quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Sobre tudo e sobre nada

Bem, faz um tempão que não passo por aqui. Poderia alegar que é falta de tempo, mas todo mundo sabe que quando a gente quer, a gente dá um jeito. Poderia usar a criatividade em baixa como desculpa, mas já queimei essa alternativa. Então, só me resta mesmo ser franca: tem tanta coisa para ser dita, que nem sei mais se tenho vontade de falar. O mundo está provocando muito mais o meu silêncio do que a minha indignação.
Tem gente morrendo de fome, tem gente morrendo de epidemia, tem gente morrendo queimada em jaula, tem gente morrendo degolada, tem gente morrendo com tiro, facada e na fila do SUS. Tem gente roubando a gente na cara dura, tem gente roubando a gente por debaixo dos panos e cada vez mais tem gente roubando a gente. Tem gente que bate o carro e faz uma selfie. Tem gente que paga a conta de uma água que não existe. Tem gente perdendo pedaços do corpo e até a vida em nome do padrão de beleza vigente, tem gente perdendo a vergonha, a sensatez e a sanidade e tem gente que acha tudo isso normal.
E mesmo com tanta coisa acontecendo, dentre tantas outras que estão rolando desde a última vez que escrevi aqui, ainda tem gente que se preocupa mais com o corpo de alguém famoso que dá um mergulho na praia, com a cena da Paolla Oliveira seminua em um seriado que questiona abertamente a validade dos valores familiares na sociedade atual ou com quem será eliminado no reality show mais alienante do País. E daí que mais um jornalista foi assassinado pelo estado islâmico essa semana, gente? Era a Paolla Oliveira de f-i-o  d-e-n-t-a-l!
Nessas alturas eu tenho mais e mais vontade de me recolher no silêncio. O mundo está barulhento demais. É muito ruído, é todo mundo falando sobre tudo, sem conhecimento de causa, só porque ficou fácil. É gente demais olhando para a tela e pouquíssima gente olhando para o outro. É gente demais, ser humano de menos.
Aí você pode pensar: mas não é justamente essa, a hora de falar? De protestar? De reivindicar? Talvez seja. Só não sei se funciona. Porque a intolerância está bem maior que o bom senso e pensar diferente é ser radical e fundamentalista. Palavra esta, que aliás, me perdoem os pseudointelectuais midiáticos, está sendo usada de maneira muito errada. Usem a palavra "fanático". Fanáticos religiosos, fanáticos políticos, fanáticos esportivos é que chegam às raias da loucura por causa de suas crenças distorcidas. Só que a sociedade só costuma rechaçar os religiosos, porque alguém disseminou a falácia de que todo crente é ignorante. Não acreditar em nada ou em tudo ao mesmo tempo é que é cult.
O silêncio muitas vezes nos dá a oportunidade de observar e formar uma opinião mais embasada antes de criticar ou de vomitar absurdos nas redes sociais e nas rodas de conversa, se é que elas ainda existem. Pelo menos eu ainda prefiro quem emudece diante das calamidades, não por omissão, mas por estarrecimento, do que quem tem muito a dizer sobre nada que preste.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Planejamento amoroso ou a metáfora do melão

  Ah a vida, essa danada. Um dia a gente acorda e planeja tudo, como se viver fosse tão simples quanto fazer a lista do supermercado. No outro, a gente percebe que já está vivendo e que o planejamento nem sempre ou quase nunca sai do papel.
 É bom planejar, aliás, é fundamental. Tudo o que é planejado previamente é melhor executado. Funciona bem com as férias, com o orçamento, com a construção da casa e até no controle neonatal, embora muitas vezes, esse também falhe. Mas não funciona muito bem no campo amoroso.
  Não significa que sou a favor da bagunça amorosa. Longe disso! Acho importante que cada pessoa tenha em mente o que quer de um relacionamento, que tipo de pessoa procura, que valores são importantes encontrar no outro. Só que nem sempre as coisas acontecem como a gente planeja. A casinha cor-de-rosa com cerquinha branca, um cachorro no quintal e uma fumacinha saindo da chaminé, às vezes é um quartinho nos fundos na casa da sogra. Não é o ideal, mas é o real.
