terça-feira, 11 de maio de 2010

Fechando janelas



Sentada diante da página em branco julguei bastante difícil escrever a coluna deste mês. Pensei em temas dos mais variados, desde a complicada relação homem e mulher até a origem do salto alto, que fez aniversário no mês de março. Mas cada vez que o cursor piscava na tela, só conseguia pensar em Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, assassinada pelo pai e pela madrasta, conforme concluiu o julgamento de ambos, ainda fresco nos noticiários e na memória coletiva.
E quando penso nesta Ana que ganhou a empatia da nação tupiniquim, me refiro também a todas as outras milhares de Anas que já passaram pela mesma dor. Ainda não tenho filhos, não posso imaginar como se sentem. Mas qualquer pessoa que não sofra de uma psicopatia é sensibilizada pela dor alheia. E a vida é cheia de histórias tristes e absurdas, como a de um pai que lança a filha para a morte.
Não quero falar de justiça ou do que transcende nosso entendimento. Nem discutir as causas ou a antropologia e sociologia dos fatos. Quero apenas pensar em como nós, mulheres, nos preparamos para a difícil tarefa de ser mãe e de educar seres humanos que um dia conviverão em sociedade e terão de resolver conflitos.
No rígido processo educacional do passado, os pais espancavam os filhos quando eles erravam. Quando não chegavam a tanto, não lhes davam o direito de defesa, de argumentação. Impunham castigos pesados, como ajoelhar no milho ou a famosa palmatória. Mas aí como somos exagerados em tudo que fazemos, passamos deste extremo para a completa negação da responsabilidade de educar.
Hoje dizer não a um filho é quase como torturá-lo com crueldade. Limites são para as classes sociais menos favorecidas, para que aprendam a conviver dentro da sua marginalidade, sem ultrapassar os muros da periferia. Disciplina é coisa do exército e repreensão é atitude arbitrária que deve passar longe da estrutura familiar pós-moderna.
Quando os pais defendem o filho sabendo que está errado estão assinando um cheque em branco para a vida. E sabe-se lá com que cifras será descontado. Crianças sem limites serão adolescentes sem limites e adultos sem limites. Hoje estão mordendo coleguinhas de escola, amanhã estarão dirigindo bêbados e sem habilitação e depois de amanhã estarão jogando filhos pela janela.
Educar em uma esfera de confiança e afeto deve ser o melhor caminho. Não o mais fácil, porque envolve uma enorme demanda de pequenos sacrifícios. Envolve fiscalização do conteúdo que estão acessando na internet, saber onde e como vivem os amigos, levar e buscar nos mais diversos programas, participar das reuniões escolares, exigir bom comportamento e atitudes positivas e principalmente muito diálogo. Em algum momento, janelas terão de ser fechadas diante deles, para evitar desastres futuros. Mas quem tem tempo para isso hoje?
Chamem de ultrapassado, arcaico ou moralista, mas ainda acho que algumas coisas da educação antiga deveriam ser resgatadas. Não a rigidez e a falta de diálogo, mas a idéia de que a educação para a vida é uma prerrogativa dos pais e não deve ser delegada ou ignorada. Sou do tempo em que a vinheta de despedida do Jornal Nacional era o anúncio da hora de dormir e agradeço aos meus pais por isso. Não acho que depois deste horário haja mesmo alguma coisa de interesse para as crianças na televisão.
Quando uma mãe toma o recém-nascido nos braços não está esperando que ele se torne um assassino no futuro. Mas esse negócio de acreditar que o destino é quem determina isso é uma das piores desculpas para a falta de empenho em torná-lo algo melhor. Se você está pensando em ter filhos, além do lindo nome dele, borde nas toalhinhas as palavras: confiança, afeto, limites e disciplina. Se você não esquecer delas, ele certamente nem chegará perto das janelas.

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