quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Para as fãs da saga Crepúsculo


Estive pensando sobre o fascínio causado pela saga Crepúsculo não só entre adolescentes, que é o suposto público-alvo dos filmes, mas entre mulheres e até homens em geral. Cada um tem seus motivos, mas suspeito que nada tem a ver com vampiros, lobisomens e coisas sobrenaturais.
E minha suspeita cresce quando vejo que entre os grupos enlouquecidos de fãs que se postam nas filas do cinema ou que colecionam tudo o que se refere à saga, estão mães de família, senhoras mesmo, segurando as pontas de seus cabelos e chorando à simples menção dos nomes de Robert Pattinson, Taylor Lautner e Kristen Stewart.
Tem muito de uma exagerada admiração a pessoas que elas nem se quer conhecem, mas acho que tem muito mais a ver com o romance. É, pode parecer um pouco clichê classificar assim, mas é um tipo de romance vicário, porque não há no mundo quem não deseje ser amada como Bella Swan, por quem os personagens estão dispostos a morrer o tempo todo e vice-versa.
E aquelas senhoras, que estão lá nas filas gritando, estão clamando por um pouco disso. Estão desejando que seus maridos ou companheiros sejam tão altruístas como o lobo que ama e não é devidamente correspondido ou como o vampiro que não aceita viver em um mundo onde “ela” não esteja. E então temos um enorme problema porque seria mais fácil acreditar que existem vampiros e lobisomens do que crer que existem Edwards ou Jacobs – e vai ser preciso que assista ao filme para entender isso.
Não estou recomendando, principalmente para as meninas, porque acho definitivamente que não são filmes para adolescentes. Há muita tensão sexual entre os personagens, além de fantasias maníaco-depressivas que podem influenciar essa classe de pessoas, que já enfrenta os desafios próprios da idade. Mas se não tiver outro jeito, acho que o melhor é mesmo assistir com os filhos e falar sobre essas coisas todas.
O fato é que os personagens principais estão o tempo todo se sacrificando uns pelos outros, abrindo mão, cedendo, correndo perigo e se doando completamente, sem reservas. E você não vê isso na vida real, pelo menos não como a regra. E então essa obsessão me faz crer que tudo não passa de uma fantasia feminina traduzida para os livros de Stephanie Mayer, que viraram uma série de filmes altamente lucrativos. É o sonho feminino personificado no amor entre uma menina comum, um vampiro sedutor e um lobo apaixonado.
Afinal, não sejamos hipócritas. Que mulher nunca sonhou com um homem que seja capaz de fazer absolutamente tudo por ela? Algumas de nós seriam capazes de se contentar com um que simplesmente fizesse metade disso. Certo, 30% então. Um que levantasse o sofá para você varrer embaixo e que fosse romântico o bastante para preparar um jantar ou abrir mão do controle remoto por algumas horas. Uau! Isso é tão Edward! Ou então um que dissesse belas palavras sem querer nada em troca, ou que parasse tudo para ouvir você por cinco minutos ininterruptos – tão, tão Jacob.
Vamos lá garotas, acordem! Isso não vai acontecer. Você vai encontrar em sua vida, muitos homens dispostos a algumas destas coisas, porém, não o tempo todo, como nos filmes. Você nunca vai ter um “imprinting” com uma pessoa que você não conhece, porque não é possível amar o conjunto de uma pessoa – suas qualidades e defeitos – sem conviver com ela o tempo mínimo, que seja. Se bem que quando conheci o meu marido, imediatamente, de alguma forma que não sei explicar, eu sabia que era “ele”. Então talvez essa parte tenha um pouquinho de realidade, confesso.
De qualquer maneira, o melhor a fazer é deixar que os filmes cumpram sua real função em nossa existência – a de entreter - e trabalhar da melhor maneira possível com aquilo que temos em mãos. Muita gente deixa de viver o amor verdadeiro, o real, o que é possível e palpável porque continua procurando um Edward ou um Jacob em um Maik Newton ou em um Eric.
E para quem não viu os filmes e está entendendo pouco do que leu, o que se pode dizer em resumo é: saia agora desse sofá que já tem as suas formas corporais desenhadas e olhe para seus amigos, vizinhos e colegas de trabalho (solteiros) com um pouco mais de condescendência. Quem sabe se o lobo apaixonado ou o vampiro devotado não está lá escondido, esperando ser descoberto?

Em construção

Todas as tragédias climáticas que atingiram o sudeste do Brasil e de forma mais traumática a região serrana do Rio de Janeiro me fizeram pensar. Pensar nas vítimas, nos que se foram, nos que perderam tudo, nos que perderam todos. Mas também naqueles que vão reconstruir. Naqueles que terão que começar do zero, que se obrigarão a ter forças para colocar tudo em pé outra vez.
Fico imaginando se vão querer colocar alicerces no mesmo lugar, se terão coragem de repetir o mesmo erro, não querendo julgar de quem é a culpa ou dividi-la em partes iguais entre governo e população. Apenas realmente fico conjeturando se vão querer as mesmas paredes, tudo exatamente igual ou se o que querem agora é transformar, esquecer e fazer tudo novo e diferente.
E então fico me questionando se é isso que fazemos diariamente. Nossa vida é toda planejada e vamos construindo paredes e escadas e varandas que muitas e muitas vezes se desfazem e viram poeira pelo ar. Construímos um quarto, pintamos, decoramos, penduramos retratos, enchemos vasos com lindas flores, mas de repente acontece alguma coisa inesperada e dolorosa e transforma nosso castelo em um amontoado de escombros.
É aí que acontece o dia seguinte. Muita lama, muita sujeira, muitos cacos para juntar, muitas feridas para curar. Mas ele está lá e temos que pensar em como colocar tudo no lugar e nos refazer, causando o menor dano possível. E é nesta hora que devemos planejar o que e como fazer novamente. Se vamos querer as mesmas cores, os mesmos móveis. Se vamos continuar pelo mesmo caminho que nos levou ao caos ou se é hora de mudar a planta e fazer um novo projeto.
Como mulheres temos ainda um “talento” especial de construir castelos nas nuvens, onde qualquer vento pode derrubar. Temos mais expectativas, esperamos mais dos outros, somos mais sensíveis às quedas. E ao mesmo tempo somos fortes o suficiente para carregar uma carga de tijolos e começar de novo. Talvez seja por isso que os homens tenham tanta dificuldade em nos entender. Eles apenas são ou não são fortes, ao passo que nós, respeitando-se as devidas exceções, somos frágeis como a pena e resilientes como o aço.
Em certo momento da vida percebemos então, que nossas escolhas já nos levam a paredes mais sólidas. Já conseguimos entender a dinâmica da construção da nossa existência e a decisão de que materiais usar se torna um pouco mais fácil. Aprendemos a selecionar os amigos, a cultivar a família, a admirar as pessoas certas, a administrar melhor as crises. E nem por isso, a construção estará terminada.
Nossa vida estará sempre em construção. Nunca chegará o momento da entrega das chaves. Sempre haverá o que resolver, sempre haverá um reparo, uma reforma e para muitos a reconstrução será constante. E isso não precisa ser ruim ou doloroso como é no caso de uma enchente. A construção diária de quem somos é um processo que embora não seja fácil, não precisa ser temido. O material de que somos feitos é bastante maleável e pode se moldar a novas situações, felizmente.