terça-feira, 27 de julho de 2010

Enquanto isso, na sala de justiça...

Quando vejo um projeto de lei como o da “palmada” sendo amplamente discutido tanto na mídia, quanto fora dela e em qualquer esfera da sociedade, logo me pergunto: o que os políticos estão aprontando desta vez? Para mim, um projeto como este não passa de uma cortina de fumaça, para encobrir alguma coisa mais séria que está para ser votada e sobre a qual se espera pouca divulgação.
Sim, porque dizer para os pais como eles devem educar os filhos está totalmente fora da rede de atuação do governo. Ou pelo menos, deveria estar. Isso me faz lembrar a Liga da Justiça, um antigo desenho infantil cujos personagens eram super-heróis que se reuniam na sala de justiça para resolver os problemas do mundo – desde que o mundo estivesse em Detroit. Muito barulho, muito espetáculo e nenhum resultado, já que aplicar uma lei sem critério e fiscalização, não resolve todos os problemas do mundo.
Isso não quer dizer que sou a favor da surra como forma de educação. Conheço pessoas que foram educadas sem uma única palmada ou puxão de orelha e que se tornaram ótimos pais, cidadãos, seres humanos, enfim. Mas também conheço outros que foram corrigidos com palmadas e não são piores por isso. Todos os outros carregam algum tipo de sequela e então, para mim, tudo está resolvido: a resposta está no equilíbrio.
Uma pessoa que espanca uma criança é exponencialmente diferente daquela que, após tentar todos os recursos possíveis, chama o filho para uma conversa e explica porque ele vai levar algumas palmadas. Não dá para jogar os dois no mesmo balaio de gatos. E para o primeiro caso já existem leis. Espancar, torturar, machucar e humilhar uma criança é crime. Discipliná-la dentro de um limite aceitável e razoável de castigo é um ato de amor.
Cada família deve ser responsável por discutir e criar formas de disciplina. E a surra certamente não deve estar inclusa entre as opções. É perfeitamente possível educar uma criança sem ela. Porém, há centenas de fatores a serem considerados e cada caso deve ser analisado, antes de se admitir que exista uma lei proibindo os pais de disciplinarem os filhos com palmadas. As crianças precisam é que as leis vigentes sejam cumpridas e de proteção contra o abuso e a violência. Este projeto de lei não tem absolutamente nada a ver com isso.
Os instrumentos legais para fazer valer a letra da lei é que estão obsoletos. A polícia é que está defasada e perdida. As verbas destinadas à proteção e amparo destas crianças vítimas de suas famílias é que são escassas. De leis estamos fartos, precisamos é de justiça.
A sociedade está completamente confusa sobre como educar as crianças na era pós-moderna. Os professores não podem mais exercer qualquer tipo de disciplina sobre os alunos. São ameaçados diariamente pela marginalidade que alcançou as salas de aula das periferias ou pela impunidade que ronda as escolas das classes mais altas. Mas estão de mãos amarradas, sob pena de perderem seus empregos ou serem processados.
Da mesma maneira, os pais perderam a capacidade de julgar a melhor maneira de impor disciplina aos filhos. Encaram o não como “neurotizador” e simplesmente o aposentaram. É melhor não contrariar as crianças, elas podem ficar estressadas e desenvolver alguma síndrome - explicam. O que para mim nada mais é do que uma desculpa para seguirem suas vidas sem se incomodar com o que os filhos andam fazendo por aí.
Enquanto nossos políticos perdem tempo e gastam nosso precioso dinheiro discutindo um projeto sem fundamento como este, aproximadamente 100 mil crianças morrem a cada ano em nosso País, vítimas da violência. Se aprovada, a lei poderá mudar isso? Certamente não. O criminoso que espanca uma criança até a morte é um sociopata que se considera acima da lei. Não podemos confundi-lo com pais amorosos, tentando impedir que seus filhos sejam más pessoas futuramente, por falta de disciplina.
O projeto tem um bonito enredo, um discurso emocionante e uma capacidade incrível de mobilizar a imprensa em torno do assunto. Mas é totalmente inócuo, pelo menos para o fim a que se destina. Então, o que será que está acontecendo na sala de justiça?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Estranha evolução


Fico perplexa quando ouço por aí, nos meios acadêmicos, midiáticos e populares, que o homem está evoluindo. Não só pela falta de provas cabais, nem pela arrogância de algumas teorias sem fundamento, mas pelo simples fato de que é só olhar para o homem, para comprovar que na verdade, ele está involuindo.
Os anos passam, os séculos transcorrem e quanto mais a ciência se multiplica, mais miserável o homem se torna. Descobrem-se dezenas de curas e centenas de novas doenças. Criam-se avanços tecnológicos e utilizam-se muitos deles para fins inglórios. A maioria da população mundial trabalha para sustentar a minoria que desfruta. E o homem é capaz de matar por motivos cada vez mais torpes. Onde está a evolução disso tudo?
A expansão do conhecimento é inegável e também a superação tecnológica que a humanidade protagoniza diariamente. Só que isto não tem tornado o homem melhor, mais apto para o convívio, mais dado às relações e mais preocupado com as questões sociais. Pelo contrário: na mesma medida em que o mundo melhora tecnologicamente, o ser humano piora.
Sempre houve violência e discórdia. Isso não é novidade por aqui desde que o mundo é mundo. O que mudou é que a violência é cada dia mais gratuita e cruel e sua exposição é tão exagerada, que está deixando de nos sensibilizar. Nem os filmes mais elaborados, com detalhes minuciosos quanto aos enredos de violência e morte conseguem se equiparar ao que acontece aqui na vida real.
A barbárie dos últimos acontecimentos no Brasil nos deixa perplexos, mas precisa mesmo é nos deixar atentos. Homens que matam suas companheiras, amante que manda esquartejar a mãe de seu filho, pais que têm filhos com as próprias filhas, mulheres que abandonam filhos recém nascidos para morrer, adolescentes de famílias ricas que estupram meninas: tudo isso não deve gerar histeria coletiva, mas deve acender a lâmpada da nossa sentinela.
A sentinela é aquele aviso que deveríamos ter diante das situações adversas. Coisas como mude sua atitude, se afaste desta pessoa, adote outro comportamento, saia desta rota são mensagens que recebemos todos os dias. E com o tempo vamos deixando de ouvir. Vamos deixando de perceber. Vamos perdendo a capacidade de julgar se uma situação oferece risco ou não.
Se a sua sentinela não está funcionando como deveria, faça uma lista e cole na geladeira. Como vimos no caso recente do goleiro Bruno e sua amante Eliza, a polícia nem sempre vai proteger você. Então é você quem deve fazê-lo. Anexe à sua lista, pequenos lembretes do tipo: beber e dirigir causa mortes; sexo fora do contexto certo causa sofrimento; dizer sim a tudo que os filhos querem causa problemas futuros; andar armado é perigoso; sair com estranhos é fria; usar drogas mata; não fiscalizar o que os filhos fazem na internet é péssimo; não conhecer os amigos deles é um erro fatal; usar o corpo para obter vantagens financeiras é arriscado. E a lista segue.
Precisamos proteger as nossas famílias, fechar as portas para as situações de risco, abrir bem os olhos para ver o perigo que nos rodeia. Se o homem estivesse mesmo evoluindo, nada disso seria necessário.