quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O que tem por trás do cara perfeito?

Estamos acostumados a ouvir histórias tristes sobre como mulheres têm sido vítimas de bandidos que conheceram através da internet. Seguidamente aparece na mídia a notícia de uma mulher que foi assassinada, depois de ter conhecido o “namorado virtual”. Na maioria esmagadora dos casos, o cara finge ser alguém que não é para atrair a vítima. E ela, por um sem número de razões, se deixa enganar e escolhe um caminho cujo final é a morte certa.
Essa, em última instância é a pior situação quando, por detrás daquele cara, existe “outro cara”. Mas existe uma situação menos dramática e terminal, que é ainda mais corriqueira e que rende muito mais histórias que sequer são contadas, porque de tão comuns, chegam a ser banais. É a do cara que finge ser outro cara, apenas pelo prazer de conquistar a mulher, objeto de seu desejo egoísta.
Esse “cara” é aquele que todas nós conhecemos muito bem e que vez ou outra cruza nosso caminho. Ele chega de repente, no meio de uma solidão aguda ou durante uma tempestade emocional. Estuda nossos movimentos, pensamentos e sonhos e se molda exatamente ao que estamos precisando. Analisa nosso perfil e se encaixa perfeitamente nele, sem deixar sombra de dúvida de que é “o cara” certo para nós.
Esse indivíduo é aquele que abre a porta do carro, quando já não acreditamos mais que exista um homem assim. É aquele que lava nossa louça, para nos poupar as unhas feitas. Que nos chama para um passeio em uma noite estrelada e dá nosso nome a uma estrela. É aquele que discursa sobre um futuro promissor e que faz parecer que tudo quanto toca vira ouro. Que nos mima com pequenos gestos, telefonemas inesperados, declarações não convencionais, promessas regadas a jantares e manjares. Ele é tão perfeito que você começa a duvidar de que ele seria capaz de amenidades humanas, como flatulências e hesitações!
Há algo nesse tipo de cara que é tão cruel quanto aquele que assassina suas vítimas. É que eles não dão às mulheres que designam para ludibriar, a chance de escolher de olhos abertos. Elas optam por um homem, por tudo de bom que ele tem a oferecer e quando conseguem distinguir claramente o erro, às vezes é tarde demais.
Para essas mulheres a dica é simples: pare de procurar o homem ideal, ele não existe. Você precisa eleger uma lista de qualidades que considera importantes, ciente de que não encontrará todas em um homem só e trabalhar suas expectativas, para não esperar demais e nem se contentar com pouco. E por favor, inclua nessa lista, valores que não variem de acordo com a circunstância. O que passar disso é ilusão. É malandro querendo se dar bem em cima da sua carência, da sua boa vontade, da sua mania de sempre achar que o próximo sapo é de fato, o príncipe.
Acorda amiga! O carro pode ser roubado, o perfume pode ser falsificado, os dentes branquinhos podem ser clareamento, as mãos lisinhas podem indicar preguiça, o bom humor constante pode ser efeito do ansiolítico e as palavras bonitas podem vir de um livro que você ainda não leu. A regra áurea é: se o cara parece perfeito demais, desconfie sempre!
E para você homem, que nada mais é do que lobo em pele de cordeiro, o recado é um só: nós mulheres temos sexto sentido. Caímos uma vez, duas e até três. Mas uma hora a gente aprende a identificar suas reais intenções e a nos proteger das suas investidas. Você pode conseguir enganar as pessoas por um tempo, mas em algum momento sua máscara vai cair e certamente terá sido derrubada por uma mulher.
O meu desejo mais profundo às minhas poucas e fiéis leitoras e aos meus leitores de sensibilidade aguçada é que sejam sinceros em seus relacionamentos, não importa quanto isso custe.  Quando conhecerem alguém especial, deixem essa pessoa saber em que barco está entrando. Digam a ela exatamente onde está pisando e os riscos que corre e avise que tudo o que você pode oferecer é o seu mais genuíno desejo de não decepcioná-la ou decepcioná-lo.
Conte sobre seus defeitos, manias, mancadas e sobre como você nunca estende a toalha de banho ou recolhe as roupas que espalhou. Pode não ser encantador, mas definitivamente, se ela se apaixonar por quem você é de verdade, a chance de ser duradouro é muito maior. E quando vocês brigarem, você sempre poderá dizer: eu avisei! É ou não é tentador?