  Muitas vezes você tem a vida toda organizada na sua lista imaginária de como ela deveria ser: vou crescer, estudar, me formar, trabalhar, comprar uma casa, um carro, fazer uma viagem pela Europa e um clareamento dental. Depois disso vou estar no supermercado fazendo compras, na sessão das frutas e, quando eu pegar o melão, alguém vai fazer o mesmo gesto, vamos tocá-lo juntos, nossos olhares vão se cruzar, vamos tomar um sorvete, nos apresentar aos pais, namorar por dois anos, noivar por seis meses e casar numa capelinha, em algum vale ou colina por aí. Seria perfeito não é?
   Algumas vezes dá certo. Tem gente que segue o planejamento à risca e é feliz. Mas nem sempre é assim. A vida tem a estranha mania de jogar baldes de água gelada nos nossos sonhos e a gente tem que contornar as curvas do caminho e achar um jeito de fazer dar certo, mesmo que esteja fora do plano. De abraçar as oportunidades quando elas aparecem, em vez de desperdiçar tempo tentando encaixar os acontecimentos na nossa listinha de “meu mundo seria perfeito se”.
  Não me deixam mentir todas as pessoas que disseram “eu nunca”. “Eu nunca mais vou me apaixonar”; “eu nunca vou namorar antes de”; “eu nunca me casaria com”; “eu jamais vou abrir mão de”. A maioria delas teve que engolir as próprias palavras e geralmente, fez isso com o maior prazer. A gente até planeja não se apaixonar antes de, até que ou ainda que, mas aí... Nem sempre dá para prever quando Deus vai dizer: “vai lá filha (o) chegou a sua vez, se joga”.
  E se jogar não quer dizer que você precisa ignorar os planos e rasgar as listas. O amor é ponderado e tem boa dose de racionalidade. Me nego a confundir amor com paixão desmedida, em que você não consegue enxergar o barco furado em que está entrando sem remos. Se jogar é permitir, por exemplo, que uma pessoa especial se torne um bom amigo e que esse bom amigo se torne um amor, mesmo que o momento não seja aquele que você tinha catalogado na estante da sua efêmera existência. Sim, a vida passa rápido demais pra gente viver esperando a hora certa, a estação certa, o clima certo, o cenário perfeito.
  Quando der para encaixar as oportunidades nos planos que você tinha traçado, ótimo, faça isso. Quando não der, arrisque. Todo mundo que construiu um relacionamento saudável e duradouro, em algum momento não teve certeza. Em algum momento pensou que era bom demais para ser verdade. Em algum momento trocou o “não sei se estou pronto” pelo “não custa tentar”. E de fato as coisas são mais simples do que a gente imagina. A gente complica quando quer impedir que as coisas aconteçam naturalmente, só porque isso, às vezes, sai do combinado.
 Faça uma lista das suas prioridades. Do que você deseja na vida. Dos planos que você quer concretizar. Seja organizada (o), sensata (o) e cautelosa (o). Mas se no meio do percurso aparecer alguém que bagunce um pouco a sua lista, seja corajosa (o) o suficiente para abrir mão das suas certezas preconcebidas e se permitir sonhar novos sonhos e traçar novas rotas, juntos. O que não dá pra fazer é ficar parada (o) a vida toda na sessão de frutas, apalpando melões. 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Violência não, compaixão

Como sempre faço quando eclodem assuntos polêmicos, esperei alguns dias para comentar a questão levantada pela pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre mulheres merecerem ser violentadas, em função da roupa que usam. Ainda bem que esperei, porque o IPEA teve que voltar atrás e admitir que os números estavam errados. Na verdade, as pessoas que acham que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” equivalem a 26% dos brasileiros.
Existem aí, implícitas, pelo menos duas questões importantes e opostas. A primeira é que o número de 26% também é alto e preocupante. O estupro jamais é culpa da vítima, não importa em que situação tenha ocorrido. Até porque, se pararmos para analisar as notícias referentes ao tema, veremos que a maioria das vítimas não estava em uma festa, com roupas curtas, justas ou decotadas (caso os 26% tivessem razão) e nem em situações que pudessem, hipoteticamente, sugerir que estivessem provocando o ataque. A mesma pesquisa indica que mais de 50% das vítimas têm menos de 13 anos de idade. Não, essas meninas e mulheres não causam o estupro, não podemos aceitar os 26%, nem 10%, nem 0,5%. Essa mentalidade machista e discriminatória precisa mudar.
