequenos inocentes a conhecer as agruras de uma vida adulta muito antes de ter idade para isso.
Fico angustiada quando assisto a um noticiário que mostra uma destas situações em que crianças foram abusadas e os pais afirmam que jamais poderiam imaginar que aquela pessoa fosse capaz de fazer isso. Não posso admitir que uma pessoa conceba filhos que não irá proteger e pelos quais não poderá zelar, escondendo-se atrás de uma pretensa ingenuidade. Se você não é capaz de pressentir o perigo atrás de um sorriso ligeiramente generoso, não arrisque. Nestes casos, prefira pecar pelo excesso a ter que conviver eternamente com a culpa de não ter cumprido sua parte.
Todos os anos meu pai doa uma sacola de alimentos e brinquedos para a mesma família carente no Natal. Eles moram em uma casa realmente precária, há frestas nas paredes e as condições não são as mais favoráveis. Mas a cada ano as crianças parecem mais saudáveis e felizes, porque a mãe está sempre por perto, evitando que cresçam nas ruas, sendo alvos fáceis para criminosos. Faltam roupas de marca, videogames e quartos temáticos, mas sobra tempo para ser criança, em toda a essência da palavra. E são estes paradoxos que nos fazem pensar sobre o que é de fato importante para uma criança. Tenho certeza de que elas preferem os pais em casa, cuidando de sua integridade, do que sempre trabalhando, para pagar os melhores brinquedos e as escolas mais caras.
É preciso cada dia mais conversar com as crianças, envolvê-las num círculo de confiança e afeto, pois isso vai evitar que elas sejam enganadas por falsas promessas de carinho. É preciso diminuir o ritmo frenético das atividades diárias e parar de delegar a outros a tarefa que é única e exclusivamente dos pais ou responsáveis: a de amar e proteger os filhos. Isso nem deveria ser tão difícil assim.

