terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Maternidade: privilégios e responsabilidades


No final do mês de dezembro do ano passado vivi a experiência mais extraordinária da minha vida. Dei à luz minha pequena Martina, tão ansiosamente aguardada não só por mim, mas por toda a família e amigos. Provavelmente, tudo o que poderia ser escrito sobre a experiência da maternidade já foi e por isso, voltar ao assunto me leva, inevitavelmente, aos clichês. Mas até mesmo estes são aceitáveis quando se trata de um tema tão grandioso.
Como mulheres, vivemos algumas experiências difíceis, que para nós são ainda mais duras pela essência da nossa personalidade, mais sensível, mais humana, mais facilmente abalável. Esvaziar as gavetas do marido que foi embora, arrumar o quarto do filho que partiu, pentear os cabelos de uma mãe senil ou enfeitar o túmulo de um ente querido que se foi. Tudo isso é intenso demais para as mulheres, que guardam em si toda a delicadeza que pode haver no mundo. E talvez por isso, nos foi dada também a oportunidade de gerar a vida, pois não pode existir nada mais intenso do que isso.
Quando a pediatra me mostrou a Martina e colocou o rostinho dela perto do meu, tantas coisas passaram pela minha cabeça que eu não poderia descrevê-las sem extrapolar meu espaço. Mas de uma delas eu lembro vividamente. Foi o pensamento: “nunca mais estarei sozinha”. Não importa o que aconteça no futuro, ou quão difícil seja o caminho ou mesmo quantas alegrias eu ainda vá sentir. Aquele momento será apenas meu para sempre e é a certeza de que o sentimento de solidão pode até chegar, mas não fará morada, pois terei para sempre um pedaço de mim circulando fora do meu corpo.
É por isso que se tornou ainda mais difícil entender como as pessoas podem jogar seus filhos fora ou abandoná-los, seja da maneira que for. Na semana em que a Martina nasceu, um bebê recém-nascido foi lançado da janela de um carro em movimento. Apesar dos ferimentos ele não morreu. E ter essa preciosidade em meus braços me fez refletir seriamente em como aquela mãe teve coragem, ou covardia, para fazer aquilo. É mesmo um mistério, que a psicologia até explica, mas nunca vai conseguir justificar.
Junto com este privilégio elevado de gerar a vida, nos é também concedida uma enorme responsabilidade. Apenas ter os filhos, como se fôssemos máquinas de reprodução, é uma atitude cruel e insana. Mesmo os filhos não planejados devem ser amados, educados e motivados a serem bons cidadãos e excelentes seres humanos, pois esta é a única maneira de pensar uma sociedade que seja melhor do que esta. A violência a que estamos expostos a cada dia, nada mais é do que uma terrível combinação de fatores: negligência governamental, famílias desestruturadas e falta de limites na educação.
Eu desejo a todas as mulheres que tenham esta experiência transformadora em suas vidas e acima de tudo, que assumam a grandiosa responsabilidade que a acompanha. A recompensa imediata é um sorriso sem dentes que achamos a coisa mais maravilhosa do mundo, mas os resultados em longo prazo, só a eternidade revelará.