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Meu protesto particular

Este blog tem mais ou menos três anos de existência e nunca me senti tão estarrecida diante de uma página em branco, como desta vez. Não é que me faltem palavras, é que elas estão saindo dolorosamente. Talvez pela primeira vez em quase dez anos de jornalismo, sinto dor ao escrever e por isso acho difícil saber por onde começar.
Estava viajando quando a turista norte-americana foi estuprada por três homens em uma van, no Rio de Janeiro. Você deve ter ouvido bastante essa história e deve ter acompanhado a todos os noticiários e a repercussão internacional, mas eu estava em um lugar onde não havia internet, sinal de celular e onde não me interessava ligar a televisão. Então descobri tardiamente essa atrocidade. E quando voltei a assistir telejornais, eles simplesmente não falavam mais sobre isso. O assunto se perdeu na onda gigantesca de protestos que cobriu o País nos últimos dias.
E o jornalismo é assim mesmo, rápido, factual, efêmero. Mas para mim, como mulher, como mãe, como cidadã, essa notícia não passou e não passará nunca. Já chorei por essa moça muitas vezes e já pedi a Deus que encontre um meio de livrá-la dessa dor. Não sei qual será, mas sei que Ele pode fazê-lo.
De qualquer forma, continuo afirmando que esse assunto não deve ser esquecido. Precisa ter uma bandeira em todos esses protestos que estamos acompanhando em tempo real, que lembre a tragédia dessa moça e do seu namorado, que também foi uma vítima de abuso, de certa forma,  além de violência e roubo. Não podemos esquecer, não podemos deixar passar. Não podemos simplesmente seguir a vida como se em algum lugar do mundo não houvesse uma moça que foi estuprada oito vezes por três monstros diante do namorado imobilizado, aqui no Brasil. E isto aconteceu na “cidade maravilhosa”, sede das próximas Olimpíadas e uma das cidades-sede da Copa do Mundo. Não temos o direito de esquecer isso, jamais.
A sociedade pós-moderna se considera altamente evoluída, puramente racional. Mas o que se vê cotidianamente é uma selva de homens cada vez mais primitivos. Uma “involução” rápida e impossível de frear. Com tanta oferta de sexo pago ou gratuito como se pode encontrar por aí, por que o número de vítimas de estupro só aumenta? Não, os homens não estão evoluindo. Eles estão dando vasão a seus instintos mais selvagens. Nunca na história do mundo, os homens foram tão boçais quanto são agora.
Uma notícia publicada pelo jornal O Globo, no dia 20 de janeiro deste ano destaca que nos últimos cinco anos houve um aumento de 157% no número de registros de estupros. Somente no Rio de Janeiro são 16 casos denunciados por dia. Aparecida Gonçalves, secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, na mesma reportagem afirmou que “isso mostra o comportamento machista da nossa sociedade, que autoriza que homens se apropriem do corpo da mulher. É como se o homem não pudesse ouvir o não”. Bingo, Aparecida! Há homens, e infelizmente são muitos, que não sabem ouvir “não”.
Nós temos uma mulher na presidência e em grande parte das chefias mais importantes do Brasil, inclusive no setor da segurança pública. E mesmo assim, pouco se tem feito pela questão. É inaceitável que um País que se julga em pleno desenvolvimento, ainda permita que suas cidadãs e até mesmo as turistas que o visitam sejam tratadas como o parque de diversões da bandidagem. Quando é que isso vai acabar?
A notícia me deixou chocada em tantos níveis, que fica difícil conseguir explicar o tamanho da indignação. Fiquei envergonhada de viver em um País que se considera rico o suficiente para construir ou reformar estádios que serão eternos elefantes brancos, mas que não tem capacidade de defender suas mulheres e proteger suas turistas. Não é questão de discutir se a Copa do Mundo vai ser boa ou não para o País. A questão é que não temos a mínima condição de sediar este evento e mesmo assim teremos de engoli-lo. Se eu fosse turista jamais viria para cá, depois do que aconteceu com a norte-americana e do que acontece com uma brasileira a cada 12 segundos, conforme o jornal O Dia.
A igualdade feminina aconteceu apenas em setores onde isso não incomoda demais aos homens. Porque no campo sexual, a dominação masculina ainda é uma dura realidade. E os números alarmantes dos casos de estupros no País demonstram isso. Existe um número crescente de homens dispostos a conseguir pela força, aquilo que são incapazes de conquistar pelo mérito. Lamentável demais.
Assistindo ao depoimento da colega jornalista que recebeu um tiro de bala de borracha, de um policial em São Paulo, enquanto cobria os protestos, fiquei pensando no quanto existem homens covardes em nosso País. Ela disse que jamais imaginava que ele fosse atirar, por ela ser mulher e não estar representando perigo. Se eu pudesse dizer alguma coisa a ela, seria: “amiga, ele atirou justamente porque você é mulher!”.  Atrás de uma farda, com uma arma na mão e sem se sentir ameaçado é muito fácil ser machão. O mesmo serve para esses monstros estupradores: é fácil ser viril segurando um revólver e subjugando a vítima. Difícil mesmo é ser homem de verdade e merecer a disponibilidade sexual de uma companheira.
Meu protesto particular não é pelos R$0,20. É pelas minhas leitoras, pela minha filha, pela minha mãe, irmã, avó, tias, primas, amigas, vizinhas, conterrâneas. Não tem ninguém, de nenhum dos três poderes, olhando por nós. O que mais precisa acontecer para que este País tenha leis mais severas para o estupro, como a castração química, por exemplo? Sinceramente, tenho medo dessa resposta.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A paixão é uma droga?