Outro Brasil


Um dia meu marido me perguntou se eu gostaria de ter nascido em outro país. Na hora não soube responder, apenas disse que achava que não, evasivamente. Hoje estou pensando naquela pergunta e já defini a resposta: não. Eu gostaria apenas de ter nascido em outro Brasil.
Explico. Todos os países do mundo têm seus problemas, porque o mundo tem problemas. Em Bangladesh tem 27 mil pessoas por quilômetro quadrado então, não, obrigada. Nos Estados Unidos não se pode sorrir para uma criança na rua, e apertar a bochecha dela então, pode dar até processo. Em Cuba a saúde é totalmente gratuita e nem por isso é ruim, aliás, é ótima, mas há muita gente fugindo de lá, sem poder voltar nunca mais.
Uma vez, quando era estudante entrevistei o jornalista Mino Carta, para uma matéria do curso. No meio da entrevista a filha dele ligou de Londres e após desligar, ele rapidamente comentou sobre como ela se surpreendia com as diferenças entre lá e cá. “Lá, as pessoas leem livros nos trens”. Aqui também! Sempre que pego o metrô vejo pessoas lendo livros. Elas e as pessoas que por uma questão de espaço acabam tendo que ler também, o mesmo livro e bem de pertinho.
Cada país tem sua cultura, seus costumes e seus problemas. Mas eu gostaria sim que o Brasil fosse um pouco diferente. Muito, para dizer a verdade. E como esta coluna é sobre mulheres, vou falar apenas deste aspecto e não sobre a política, a economia e o desastre anunciado no Rio de Janeiro.
Fico bastante envergonhada com o meu gênero quando somos lembradas lá fora pelo que fazemos aqui dentro. Podemos culpar os estrangeiros por pensarem que no Brasil, as mulheres usam folhas de parreira no lugar das roupas? Ou que tem praia no shopping, na balada, nos programas de televisão? Creio que não.
Também sinto vergonha do gênero quando a noiva de um famoso craque do futebol aceita dele o dobro do dinheiro que ganharia para posar nua. E aí fico totalmente corada quando meus colegas de profissão tornam isso uma notícia. Me corrijam se eu estiver errada, mas não bastaria ele pedir? Não é à toa que o relacionamento não vingou.
A preocupação das brasileiras em manter a estética impecável está suplantando em muito a preocupação em manter a mente inteligente. Gostaria de usar uma palavra mais branda, mas burrice é o que se adapta mais confortavelmente ao caso. Cada dia mais belas, cada dia mais burras.
Claro que a mudança de paradigmas sempre pode nos surpreender. Este ano temos duas candidatas à Presidência da República, pela primeira vez em 25 anos de democracia. Mas a caminhada no sentido de fazer com que as mulheres brasileiras sejam lembradas por algo mais do que beleza e disponibilidade é longa.
Para isso acontecer temos que sair das discussões triviais que permeiam o imaginário feminino e explorar um mundo de possibilidades mais concretas e sensatas. As mulheres querem dominar o mundo inteiro e esquecem seu universo particular. Sejamos rainhas de nossos lares primeiro e depois, partamos para patamares mais elevados. Imprimindo aos poucos na sociedade, os valores que cultivamos primeiramente em casa, passaremos a ser lembradas por legados mais dignos do que os que nos perseguem hoje. O problema é que mesmo em casa a mulher não sabe mais quem é.
Confundimos exposição com impressão, pensando que em quanto maior quantidade estivermos espalhadas por aí, não importa fazendo o que, conquistaremos tudo aquilo que temos sonhado ao longo dos anos. Mas neste caso sou mais a favor da qualidade.
Muitos brasileiros ficaram ofendidos com a piada de mau gosto do ator americano Robin Williams, por ocasião da escolha do Brasil para sediar as Olimpíadas de 2016. Ele disse durante uma entrevista, para um talk show: “espero que ela (Oprah) não esteja chateada de perder as Olimpíadas. Chicago enviou Oprah e Michelle. O Brasil mandou 50 strippers e meio quilo de pó. Não foi justo”.
Também fiquei chateada, especialmente porque a piada veio de um americano, cujo país lança bombas sobre civis para defender uma suposta supremacia galgada em atos deliberados de dominação e exploração. Mas não posso culpá-lo por pensar assim. Muitas brasileiras querem enfrentar e ganhar o mundo de costas para ele.
Seremos bem vistas lá fora, quando aqui dentro, em nossa casa, aprendermos a fazer com que, do pescoço para baixo, sejamos apenas mulheres e não moedas de troca. Quando nossa voz for ouvida pelas nossas ideias e não pelas nossas medidas, o resto do mundo nos olhará nos olhos e entenderá que um grande país é feito de pessoas e não da exploração do que elas têm a oferecer.
Em contrapartida, o Brasil precisa rever as políticas públicas relacionadas às mulheres, que em grande parte são inclusivas apenas na letra. Precisa agregar os valores demonstrados pelas mulheres verdadeiramente brasileiras (aquelas que não desistem nunca) ao seu modo de pensar e gerir a sociedade. Onde há planejamento eficiente e ação eficaz, certamente há um toque feminino.

