terça-feira, 11 de maio de 2010

Nossos ídolos ainda são os mesmos


Em 1976 Elis Regina fez o maior sucesso com uma música composta por Belchior, que até hoje é uma das mais tocadas pelas rádios brasileiras. “Como nossos pais” fala do tempo, das gerações e de como algumas coisas não mudam. Seria a cultura genética ou temos errado na transmissão de valores há muitas gerações?
Na verdade de todas as afirmações da música, a que mais me intriga é que “nossos ídolos ainda são os mesmos”. Entra geração e sai geração e continuamos reverenciando pessoas vazias, de comportamentos duvidosos e influência negativa. E o que é pior: continuamos incutindo nossos ídolos às novas gerações.
As crianças precisam aprender a separar a obra de uma pessoa, de sua vida. Pode-se tranqüilamente, por exemplo, admirar as músicas de Cazuza, sem pretender que ele tenha sido um grande homem, digno de uma estátua. O mesmo serve para Renato Russo, Raul Seixas, Michael Jackson, Bob Marley, a própria Elis Regina, que teve a maior voz brasileira de todos os tempos, mas que morreu de overdose, deixando os filhos pequenos e assim por diante. A fila é grande.
Em nossa geração temos uma grande carência de ídolos. As pessoas admiram e idolatram por motivos cada vez mais indignos. Geisy Arruda virou ídolo por usar um vestido curto. Ganhou música, apliques de cabelo, capas de revista. Bruna Surfistinha ganhou um filme. Pessoas passaram mal na porta do hotel onde Madonna ficou hospedada quando esteve no Brasil. Sarney’s dão nome a praças, ruas, instituições.
Quando deixamos que uma criança aprenda com a televisão quem são os seus ídolos, permitimos que ela crie uma falsa expectativa sobre a vida, sobre a resolução de problemas. Ela passa a reverenciar Ben 10, X-Men, Batman e uma infinidade de personagens inúteis, como se eles pudessem fazer alguma coisa boa, realmente. O pai já nem é mais admirado como antigamente, afinal, ele não atravessa paredes, não tem garras que saem do corpo todo, não destroi o inimigo com os olhos.
Somos parte de uma cultura que cada vez mais cultua a futilidade. Surgem de todos os lados programas de televisão e páginas da internet destinadas a especular a vida das celebridades. Divulgam o que vestiram, com quem saíram, o que comeram no jantar, o que fizeram no fim de semana, o que compraram, com quem falaram. E quem assiste ou acompanha passa a fazer parte de um mundo que não é real. Tecnologicamente possível, virtualmente acessível, mas humanamente pobre.
Prova disso é que atitudes nobres são tão escassas que viram notícia. Vez ou outra aparece por aí, alguém que encontrou um pacote de dinheiro no lixo ou uma mala de pertences importantes num banheiro e devolveu. Deveria merecer destaque? Sim, pela raridade com que acontece, e não, porque é o certo a fazer, o óbvio, o indiscutível.
Pegue seu filho pela mão e leve para pedir autógrafo a alguém que criou 10 filhos sem nunca ter roubado. Mostre a ele um casal de velhinhos de mãos dadas, um pedreiro construindo um complexo viário, alguém que perdoou o assassino do filho, que é feliz em uma cadeira de rodas.
Ensine seu filho a admirar os personagens da História que realmente fizeram alguma coisa importante, que deram a vida por um motivo nobre. Em vez de ficar em casa “contando o vil metal”, ensine-o a reverenciar feitos menos efêmeros, cuja importância será percebida através da eternidade. E quem sabe um dia, você terá composto uma canção bem diferente desta.

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