A outra questão que considero totalmente diversa aos dados da pesquisa é que mulheres que se vestem mostrando o corpo não merecem ser violentadas e sim, merecem compaixão. Compaixão? Sim, pena mesmo. Acho feio, acho desnecessário, acho imoral, acho vulgar e acho inapropriado. Mas não, de fato, elas não merecem  ser estupradas.
E minha opinião sobre a decência para se vestir não é falso moralismo ou fundamentalismo religioso. Se você pensa assim, dê uma olhada nos programas de moda da tevê, só para exemplificar. Todos eles, sem exceção, ensinam as mulheres a se vestir com elegância, sem mostrar demais. Esquadrão da Moda (na tevê aberta), What not to wear, Mude meu Look, Laboratório de Estilo, 10 anos mais jovem (na tevê paga) entre outros, todos eles falam sobre a sensualidade do esconder, ao invés de mostrar.
Existe uma mentalidade muito atual que é, em parte, fruto do sistema capitalista, que explora a imagem da mulher e do sexo deliberadamente, apenas para gerar lucro. Essa mentalidade é alimentada pelo pensamento hedonista de que qualquer coisa que nos dê prazer não deve ser proibida e nem refreada. Cada vez mais cedo, as pessoas são instruídas a acreditar na falácia de que “qualquer coisa que me deixa feliz e me faz bem é correta”. Sim, é uma falácia porque isso não é verdade, na maior parte das vezes. A droga, dizem, tem um efeito extremamente prazeroso. Nem por isso faz bem. Pode deixar feliz por alguns minutos, mas o final de quem toma esse caminho, geralmente é desastroso.
Se continuarmos seguindo a linha de raciocínio de que “tudo que é bonito é pra se mostrar” e “se é bom e eu gosto, não é errado”, então vamos acabar caindo em uma desgraça total como humanidade. Porque os pedófilos também acham que se lhes dá prazer, então tudo bem violentar crianças. Os assassinos a sangue frio também têm suas justificativas, sejam tão insanas quanto forem. Homens-bomba creem piamente que os fins justificam os meios. As regras de conduta social, moral, civil e religiosa existem para proteger as pessoas do que elas seriam capazes de fazer se o que dominasse o ser  humano fosse unicamente sua necessidade de sentir prazer.
Um bom exemplo de como seria se isso acontecesse é o tal BBB. Não assisti a nenhum episódio do bizarro programa, mas nem é preciso. A propaganda é tão difundida que é possível saber o que acontece, sem ligar a televisão. Hoje estava pesquisando para escrever e descobri que a vencedora da última edição teve um caso, durante o programa, com uma stripper virtual que é casada e tem um filho de dois anos. E ela também afirmou que não sabia se elas continuariam juntas ou se formariam um triângulo amoroso com o marido da outra. Além disso tudo, passaram a maior parte do programa seminuas, segundo as notícias de diversos sites de entretenimento.
O corpo é dela, ela pode mesmo fazer o que quiser.  Mas e o garotinho de dois anos? É normal, natural e saudável para uma criança crescer com uma mãe que ganha dinheiro mostrando o corpo e traindo o pai em rede nacional, para que milhões de pessoas tenham seu entretenimento garantido? Desculpe, não consigo encarar dessa forma, me apedrejem!
De qualquer forma, reforço que nem mesmo este comportamento repulsivo é merecedor de qualquer tipo de violência. Ninguém merece a violência devastadora de um estupro. O que as pessoas precisam, tanto as de pouca roupa e nenhum senso de ridículo e as de muita roupa e nenhuma empatia é de compaixão. Compaixão é um adorno que cai bem com qualquer roupa.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Tire esse monstro do seu armário

As pessoas têm medo da solidão. As mulheres, especialmente. Muitas delas se submetem a situações de desprezo, abuso, violência, indiferença ou desrespeito, simplesmente para ter uma companhia. São adeptas inveteradas do “antes mal acompanhada do que só”.