Fechando janelas



Sentada diante da página em branco julguei bastante difícil escrever a coluna deste mês. Pensei em temas dos mais variados, desde a complicada relação homem e mulher até a origem do salto alto, que fez aniversário no mês de março. Mas cada vez que o cursor piscava na tela, só conseguia pensar em Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, assassinada pelo pai e pela madrasta, conforme concluiu o julgamento de ambos, ainda fresco nos noticiários e na memória coletiva.
E quando penso nesta Ana que ganhou a empatia da nação tupiniquim, me refiro também a todas as outras milhares de Anas que já passaram pela mesma dor. Ainda não tenho filhos, não posso imaginar como se sentem. Mas qualquer pessoa que não sofra de uma psicopatia é sensibilizada pela dor alheia. E a vida é cheia de histórias tristes e absurdas, como a de um pai que lança a filha para a morte.
Não quero falar de justiça ou do que transcende nosso entendimento. Nem discutir as causas ou a antropologia e sociologia dos fatos. Quero apenas pensar em como nós, mulheres, nos preparamos para a difícil tarefa de ser mãe e de educar seres humanos que um dia conviverão em sociedade e terão de resolver conflitos.
No rígido processo educacional do passado, os pais espancavam os filhos quando eles erravam. Quando não chegavam a tanto, não lhes davam o direito de defesa, de argumentação. Impunham castigos pesados, como ajoelhar no milho ou a famosa palmatória. Mas aí como somos exagerados em tudo que fazemos, passamos deste extremo para a completa negação da responsabilidade de educar.
Hoje dizer não a um filho é quase como torturá-lo com crueldade. Limites são para as classes sociais menos favorecidas, para que aprendam a conviver dentro da sua marginalidade, sem ultrapassar os muros da periferia. Disciplina é coisa do exército e repreensão é atitude arbitrária que deve passar longe da estrutura familiar pós-moderna.
Quando os pais defendem o filho sabendo que está errado estão assinando um cheque em branco para a vida. E sabe-se lá com que cifras será descontado. Crianças sem limites serão adolescentes sem limites e adultos sem limites. Hoje estão mordendo coleguinhas de escola, amanhã estarão dirigindo bêbados e sem habilitação e depois de amanhã estarão jogando filhos pela janela.
Educar em uma esfera de confiança e afeto deve ser o melhor caminho. Não o mais fácil, porque envolve uma enorme demanda de pequenos sacrifícios. Envolve fiscalização do conteúdo que estão acessando na internet, saber onde e como vivem os amigos, levar e buscar nos mais diversos programas, participar das reuniões escolares, exigir bom comportamento e atitudes positivas e principalmente muito diálogo. Em algum momento, janelas terão de ser fechadas diante deles, para evitar desastres futuros. Mas quem tem tempo para isso hoje?
Chamem de ultrapassado, arcaico ou moralista, mas ainda acho que algumas coisas da educação antiga deveriam ser resgatadas. Não a rigidez e a falta de diálogo, mas a idéia de que a educação para a vida é uma prerrogativa dos pais e não deve ser delegada ou ignorada. Sou do tempo em que a vinheta de despedida do Jornal Nacional era o anúncio da hora de dormir e agradeço aos meus pais por isso. Não acho que depois deste horário haja mesmo alguma coisa de interesse para as crianças na televisão.
Quando uma mãe toma o recém-nascido nos braços não está esperando que ele se torne um assassino no futuro. Mas esse negócio de acreditar que o destino é quem determina isso é uma das piores desculpas para a falta de empenho em torná-lo algo melhor. Se você está pensando em ter filhos, além do lindo nome dele, borde nas toalhinhas as palavras: confiança, afeto, limites e disciplina. Se você não esquecer delas, ele certamente nem chegará perto das janelas.