Outro dia uma amiga me questionou: “por que você não escreve mais sobre o amor?”. E ela não quis dizer mais, no sentido de quantidade, mas no sentido de que faz algum tempo que não falo sobre isso. Respondi: “acho o amor um assunto delicado”. Então vou falar um pouco sobre a paixão, que é menos complexa, mas não menos importante.

Tenho outra amiga, esta de longa data, que não consegue emplacar um relacionamento. Namora, namora, namora, mas quando a coisa vai ficando séria, o relacionamento não dá certo. Já disse para ela se tratar. Ela sofre de um mal muito comum, quase tão comum como se tornou em nossos dias, o uso de drogas: ela é viciada em paixão! Os relacionamentos dela duram enquanto dura o efeito entorpecente da paixão. Quando a fissura acaba, ela vai em busca de mais uma dose. E isso é trágico.
A paixão é responsável por aqueles calafrios todos que a gente sente, pelas noites mal dormidas, pelos sonhos de olhos abertos, pelos sorrisos sem motivo aparente, pelas horas que se perde em frente ao guarda-roupa, escolhendo alguma coisa para vestir num encontro. E por si só, isso não é ruim. Movimenta a vida, motiva a mudança, faz bem para o corpo e para a mente. O problema é quando não passa disso, quando não se avança para a próxima etapa.
O renomado psiquiatra Cesar Vasconcellos de Souza, no artigo “A emoção não é o amor”, diz que “a paixão emocional esconde da pessoa as dificuldades que ela tem, porque mantém o indivíduo num êxtase, semelhante ao efeito de uma droga. Naquela hora é tudo ‘paz e amor’. Quando acaba o efeito fica cinza, como um dia nublado. Então, é o momento de se lidar com a realidade, a dor, a limitação, a frustração, a necessidade de mudança interior que a droga e a paixão só prometem, mas não fazem”. Forte não?
Isso não quer dizer que a paixão seja ruim. Ela é necessária. Sem ela não há o encantamento que aproxima as pessoas. Seria mais fácil se a gente pudesse escolher num catálogo, alguém com as características que procuramos, mas, seria tão belo quanto se apaixonar sem razão óbvia? A paixão nos faz admirar a pessoa, com uma admiração que precisa ser sempre recordada, depois que ela passar, para que a gente nunca se esqueça de por que se apaixonou.
A paixão em si não é ruim, o que não dá para fazer é querer viver de paixão. É querer basear uma escolha tão importante, quanto a de um casamento, por exemplo, num sentimento tão turbulento quanto a paixão.  Em algum momento é preciso decidir amar e levar esta decisão adiante, mesmo quando as coisas vão mal, mesmo quando a pessoa tem defeitos, mesmo quando o barco parece estar afundando. A paixão não dá conta disso tudo, mas o amor verdadeiro, este dá sim.
E os casais felizes, aqueles que envelhecem juntos e que a gente acha tão lindo ver de mãos dadas por aí, são aqueles que decidiram continuar apaixonados pela pessoa que escolheram amar. Provavelmente, não se vai mais morrer de palpitação ou bambear as pernas, depois de uns 30 ou 40 anos de casados, mas nos pequenos gestos dá para incluir doses homeopáticas de paixão, que serão indispensáveis para tornar o relacionamento, além de duradouro, feliz.
Então, se a paixão é uma droga da qual não podemos fugir, que sejamos sábios para administrá-la de maneira consciente. Para utilizá-la a nosso favor. Para reduzirmos as doses de maneira paulatina e assim, termos a chance de ver claramente, quem estamos decidindo amar. Que a paixão nos motive a conhecer as pessoas verdadeiramente, além do que elas aparentam ser ou do que podemos sentir. Porque a real beleza das pessoas, aquela que é verdadeira e que importa mesmo, só se consegue ver de olhos bem abertos.


