segunda-feira, 20 de junho de 2011

Incompreensível

Faz dias que não escrevo. Descobri que além de enjoar de cheiros e de comidas, grávidas também podem enjoar de tarefas, como escrever, por exemplo. Mas, tudo bem. Um pequeno sacrifício para um grande prêmio!
O fato é que como mulheres passamos a vida escutando coisas sobre o que acontece quando engravidamos. Falam sobre os desejos, os mal-estares, os sentidos aguçados, as primeiras sensações de tudo, a mudança de perspectiva. E, se você é como eu, a maioria destas coisas sempre pareceu um tanto absurda. Exagero.
Mas tenho experimentado essa experiência e cheguei à conclusão de que elas tinham razão em tudo. A sensação de carregar alguém não é apenas estranha e maravilhosa, mas parece, acima de tudo, sobrenatural. É uma espécie de conexão incrível com a realidade, como se antes disso tudo tivesse sido permeado de momentos reais e momentos imaginários.
E explicando assim, pode parecer difícil de entender, mas não é tanto. Conexão com a realidade é a forma mais simples de explicar. Foi fazendo meu primeiro ultrassom que eu cheguei a esta conclusão. A sensação é surreal, mas a vida pareceu mais real do que nunca.
E no meio destes pensamentos, por um momento me ocorreu a seguinte pergunta: como uma mulher consegue carregar alguém dentro de si por nove meses e depois jogar numa lata de lixo, numa sarjeta, num rio? O que antes parecia apenas cruel, hoje parece incompreensível.
A única explicação que me ajuda a ter um vislumbre de resposta é que estas mulheres não têm conexão alguma com a realidade. Por algum motivo, seja qual for, aquela sensação de estar ligada a alguém por um laço que não é apenas imaginário, mas que realmente existe, não acontece para elas. Não justifica, pois há mães que sofrem traumas e problemas e nem por isso abandonam os filhos. Mas ajuda a explicar.
Porque é realmente difícil de entender que alguém escute aquele coraçãozinho disparado bater retumbante, veja aqueles movimentos, como se estivesse acenando e não sinta que sua vida está eternamente ligada àquela pessoa e que, portanto, jogá-lo fora é também lançar mão de uma parte de si. É incompreensível.
É incompreensível também, porque existem centenas de pessoas em cada cidade aguardando em uma interminável fila para adotar uma criança. Ora, mesmo sendo estranhamente absurdo uma mãe não querer o filho, a primeira opção deveria ser dá-lo a alguém que o deseja muito, antes mesmo de conhecê-lo.
Nossa sociedade é ambígua em tantos sentidos que favorecem esse tipo de atitude, que quase não é possível enumerá-los. Apenas para se ter um vislumbre, podemos falar sobre como as campanhas de controle de natalidade são ineficazes, enquanto o apelo midiático ao sexo irresponsável é certeiro.
Se abrir mão dos filhos de forma violenta (como abandonar recém nascidos na calçada) se tornou uma prática comum em nosso País, será que não está na hora de discutir uma política pública que contemple essas pequenas criaturas incapazes de se defender? Essa demora dos governos em tocar no assunto é no mínimo, incompreensível.