8 de março: dia de arrumar o guarda-roupa


Tenho uma amiga que quando tem decisões muito importantes a tomar, arruma o guarda-roupa. Isso mesmo. Coloca abaixo todas as roupas, depois vai dobrando milimetricamente e colocando no lugar. Leva horas e pelo jeito funciona.
Pensando nisso, neste mês que é tão importante para nós mulheres, achei que seria interessante dar essa dica: arrume seu guarda-roupa! Tire tudo lá de dentro, indiscriminadamente, faça a maior bagunça e depois, vá arrumando aos poucos. Você pode se surpreender com o resultado.
A vida passa tão depressa e impomos a nós mesmas uma rotina tão extenuante, que quase não percebemos o quanto deixamos de tomar decisões fundamentais. As coisas vão acontecendo, sem planejamento e entre “sins” irrefletidos e “nãos” imponderados perdemos a capacidade de decidir com clareza e assertivamente.
Se comemoramos esta data hoje, com flores, bombons, cartões, jantares ou mesmo um rápido “feliz dia” é porque alguém, no passado, teve a coragem de tomar uma decisão. E não foi uma decisão simples como o que fazer para o jantar, mas uma decisão dessas que mudam o curso da História.
O Dia Internacional da Mulher foi criado em homenagem a 129 operárias que morreram queimadas em uma ação da polícia para conter uma manifestação em uma fábrica de tecidos. Essas mulheres estavam pedindo a diminuição da jornada de trabalho de 14 para 10 horas por dia e o direito à licença-maternidade. Isso aconteceu em 8 de março de 1857, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Foi uma decisão e tanto, já que naquele tempo as mulheres tinham passado de vaquinhas de presépio a burros de carga. Era difícil encontrar o equilíbrio, como é até hoje, mas alguém teve que decidir que aquilo não estava certo. E pagou caro por isso. Portanto, honre a memória daquelas 129 mulheres e arrume seu guarda-roupa.
Temos que decidir sobre coisas que fazem diferença na vida, como profissão, amor e religião, mas também temos que levar essas coisas adiante e fazer com que sejam reais em todas as esferas da nossa existência. Temos que avaliar constantemente se a profissão escolhida continua nos satisfazendo, se o amor está nos fazendo crescer ao invés de retroceder e se a religião nos torna pessoas melhores.
As decisões importantes são diárias e afetam também as pessoas ao nosso redor. Quando você decide o que coloca na mesa, está influenciando a sua saúde e a dos que dela se servem. Quando liga a televisão para assistir BBB na presença das crianças, está definindo quem serão os exemplos de conduta da sua família. É uma grande responsabilidade, mas é preciso assumi-la, diariamente.
Ao colocar cada peça no lugar, dobrando e ajeitando nos espaços, nas gavetas, nos cabides, avalie as decisões que tem tomado. Reveja seus conceitos e a forma como influencia as pessoas que convivem com você. Quem sabe entre uma camisola e uma calça jeans, você descubra que é hora de começar tudo outra vez.

Nossos ídolos ainda são os mesmos


Em 1976 Elis Regina fez o maior sucesso com uma música composta por Belchior, que até hoje é uma das mais tocadas pelas rádios brasileiras. “Como nossos pais” fala do tempo, das gerações e de como algumas coisas não mudam. Seria a cultura genética ou temos errado na transmissão de valores há muitas gerações?
Na verdade de todas as afirmações da música, a que mais me intriga é que “nossos ídolos ainda são os mesmos”. Entra geração e sai geração e continuamos reverenciando pessoas vazias, de comportamentos duvidosos e influência negativa. E o que é pior: continuamos incutindo nossos ídolos às novas gerações.
As crianças precisam aprender a separar a obra de uma pessoa, de sua vida. Pode-se tranqüilamente, por exemplo, admirar as músicas de Cazuza, sem pretender que ele tenha sido um grande homem, digno de uma estátua. O mesmo serve para Renato Russo, Raul Seixas, Michael Jackson, Bob Marley, a própria Elis Regina, que teve a maior voz brasileira de todos os tempos, mas que morreu de overdose, deixando os filhos pequenos e assim por diante. A fila é grande.
Em nossa geração temos uma grande carência de ídolos. As pessoas admiram e idolatram por motivos cada vez mais indignos. Geisy Arruda virou ídolo por usar um vestido curto. Ganhou música, apliques de cabelo, capas de revista. Bruna Surfistinha ganhou um filme. Pessoas passaram mal na porta do hotel onde Madonna ficou hospedada quando esteve no Brasil. Sarney’s dão nome a praças, ruas, instituições.
Quando deixamos que uma criança aprenda com a televisão quem são os seus ídolos, permitimos que ela crie uma falsa expectativa sobre a vida, sobre a resolução de problemas. Ela passa a reverenciar Ben 10, X-Men, Batman e uma infinidade de personagens inúteis, como se eles pudessem fazer alguma coisa boa, realmente. O pai já nem é mais admirado como antigamente, afinal, ele não atravessa paredes, não tem garras que saem do corpo todo, não destroi o inimigo com os olhos.
Somos parte de uma cultura que cada vez mais cultua a futilidade. Surgem de todos os lados programas de televisão e páginas da internet destinadas a especular a vida das celebridades. Divulgam o que vestiram, com quem saíram, o que comeram no jantar, o que fizeram no fim de semana, o que compraram, com quem falaram. E quem assiste ou acompanha passa a fazer parte de um mundo que não é real. Tecnologicamente possível, virtualmente acessível, mas humanamente pobre.
Prova disso é que atitudes nobres são tão escassas que viram notícia. Vez ou outra aparece por aí, alguém que encontrou um pacote de dinheiro no lixo ou uma mala de pertences importantes num banheiro e devolveu. Deveria merecer destaque? Sim, pela raridade com que acontece, e não, porque é o certo a fazer, o óbvio, o indiscutível.
Pegue seu filho pela mão e leve para pedir autógrafo a alguém que criou 10 filhos sem nunca ter roubado. Mostre a ele um casal de velhinhos de mãos dadas, um pedreiro construindo um complexo viário, alguém que perdoou o assassino do filho, que é feliz em uma cadeira de rodas.
Ensine seu filho a admirar os personagens da História que realmente fizeram alguma coisa importante, que deram a vida por um motivo nobre. Em vez de ficar em casa “contando o vil metal”, ensine-o a reverenciar feitos menos efêmeros, cuja importância será percebida através da eternidade. E quem sabe um dia, você terá composto uma canção bem diferente desta.