Obviamente não dá para ser hipócrita e dizer que é sempre maravilhoso estar só. Muitas coisas ficam mais interessantes quando se está acompanhada. Aliás, a felicidade está atrelada, em parte, ao coletivo. Basta lembrar os almoços em família, com aquela mesa rodeada de primos, tios, cunhados, vizinhos e agregados e de como eles permanecem na nossa lembrança da infância à velhice. A coletividade é importante para a nossa sanidade mental e para o desenvolvimento de valores como altruísmo e empatia.
O que não dá para fazer é prender-se a relacionamentos que só trazem sofrimento, apenas para não sentir solidão. Neste caso, é melhor estar só e aprender a ser feliz assim, do que aceitar a morte lenta que vem de um amor bandido.
Aprender a apreciar a própria companhia é uma arte. Isso é consenso no mundo da psicologia. Mas o quanto isso é real para você? Entre estar em um relacionamento ruim, mas que proporcione algum tipo de presença e estar só, mas manter a integridade física e emocional, qual dos dois você escolhe, de verdade?
Segundo uma pesquisa do Euromonitor International entre 1996 e 2011, o número de pessoas que moram sozinhas no mundo teve um aumento de 80%. No Brasil, conforme dados do último censo do IBGE, este número chega a quase 7 milhões de pessoas, ou 12,2% das pessoas que possuem domicílios particulares. Isso é bastante gente, não é?
Mesmo com dados tão expressivos, a solidão continua sendo o monstro de muitos armários por aí. É gente que tem medo do próprio eco. É gente que não sabe ser feliz se não puder reclamar de um tubo de creme dental mal espremido.
Claro: você não precisa sair sorrindo por aí porque está sozinha. Se isso não a faz feliz, mesmo, então busque uma companhia saudável e que no fim das contas, some alguma coisa à sua existência e vice-versa. Mas não faça de você mesma a vilã da história, como se passar um tempo na própria presença fosse o fundo do poço. Não se compare aos que estão bem- acompanhados e felizes, mas sim, aos que mesmo dividindo a vida com alguém, seguem amargurados. Aí você vai ver vantagem.
Pense em como é prazeroso não precisar dividir o controle remoto, não encontrar pelos no sabonete, não dar satisfação de horários, não ter obrigatoriamente, que fazer aquele serviço que pode ser protelado, não precisar discutir a relação, não ter que postar fotos diárias em suas redes sociais com cara de "olha como somos extraordinariamente felizes". 
Pense nos livros que pode ler sem interrupções, nos programas que pode assistir sem questionamentos, nos jantares com amigos que poderá desfrutar sem cobranças. Não se detenha pensando nos beijos e abraços, nos diálogos noite adentro, nos pés quentinhos no inverno e na resposta rápida quando precisar de ajuda. Foque nos benefícios e será muito mais interessante curtir um pouco da própria companhia.
Enquanto o monstro da solidão for inquilino no seu armário, dificilmente você estará pronta para um relacionamento maduro e saudável. A lente da solidão embaça o senso crítico e transforma qualquer sapo em príncipe encantado, rapidinho.  Pense nisso. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O que tem por trás do cara perfeito?

Estamos acostumados a ouvir histórias tristes sobre como mulheres têm sido vítimas de bandidos que conheceram através da internet. Seguidamente aparece na mídia a notícia de uma mulher que foi assassinada, depois de ter conhecido o “namorado virtual”. Na maioria esmagadora dos casos, o cara finge ser alguém que não é para atrair a vítima. E ela, por um sem número de razões, se deixa enganar e escolhe um caminho cujo final é a morte certa.
Essa, em última instância é a pior situação quando, por detrás daquele cara, existe “outro cara”. Mas existe uma situação menos dramática e terminal, que é ainda mais corriqueira e que rende muito mais histórias que sequer são contadas, porque de tão comuns, chegam a ser banais. É a do cara que finge ser outro cara, apenas pelo prazer de conquistar a mulher, objeto de seu desejo egoísta.
Esse “cara” é aquele que todas nós conhecemos muito bem e que vez ou outra cruza nosso caminho. Ele chega de repente, no meio de uma solidão aguda ou durante uma tempestade emocional. Estuda nossos movimentos, pensamentos e sonhos e se molda exatamente ao que estamos precisando. Analisa nosso perfil e se encaixa perfeitamente nele, sem deixar sombra de dúvida de que é “o cara” certo para nós.
