terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mulheres Perfeitas

Não sei se você já teve a oportunidade de assistir ao filme “Mulheres Perfeitas”, que tem no elenco algumas figurinhas conhecidas de Hollywood como Nicole Kidman, Matthew Broderick, Glenn Close e Bette Midler. O filme não é novo, mas assisti há pouco e fiquei pensando sobre o enredo improvável, mas intrigante.
O fato é que um casal se muda para uma pequena cidade do interior e aos poucos vai percebendo que as mulheres de lá parecem ter saído recentemente da caixa: corpo perfeito, cabelo de dar inveja, casa impecável, culinária de revista e sorrisos inabaláveis. Sem TPM, sem lágrimas, sem reclamações.
E para resumir, o casal descobre que se tratava de um plano muito bem arquitetado, para transformar as mulheres em robôs que fizessem e agissem apenas de acordo com a vontade de seus maridos. O plano era levado a cabo através da implantação de um chip no cérebro destas esposas, responsável pela execução do software “mulheres perfeitas”.
Gostos à parte, já que o filme ficou meio indeciso entre a comédia e o suspense, pode servir para uma breve reflexão. Basta olharmos para a História, para perceber que mesmo sem chip, muitas gerações de mulheres nasceram programadas para executar apenas uma tarefa durante toda a vida: fazer a vontade dos homens fossem eles maridos, pais, irmãos ou em qualquer outro tipo de relação.
Quando a “farsa” foi descoberta e o “chip” foi retirado, a situação mudou, mas não necessariamente melhorou. Claro que um grande fardo foi retirado das costas de toda uma geração de mulheres, que já nasceram sem a necessidade inerente de pensar apenas com os neurônios dos homens que as cercam, mas ainda existem e cada dia surgem, questões a serem discutidas.
Neste blog tratamos do tema muitas e muitas vezes e a cada dia que passa percebo que não é suficiente. Porque as mulheres continuam querendo ser perfeitas, sob a ótica distorcida da sociedade que trocou o machismo retrógrado dos séculos passados, por um mais moderno e multifacetado, disfarçado de exigência do mercado.
Sim, porque em qualquer camada da sociedade, se uma mulher quiser realmente se igualar a um homem em questões profissionais e de direitos humanos, ela terá de provar que é muito melhor. Ser igual não basta. É pouco, ou quase nada.
Ela terá que provar que é capaz de ser uma profissional amplamente bem sucedida, uma dona de casa hábil e uma mãe exemplar. Em muitos casos, ela terá de aceitar ter dois empregos: um mal remunerado, que é o da profissão e um filantrópico, que é o de casa.
Caso não consiga, será criticada pela falta de cuidado com os filhos, pelo desleixo com a aparência, por dispensar pouca atenção ao marido, pela falta de concentração no trabalho. E você reconhece um tipo assim de longe: é aquela que anda esvoaçante, que esbarra em você no supermercado e não perde tempo pedindo desculpas. É aquela que alega que paga caro, justamente para que o filho seja educado pela escola. É aquela que precisa a todo tempo, ser lembrada de respirar de vez em quando.
Você também reconhece uma figura destas no metrô, dormindo em pé, apesar do barulho e do sacolejo. Que vive cheia de culpa pelo que não faz. Que muitas vezes se pega pensando: ‘quem foi que inventou esse raio de igualdade dos sexos?’.
Um novo ano irá começar e com ele, uma nova oportunidade de fazer diferente, de pensar e de agir diferente. De entender que perfeição é fazer o máximo que podemos com aquilo que temos, aceitando as limitações e sendo o que somos, da forma mais verdadeira possível.
Mulheres perfeitas absolutamente não existem aqui, então lutar para ser uma delas, sob qualquer aspecto é a maior das tolices que podemos cometer. Afinal, como diz a protagonista Joanna ao final do filme: “não se trata de perfeição. Perfeito, não funciona”.