Enfim, uma resposta




Passamos a maior parte de nossa existência atormentando os homens com mistérios que estão latentes em cada discussão de relacionamento. A pergunta “o que as mulheres querem, afinal?”, parece estar estampada em neon e piscando, sobre cada testa masculina que se move sobre o universo.
Além desta questão intrigante e altamente decisiva para a prosperidade das relações há outras implícitas e um pouco menos filosóficas, mas que demandam, certamente, alguns minutos de reflexão diária a cada homem que já deixou uma gravata no braço do sofá ou um sapato a alguns centímetros da caixa: (a) por que as mulheres reclamam tanto? (b) o que deixa uma mulher realmente feliz? (c) elas nos querem em casa, fazendo o serviço doméstico, ou no trabalho, provendo o sustento da casa?
Colaboração é o centro de toda a batalha entre os sexos que atravessa os séculos, muda de cenário, mas está sempre ali, de uma forma ou outra. Quando pedimos que as roupas voltem ao seu local de origem, que é o guarda-roupa, após serem utilizadas ou ao cesto de roupa suja, quando for o caso, não estamos pedindo que os homens abandonem a importante tarefa de assistir ao esporte para fazer todo o processo de lavagem da roupa ou organização do guarda-roupa. Estamos apenas pedindo um pouco de colaboração.
Quando chegamos exaustas de um longo dia de trabalho e queremos conversar sobre o colega chato que fala sem parar ou sobre o chefe insensível, não estamos pedindo que os homens abram uma planilha do excel com 1.326 possibilidades de resolução do problema e com dados estatísticos que comprovam a probabilidade de 78% de alguma delas dar certo. Estamos pedindo apenas, um ouvido, um colo, um abraço. Colaboração, resumindo.
Por outro lado, quando saímos para trabalhar, estamos apenas querendo colaborar. Não estamos assumindo a responsabilidade financeira da casa e nem pedindo para sermos chefes de família. Porque aprendemos dolorosamente que nossa projeção no mercado de trabalho não nos destituiu dos afazeres domésticos, apenas acrescentou mais algumas horas a nossa dupla jornada de trabalho.
Obviamente que a realidade é bem diferente. Pelo menos no Brasil, essa tal colaboração está se transformando em vaga lembrança para um terço das mulheres que trabalham fora. Conforme pesquisa divulgada no dia 9 de outubro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 34,9% das mulheres que estão no mercado de trabalho também são chefes de suas famílias. A pesquisa também mostrou que mesmo quando há um homem presente no lar (9,1% dos casos) a mulher é a pessoa de referência da casa.
E se você duvida da pesquisa, dê uma boa olhada para seu filho de 15 anos deitado no sofá da sala. Os homens estão cada vez mais dependentes das mães, que se tornaram o maior referencial de vida dos filhos. Há bem pouco tempo atrás, os filhos homens ligavam para o pai quando seus namoros entravam em crise e quando a vida profissional não ia bem. Hoje, eles ligam para a mãe, sem pestanejar. Quem dera todas as mulheres tivessem a sabedoria da minha cabeleireira Elis, que não faz comentários sobre a nora perto do filho, pois não quer influenciar, já que ela sabe o peso que sua opinião exerce sobre ele.
A resposta então, não poderia ser mais simples. O que as mulheres querem, afinal? Colaboração. O que deixa uma mulher feliz? Um homem colaborando. Por que as mulheres reclamam tanto? Porque falta colaboração. E por fim, se queremos que os homens abandonem o trabalho fora de casa para fazer as tarefas domésticas? Claro que não. Queremos mesmo é só um pouquinho de colaboração!
Ah, só para exemplificar, a pesquisa também indicou que o número de horas semanais dedicado a tarefas domésticas pelas mulheres é de 20, 9 e pelos homens, 9,2. E se alguém conhecer um homem que trabalha tudo isso em casa, emoldure e pindure no meio da sala. Pode valer milhões em leilões de raridades.