Esse indivíduo é aquele que abre a porta do carro, quando já não acreditamos mais que exista um homem assim. É aquele que lava nossa louça, para nos poupar as unhas feitas. Que nos chama para um passeio em uma noite estrelada e dá nosso nome a uma estrela. É aquele que discursa sobre um futuro promissor e que faz parecer que tudo quanto toca vira ouro. Que nos mima com pequenos gestos, telefonemas inesperados, declarações não convencionais, promessas regadas a jantares e manjares. Ele é tão perfeito que você começa a duvidar de que ele seria capaz de amenidades humanas, como flatulências e hesitações!
Há algo nesse tipo de cara que é tão cruel quanto aquele que assassina suas vítimas. É que eles não dão às mulheres que designam para ludibriar, a chance de escolher de olhos abertos. Elas optam por um homem, por tudo de bom que ele tem a oferecer e quando conseguem distinguir claramente o erro, às vezes é tarde demais.
Para essas mulheres a dica é simples: pare de procurar o homem ideal, ele não existe. Você precisa eleger uma lista de qualidades que considera importantes, ciente de que não encontrará todas em um homem só e trabalhar suas expectativas, para não esperar demais e nem se contentar com pouco. E por favor, inclua nessa lista, valores que não variem de acordo com a circunstância. O que passar disso é ilusão. É malandro querendo se dar bem em cima da sua carência, da sua boa vontade, da sua mania de sempre achar que o próximo sapo é de fato, o príncipe.
Acorda amiga! O carro pode ser roubado, o perfume pode ser falsificado, os dentes branquinhos podem ser clareamento, as mãos lisinhas podem indicar preguiça, o bom humor constante pode ser efeito do ansiolítico e as palavras bonitas podem vir de um livro que você ainda não leu. A regra áurea é: se o cara parece perfeito demais, desconfie sempre!
E para você homem, que nada mais é do que lobo em pele de cordeiro, o recado é um só: nós mulheres temos sexto sentido. Caímos uma vez, duas e até três. Mas uma hora a gente aprende a identificar suas reais intenções e a nos proteger das suas investidas. Você pode conseguir enganar as pessoas por um tempo, mas em algum momento sua máscara vai cair e certamente terá sido derrubada por uma mulher.
O meu desejo mais profundo às minhas poucas e fiéis leitoras e aos meus leitores de sensibilidade aguçada é que sejam sinceros em seus relacionamentos, não importa quanto isso custe.  Quando conhecerem alguém especial, deixem essa pessoa saber em que barco está entrando. Digam a ela exatamente onde está pisando e os riscos que corre e avise que tudo o que você pode oferecer é o seu mais genuíno desejo de não decepcioná-la ou decepcioná-lo.
Conte sobre seus defeitos, manias, mancadas e sobre como você nunca estende a toalha de banho ou recolhe as roupas que espalhou. Pode não ser encantador, mas definitivamente, se ela se apaixonar por quem você é de verdade, a chance de ser duradouro é muito maior. E quando vocês brigarem, você sempre poderá dizer: eu avisei! É ou não é tentador?

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Meu protesto particular

Este blog tem mais ou menos três anos de existência e nunca me senti tão estarrecida diante de uma página em branco, como desta vez. Não é que me faltem palavras, é que elas estão saindo dolorosamente. Talvez pela primeira vez em quase dez anos de jornalismo, sinto dor ao escrever e por isso acho difícil saber por onde começar.
Estava viajando quando a turista norte-americana foi estuprada por três homens em uma van, no Rio de Janeiro. Você deve ter ouvido bastante essa história e deve ter acompanhado a todos os noticiários e a repercussão internacional, mas eu estava em um lugar onde não havia internet, sinal de celular e onde não me interessava ligar a televisão. Então descobri tardiamente essa atrocidade. E quando voltei a assistir telejornais, eles simplesmente não falavam mais sobre isso. O assunto se perdeu na onda gigantesca de protestos que cobriu o País nos últimos dias.