terça-feira, 16 de abril de 2013

Quem me representa?


Quando vejo na mídia por aí, mulheres que se sobressaem pela superexposição do corpo, ou por um comportamento que, embora seja aceitável pela sociedade atual, não é digno de ser imitado, imagino que elas não têm a consciência de que estão representando uma categoria. Porque quando você vê uma amostra dessas na mídia, acaba por imaginar que isso é, de fato, uma fatia do bolo todo. Então se eu pudesse dar um recado a elas seria: pare! Você não está me representando com dignidade.
Quem me representa são as 18,4%, que segundo os dados da Síntese de Indicadores Sociais do último censo do IBGE, estão chefiando as famílias brasileiras com filhos. Porque elas não têm tempo para perder com degradação moral. Precisam colocar comida na mesa. Em 2001 esse número era de 3,4%. Ou seja, em 10 anos aumentou quatro vezes, porque enquanto muitas celebridades instantâneas surgiram e desapareceram, assim como a sua beleza montada, outra parcela da população estava fazendo malabarismo para cuidar de uma casa e sustentá-la, ao mesmo tempo.
Mas chegamos num ponto tão crítico, que soa moralista condenar a exposição do corpo, o esmaecimento dos valores, a proteção da família. Alcançamos um patamar como sociedade democrática, que nos permite expressar livremente nossa opinião, desde que ela não confronte o pensamento de quem além de liberdade de expressão, tem acesso à propagação de suas ideias.
O espaço virtual criou um sem número de filósofos de plantão, formadores de opinião, que defendem ferozmente suas posições a respeito dos mais variados assuntos. Eles esquecem de que fundamentalista não é só quem possui uma opinião diferente da deles e sim, todo aquele que se posiciona radicalmente, colocando suas ideias acima do respeito e valorização da vida. E aí surgem antagonismos tão gritantes em nossa sociedade, que às vezes chego a duvidar de que ainda estamos falando de seres pensantes.
Um exemplo disto são as caricaturas que as novelas globais fazem dos crentes. Eu sou cristã, mas as personagens cristãs das novelas da Globo também não me representam. Elas são imbecilizadas, culturalmente pobres, beiram o ridículo e são quase sempre representadas como se tivessem algum tipo de déficit intelectual. Quer dizer: preconceito só é detestável se for racial, sexual ou social. Se for religioso, tudo bem.
O que as pessoas precisam entender, de uma vez por todas é que ter uma opinião diferente, não significa que você não tem respeito pela pessoa que discorda de você. Eu posso não gostar de gatos, por exemplo. Mas isso não me dá o direito de envenená-los. Eu posso não concordar com a forma como uma amiga cria os filhos. Isso não me dá o direito de desautorizá-la na frente deles. Eu posso não concordar com a opção sexual de uma pessoa, sem, no entanto desrespeitá-la, porque acima de qualquer coisa está o direito que ela tem de escolher e o fato de ser um ser humano igual a mim. Tenho vários amigos homossexuais, dos quais gosto muito. Eles sabem o que penso a respeito e nem por isso deixamos de ser amigos. Jamais seria capaz de discriminá-los, pois não tenho esse direito.
O mesmo se aplica às pessoas religiosas. Eu posso discordar das crenças de alguém, mas se eu ridicularizar uma pessoa por aquilo que ela acredita, então não posso viver carregando uma enorme bandeira contra homofóbicos, racistas e pessoas que fomentam a desigualdade social: sou igual a eles. Só o que muda é a embalagem do meu preconceito, o conteúdo é igual.
E mesmo correndo o risco de parecer moralista, continuo defendendo que a mulher precisa se sobressair pelas suas qualidades morais e não pelos atributos físicos. Que as curvas do cérebro são mais belas do que as do corpo e que aquilo que se conquista unicamente pela beleza, vai embora tão rápido quanto chegou. Graças à sociedade democrática, ainda posso pensar assim. E o farei ainda que um dia eu venha a ser a única, porque as minhas ideias não dependem da quantidade de pessoas que concordam comigo para existir. Talvez um dia eu seja minha própria espectadora e ouvinte, mas de uma coisa você pode ter certeza: eu estarei vestida!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Gente rasa