Mulheres maduras: quem poderá detê-las?


Fazemos parte de uma sociedade que nada mais é do que um fruto do pensamento ocidental, de que o avanço da idade nos faz piores e de que a perda da juventude é o fim da produtividade e por conseqüência, da utilidade. Vemos isto claramente no abandono dos idosos, na desvalorização do emprego na maturidade, nas campanhas publicitárias, no seio familiar.
Mas isso precisa mudar e pouco a pouco é possível perceber iniciativas tímidas que podem favorecer uma revolução do pensamento popular. Uma pesquisa com mulheres na menopausa, conduzida pela Amerift Brands constatou que as mulheres maduras estão se divertindo muito mais agora do que quando tinham 20 anos. Acredito, porque mulheres de 20 anos têm muito a provar aos outros e as de 50, já não querem provar nada para ninguém.
No Brasil, as mulheres que têm entre 50 e 70 anos somam 15% da população. Segundo o IBGE, em 2025 este número chegará a 21%. Isto quer dizer que não podemos ignorar uma parcela tão significativa da população, fingindo que elas não estão aí, prontas para compartilhar sua experiência de vida, para acrescentar consistência a quem está na casa dos 20 e para continuar produzindo sim, mesmo em uma cultura onde as pessoas se tornam descartáveis à medida que envelhecem.
Tenho uma amiga que fez 50 anos no mês passado. Nunca vi ninguém tão feliz por completar meio século de existência. Acho incrível, já que a maioria das mulheres que conheço, quando chegam nesta idade começam um ritual de autocomiseração que seria engraçado, se não fosse triste. Longas sessões de tratamentos de beleza, plásticas para parecer alguém que não são, terapia para enfrentar o envelhecimento, apego ao passado, ufa! Esta preocupação toda sim deve acrescentar muitas rugas a quem tenta fugir tanto delas.
Assim como existem pessoas que desistem antes dos 30, vemos se multiplicando exemplos de pessoas que voltam a estudar depois dos 50, que se casam de novo, que realizam projetos pós-aposentadoria, que fazem a vida acontecer. Idade acaba se tornando um conceito relativo, quando entendemos a vida como um espaço de tempo que precisa ser muito bem aproveitado.
Precisamos parar de tentar encaixar as pessoas nas engrenagens da máquina capitalista, tornando cada dia mais vulneráveis aqueles que deixam de fazer parte do processo de produção. Toda e qualquer pessoa tem muito valor enquanto estiver viva e até mesmo depois disto, afinal, sua memória será lembrada pelo que fez ou deixou de fazer.
Todas as mulheres maduras parecem possuir um segredo inerente, um mistério. Elas podem ir muito longe quando encontram pelo caminho pessoas que valorizam suas conquistas e que se propõem a desvendar este mistério. Tão longe que ninguém poderia detê-las. Aliás, ninguém, em sã consciência, ia mesmo querer detê-las.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Hollywood e a Realidade