E o jornalismo é assim mesmo, rápido, factual, efêmero. Mas para mim, como mulher, como mãe, como cidadã, essa notícia não passou e não passará nunca. Já chorei por essa moça muitas vezes e já pedi a Deus que encontre um meio de livrá-la dessa dor. Não sei qual será, mas sei que Ele pode fazê-lo.
De qualquer forma, continuo afirmando que esse assunto não deve ser esquecido. Precisa ter uma bandeira em todos esses protestos que estamos acompanhando em tempo real, que lembre a tragédia dessa moça e do seu namorado, que também foi uma vítima de abuso, de certa forma,  além de violência e roubo. Não podemos esquecer, não podemos deixar passar. Não podemos simplesmente seguir a vida como se em algum lugar do mundo não houvesse uma moça que foi estuprada oito vezes por três monstros diante do namorado imobilizado, aqui no Brasil. E isto aconteceu na “cidade maravilhosa”, sede das próximas Olimpíadas e uma das cidades-sede da Copa do Mundo. Não temos o direito de esquecer isso, jamais.
A sociedade pós-moderna se considera altamente evoluída, puramente racional. Mas o que se vê cotidianamente é uma selva de homens cada vez mais primitivos. Uma “involução” rápida e impossível de frear. Com tanta oferta de sexo pago ou gratuito como se pode encontrar por aí, por que o número de vítimas de estupro só aumenta? Não, os homens não estão evoluindo. Eles estão dando vasão a seus instintos mais selvagens. Nunca na história do mundo, os homens foram tão boçais quanto são agora.
Uma notícia publicada pelo jornal O Globo, no dia 20 de janeiro deste ano destaca que nos últimos cinco anos houve um aumento de 157% no número de registros de estupros. Somente no Rio de Janeiro são 16 casos denunciados por dia. Aparecida Gonçalves, secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, na mesma reportagem afirmou que “isso mostra o comportamento machista da nossa sociedade, que autoriza que homens se apropriem do corpo da mulher. É como se o homem não pudesse ouvir o não”. Bingo, Aparecida! Há homens, e infelizmente são muitos, que não sabem ouvir “não”.
Nós temos uma mulher na presidência e em grande parte das chefias mais importantes do Brasil, inclusive no setor da segurança pública. E mesmo assim, pouco se tem feito pela questão. É inaceitável que um País que se julga em pleno desenvolvimento, ainda permita que suas cidadãs e até mesmo as turistas que o visitam sejam tratadas como o parque de diversões da bandidagem. Quando é que isso vai acabar?
A notícia me deixou chocada em tantos níveis, que fica difícil conseguir explicar o tamanho da indignação. Fiquei envergonhada de viver em um País que se considera rico o suficiente para construir ou reformar estádios que serão eternos elefantes brancos, mas que não tem capacidade de defender suas mulheres e proteger suas turistas. Não é questão de discutir se a Copa do Mundo vai ser boa ou não para o País. A questão é que não temos a mínima condição de sediar este evento e mesmo assim teremos de engoli-lo. Se eu fosse turista jamais viria para cá, depois do que aconteceu com a norte-americana e do que acontece com uma brasileira a cada 12 segundos, conforme o jornal O Dia.
A igualdade feminina aconteceu apenas em setores onde isso não incomoda demais aos homens. Porque no campo sexual, a dominação masculina ainda é uma dura realidade. E os números alarmantes dos casos de estupros no País demonstram isso. Existe um número crescente de homens dispostos a conseguir pela força, aquilo que são incapazes de conquistar pelo mérito. Lamentável demais.
Assistindo ao depoimento da colega jornalista que recebeu um tiro de bala de borracha, de um policial em São Paulo, enquanto cobria os protestos, fiquei pensando no quanto existem homens covardes em nosso País. Ela disse que jamais imaginava que ele fosse atirar, por ela ser mulher e não estar representando perigo. Se eu pudesse dizer alguma coisa a ela, seria: “amiga, ele atirou justamente porque você é mulher!”.  Atrás de uma farda, com uma arma na mão e sem se sentir ameaçado é muito fácil ser machão. O mesmo serve para esses monstros estupradores: é fácil ser viril segurando um revólver e subjugando a vítima. Difícil mesmo é ser homem de verdade e merecer a disponibilidade sexual de uma companheira.