Acho bonito pessoas que têm um pacto com a felicidade.  Sentem suas dores e choram suas mágoas, mas logo ali na frente dão as mãos à alegria, afinal, a vida tem que continuar. Infelizmente, não sou uma dessas ricas criaturas. Minhas dores sempre duram mais do que o necessário e minhas lágrimas sempre borram mais a minha maquiagem do que deveriam. Por isso admiro tanto essas pessoas: são leves, como, aliás, todo mundo deveria ser.
Por outro lado, não suporto pessoas rasas.  Gente que sente de menos, que se doa de menos, que chora de menos, que ri de menos, que se arrisca de menos, que contribui de menos. Gente rasa é fácil de identificar: está sempre desconfiando de algo, está sempre atenta ao segredo alheio, mas nunca compartilha nada. Gente rasa é sempre nude, nunca pink, nunca vermelho.
E o pior de tudo é que gente rasa, quase sempre, vem embalada em papel de profundidade: quem mergulha acaba quebrando a cabeça. Gente rasa não mostra exatamente quem é e aí, quem convive nunca sabe se é seguro dar um “biquinho” ou se por via das dúvidas é melhor só molhar os pés.
É por isso que não me assusto com gente que assume o que é. Circulo livremente por todas as tribos, sem ficar chocada, mesmo que eu não concorde com tudo o que fazem. Porque prefiro gente profunda, que assume o que é, com todos os riscos, do que gente rasa, de quem a gente nunca sabe o que esperar.
A vida da gente é cercada de pessoas rasas e profundas. Basta olhar ao redor e logo você identifica. E se você pensou em algumas pessoas, logo vai notar que as profundas são as que marcaram sua vida de forma positiva. Já as rasas... Bem, não é difícil perceber o quanto não fazem falta.
Não estou nem falando de falsidade, porque esse é outro patamar de discussão. Gente rasa, nem sempre é falsa. Às vezes, simplesmente se tornou rasa porque lhe faltou a coragem de dar o próximo passo. Às vezes, porque preferiu a segurança ao risco. E às vezes, porque acreditou que não tinha outra opção.
Gente rasa é aquela que aceita meio amor, uma profissão mais ou menos satisfatória, uma vida aparentemente boa, fé sem compromisso, amizades de fim de semana e qualquer coisa que não requeira intensidade demais. Porque se tem uma coisa da qual gente rasa foge é de intensidade na vida.
Mas isso não é uma crítica direcionada. De verdade. Pode até ser uma autocrítica. Em algum momento da vida ou em determinada circunstância, todos somos rasos. Eu, por exemplo, tenho duas mãos cheias de amigos e parentes que me dizem para escrever um livro. E estou há anos na beira, morrendo de medo de me jogar. Isso é ser gente rasa! Mas eu supervisiono minha cota de rasadura (sim, eu pesquisei:  é isso mesmo). Não pode passar muito disso. Porque quanto menos medo se tem, mais profundo se é.
O fato é que a vida voa depressa demais e não há tempo para perdermos no raso. Quanto mais tempo se passa na superfície, mais nos acostumamos a ela. Ser superficial, realmente dá menos trabalho. Gente profunda, muitas vezes, tem menos amigos, menos tempo para discussões inúteis, menos paciência para coisas sem sentido e uma agenda repleta de tarefas que ninguém entende muito bem. Porque gente profunda, a gente só conhece de verdade, se ler o manual de instruções, já que intimidade demanda uma boa dose de percepção.
Ser leve sem ser superficial é mesmo uma tarefa bem árdua. E que tenhamos a disposição de nos entregarmos a ela. O que não dá para fazer é passar a vida toda apenas molhando os pés.