Algumas mulheres têm muita dificuldade de enfrentar a realidade. Isso é fato. Preferimos nossas quimeras, nosso mundo paralelo, nossa zona de conforto, a um tanque de roupa suja ou uma porta na cara. Dói para todo mundo, mas para essas mulheres dói mais, dói quase que fisicamente.
Essas mulheres são aquelas que continuam suspirando por horas depois do final do filme, que criam frestas com os cotovelos na janela, que têm amor à dor e já não sabem como sair dela. Acostumam, quase gostam.
Conheço uma que sofreu tanto com o fim de um relacionamento que estabeleceu uma meta: só vou namorar de novo quando eu, um dia, sem querer e sem planejar, descobrir que estou apaixonada por alguém que tenha se tornado meu melhor amigo e que tenha descoberto a mesma coisa, ao mesmo tempo. Acontece, muito, o tempo todo. Só que em Hollywood, não aqui.
E nos filmes, por mais que demore um pouco e que aconteçam desencontros, tudo acaba bem, com trilha sonora, com paisagens inesquecíveis, com tudo a que um grande amor tem direito. E melhor do que tudo isso é o fato de que no começo você já sabe como será o fim. Altamente previsível e seguro.
Esconder-se atrás de uma tigela de pipoca funciona por algum tempo, porque você está tão isolada que quase ninguém percebe. Só que de vez em quando, o filme acaba e a pipoca esfria e inevitavelmente vai ser preciso levantar e se aventurar em busca de um pouco mais do que um final “água com açúcar”.
E aí, as possibilidades de reescrever uma nova história são inúmeras. Basta ter a mente e o coração abertos e esperar sem estar esperando. Parece confuso, mas é bem simples. Criar expectativas demais nos faz acreditar que qualquer esbarrão na rua é uma mãozinha do destino. E não ter expectativa nenhuma nos deixa à beira de uma cegueira emocional.
Não existe um segredo. O segredo é persistir em enfrentar a realidade tal qual ela se apresenta.
Vamos então à realidade: se a vida fosse um filme, certamente não seria um romance. Teria um pouco de tudo sim, comédia, ação, suspense, drama e até terror. Mas romance completo, difícil.
Seria romance até a primeira TPM, até a primeira toalha molhada sobre a cama, até o primeiro choro noturno do bebê, até a primeira briga de egos. Depois, romance mesmo, de verdade, daqueles em que o amor escorre pela tela, só num sábado à noite chuvoso, em que a locadora fica aberta até mais tarde. Isso porque o futebol é às quartas-feiras. Caso contrário, seria o drama do Ronaldo, o suspense do Muricy...
E que mal há na realidade? O seu príncipe pode não ser encantado e o cavalo dele pode ser um fusca branco, mas se ele está lá quando você realmente precisa, desça das nuvens e venha fazer companhia a todas nós. Valorize o que as pessoas têm de bom e minimize um pouco os defeitos. Dê mais de si do que espera receber e quem sabe, você vai se surpreender com um final que nem mesmo Spielberg seria capaz de criar.

Dizer Dizendo


Eu já tive um blog. Achei interessante, mas cansei e desisti. Hoje a profissão e a vida me levam a compartilhar meus textos de novo. Mas não pretendo fazer um diário virtual, até porque, minha vida é bem mais interessante para mim, do que para os outros. Mas vou postar os textos que escrevo para a revista onde trabalho atualmente, especialmente sobre o universo feminino, que insistem em chamar de complicado. É simples, posso garantir. Bom, eu só quis dizer dizendo e se alguém ler, melhor ainda.