Meu protesto particular não é pelos R$0,20. É pelas minhas leitoras, pela minha filha, pela minha mãe, irmã, avó, tias, primas, amigas, vizinhas, conterrâneas. Não tem ninguém, de nenhum dos três poderes, olhando por nós. O que mais precisa acontecer para que este País tenha leis mais severas para o estupro, como a castração química, por exemplo? Sinceramente, tenho medo dessa resposta.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A paixão é uma droga?


Outro dia uma amiga me questionou: “por que você não escreve mais sobre o amor?”. E ela não quis dizer mais, no sentido de quantidade, mas no sentido de que faz algum tempo que não falo sobre isso. Respondi: “acho o amor um assunto delicado”. Então vou falar um pouco sobre a paixão, que é menos complexa, mas não menos importante.

Tenho outra amiga, esta de longa data, que não consegue emplacar um relacionamento. Namora, namora, namora, mas quando a coisa vai ficando séria, o relacionamento não dá certo. Já disse para ela se tratar. Ela sofre de um mal muito comum, quase tão comum como se tornou em nossos dias, o uso de drogas: ela é viciada em paixão! Os relacionamentos dela duram enquanto dura o efeito entorpecente da paixão. Quando a fissura acaba, ela vai em busca de mais uma dose. E isso é trágico.
A paixão é responsável por aqueles calafrios todos que a gente sente, pelas noites mal dormidas, pelos sonhos de olhos abertos, pelos sorrisos sem motivo aparente, pelas horas que se perde em frente ao guarda-roupa, escolhendo alguma coisa para vestir num encontro. E por si só, isso não é ruim. Movimenta a vida, motiva a mudança, faz bem para o corpo e para a mente. O problema é quando não passa disso, quando não se avança para a próxima etapa.
O renomado psiquiatra Cesar Vasconcellos de Souza, no artigo “A emoção não é o amor”, diz que “a paixão emocional esconde da pessoa as dificuldades que ela tem, porque mantém o indivíduo num êxtase, semelhante ao efeito de uma droga. Naquela hora é tudo ‘paz e amor’. Quando acaba o efeito fica cinza, como um dia nublado. Então, é o momento de se lidar com a realidade, a dor, a limitação, a frustração, a necessidade de mudança interior que a droga e a paixão só prometem, mas não fazem”. Forte não?
Isso não quer dizer que a paixão seja ruim. Ela é necessária. Sem ela não há o encantamento que aproxima as pessoas. Seria mais fácil se a gente pudesse escolher num catálogo, alguém com as características que procuramos, mas, seria tão belo quanto se apaixonar sem razão óbvia? A paixão nos faz admirar a pessoa, com uma admiração que precisa ser sempre recordada, depois que ela passar, para que a gente nunca se esqueça de por que se apaixonou.
A paixão em si não é ruim, o que não dá para fazer é querer viver de paixão. É querer basear uma escolha tão importante, quanto a de um casamento, por exemplo, num sentimento tão turbulento quanto a paixão.  Em algum momento é preciso decidir amar e levar esta decisão adiante, mesmo quando as coisas vão mal, mesmo quando a pessoa tem defeitos, mesmo quando o barco parece estar afundando. A paixão não dá conta disso tudo, mas o amor verdadeiro, este dá sim.
E os casais felizes, aqueles que envelhecem juntos e que a gente acha tão lindo ver de mãos dadas por aí, são aqueles que decidiram continuar apaixonados pela pessoa que escolheram amar. Provavelmente, não se vai mais morrer de palpitação ou bambear as pernas, depois de uns 30 ou 40 anos de casados, mas nos pequenos gestos dá para incluir doses homeopáticas de paixão, que serão indispensáveis para tornar o relacionamento, além de duradouro, feliz.
Então, se a paixão é uma droga da qual não podemos fugir, que sejamos sábios para administrá-la de maneira consciente. Para utilizá-la a nosso favor. Para reduzirmos as doses de maneira paulatina e assim, termos a chance de ver claramente, quem estamos decidindo amar. Que a paixão nos motive a conhecer as pessoas verdadeiramente, além do que elas aparentam ser ou do que podemos sentir. Porque a real beleza das pessoas, aquela que é verdadeira e que importa mesmo, só se consegue ver de olhos bem abertos.


