quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Sobre tudo e sobre nada

Bem, faz um tempão que não passo por aqui. Poderia alegar que é falta de tempo, mas todo mundo sabe que quando a gente quer, a gente dá um jeito. Poderia usar a criatividade em baixa como desculpa, mas já queimei essa alternativa. Então, só me resta mesmo ser franca: tem tanta coisa para ser dita, que nem sei mais se tenho vontade de falar. O mundo está provocando muito mais o meu silêncio do que a minha indignação.
Tem gente morrendo de fome, tem gente morrendo de epidemia, tem gente morrendo queimada em jaula, tem gente morrendo degolada, tem gente morrendo com tiro, facada e na fila do SUS. Tem gente roubando a gente na cara dura, tem gente roubando a gente por debaixo dos panos e cada vez mais tem gente roubando a gente. Tem gente que bate o carro e faz uma selfie. Tem gente que paga a conta de uma água que não existe. Tem gente perdendo pedaços do corpo e até a vida em nome do padrão de beleza vigente, tem gente perdendo a vergonha, a sensatez e a sanidade e tem gente que acha tudo isso normal.
E mesmo com tanta coisa acontecendo, dentre tantas outras que estão rolando desde a última vez que escrevi aqui, ainda tem gente que se preocupa mais com o corpo de alguém famoso que dá um mergulho na praia, com a cena da Paolla Oliveira seminua em um seriado que questiona abertamente a validade dos valores familiares na sociedade atual ou com quem será eliminado no reality show mais alienante do País. E daí que mais um jornalista foi assassinado pelo estado islâmico essa semana, gente? Era a Paolla Oliveira de f-i-o  d-e-n-t-a-l!
Nessas alturas eu tenho mais e mais vontade de me recolher no silêncio. O mundo está barulhento demais. É muito ruído, é todo mundo falando sobre tudo, sem conhecimento de causa, só porque ficou fácil. É gente demais olhando para a tela e pouquíssima gente olhando para o outro. É gente demais, ser humano de menos.
Aí você pode pensar: mas não é justamente essa, a hora de falar? De protestar? De reivindicar? Talvez seja. Só não sei se funciona. Porque a intolerância está bem maior que o bom senso e pensar diferente é ser radical e fundamentalista. Palavra esta, que aliás, me perdoem os pseudointelectuais midiáticos, está sendo usada de maneira muito errada. Usem a palavra "fanático". Fanáticos religiosos, fanáticos políticos, fanáticos esportivos é que chegam às raias da loucura por causa de suas crenças distorcidas. Só que a sociedade só costuma rechaçar os religiosos, porque alguém disseminou a falácia de que todo crente é ignorante. Não acreditar em nada ou em tudo ao mesmo tempo é que é cult.
O silêncio muitas vezes nos dá a oportunidade de observar e formar uma opinião mais embasada antes de criticar ou de vomitar absurdos nas redes sociais e nas rodas de conversa, se é que elas ainda existem. Pelo menos eu ainda prefiro quem emudece diante das calamidades, não por omissão, mas por estarrecimento, do que quem tem muito a dizer sobre nada que preste.

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