terça-feira, 16 de abril de 2013

Quem me representa?


Quando vejo na mídia por aí, mulheres que se sobressaem pela superexposição do corpo, ou por um comportamento que, embora seja aceitável pela sociedade atual, não é digno de ser imitado, imagino que elas não têm a consciência de que estão representando uma categoria. Porque quando você vê uma amostra dessas na mídia, acaba por imaginar que isso é, de fato, uma fatia do bolo todo. Então se eu pudesse dar um recado a elas seria: pare! Você não está me representando com dignidade.
Quem me representa são as 18,4%, que segundo os dados da Síntese de Indicadores Sociais do último censo do IBGE, estão chefiando as famílias brasileiras com filhos. Porque elas não têm tempo para perder com degradação moral. Precisam colocar comida na mesa. Em 2001 esse número era de 3,4%. Ou seja, em 10 anos aumentou quatro vezes, porque enquanto muitas celebridades instantâneas surgiram e desapareceram, assim como a sua beleza montada, outra parcela da população estava fazendo malabarismo para cuidar de uma casa e sustentá-la, ao mesmo tempo.
Mas chegamos num ponto tão crítico, que soa moralista condenar a exposição do corpo, o esmaecimento dos valores, a proteção da família. Alcançamos um patamar como sociedade democrática, que nos permite expressar livremente nossa opinião, desde que ela não confronte o pensamento de quem além de liberdade de expressão, tem acesso à propagação de suas ideias.
O espaço virtual criou um sem número de filósofos de plantão, formadores de opinião, que defendem ferozmente suas posições a respeito dos mais variados assuntos. Eles esquecem de que fundamentalista não é só quem possui uma opinião diferente da deles e sim, todo aquele que se posiciona radicalmente, colocando suas ideias acima do respeito e valorização da vida. E aí surgem antagonismos tão gritantes em nossa sociedade, que às vezes chego a duvidar de que ainda estamos falando de seres pensantes.
Um exemplo disto são as caricaturas que as novelas globais fazem dos crentes. Eu sou cristã, mas as personagens cristãs das novelas da Globo também não me representam. Elas são imbecilizadas, culturalmente pobres, beiram o ridículo e são quase sempre representadas como se tivessem algum tipo de déficit intelectual. Quer dizer: preconceito só é detestável se for racial, sexual ou social. Se for religioso, tudo bem.
O que as pessoas precisam entender, de uma vez por todas é que ter uma opinião diferente, não significa que você não tem respeito pela pessoa que discorda de você. Eu posso não gostar de gatos, por exemplo. Mas isso não me dá o direito de envenená-los. Eu posso não concordar com a forma como uma amiga cria os filhos. Isso não me dá o direito de desautorizá-la na frente deles. Eu posso não concordar com a opção sexual de uma pessoa, sem, no entanto desrespeitá-la, porque acima de qualquer coisa está o direito que ela tem de escolher e o fato de ser um ser humano igual a mim. Tenho vários amigos homossexuais, dos quais gosto muito. Eles sabem o que penso a respeito e nem por isso deixamos de ser amigos. Jamais seria capaz de discriminá-los, pois não tenho esse direito.
O mesmo se aplica às pessoas religiosas. Eu posso discordar das crenças de alguém, mas se eu ridicularizar uma pessoa por aquilo que ela acredita, então não posso viver carregando uma enorme bandeira contra homofóbicos, racistas e pessoas que fomentam a desigualdade social: sou igual a eles. Só o que muda é a embalagem do meu preconceito, o conteúdo é igual.
E mesmo correndo o risco de parecer moralista, continuo defendendo que a mulher precisa se sobressair pelas suas qualidades morais e não pelos atributos físicos. Que as curvas do cérebro são mais belas do que as do corpo e que aquilo que se conquista unicamente pela beleza, vai embora tão rápido quanto chegou. Graças à sociedade democrática, ainda posso pensar assim. E o farei ainda que um dia eu venha a ser a única, porque as minhas ideias não dependem da quantidade de pessoas que concordam comigo para existir. Talvez um dia eu seja minha própria espectadora e ouvinte, mas de uma coisa você pode ter certeza: eu estarei vestida!