sexta-feira, 28 de maio de 2010

Expectativas

Estive pensando sobre expectativas. E embora sejam inconclusivas as minhas ideias, elas ao menos lançaram uma pequena luz sobre o assunto, que estava há algum tempo dançando moonwalk na fissura sagital do meu cérebro (aquela que fica entre os dois hemisférios). Sim, porque para mim as expectativas não são nem lógicas, para estarem no hemisfério esquerdo e nem simbólicas, para estarem no direito.
Expectativas são pequenas bombas espalhadas pelo campo dos nossos sentimentos e, vez ou outra, pisamos nelas e voamos pelos ares, retalhados, feridos e confusos. Ou então, de tanto pisar em falso, optamos por parar no meio do caminho e simplesmente não pisar. Porque não pisar significa não correr o risco de se ferir.
Mas, acho que especialmente para as mulheres, as expectativas têm ainda um segundo elemento: a crueldade. E o que é pior ainda: a autocrueldade. Porque não há quem consiga ser mais cruel com uma mulher do que ela mesma e suas expectativas.
Desde os nossos primeiros passos começamos a esperar. Esperamos ser belas, inteligentes, sorridentes, amadas. Aí o tempo passa e esperamos circular por todos os grupos populares da escola. Mais tarde, quando temos que optar por uma carreira, esperamos ser bem-sucedidas e ainda ter tempo para cuidar do cabelo, das unhas, da pele.
Então surge a maior de todas as nossas expectativas: a do príncipe encantado. Sonhamos que ele virá mesmo num cavalo branco, apesar de sabermos que dificilmente os cavalos circulam em vias públicas. Que ele será igualmente bonito, educado, sensível, generoso e rico. Certo, muitas mulheres trocam o “ser rico” por outras coisas mais importantes. Mas a lista de qualidades esperadas segue mais ou menos nesse ritmo.
E aí com o passar do tempo e alguns beliscões da realidade, nos damos conta de que ninguém consegue reunir tantas qualidades e ainda ter um excelente caráter, que querendo ou não é enfim, o que mais importa. E aí baixamos um pouco nossas expectativas, nos contentamos com algumas qualidades da lista e casamos.
E então casadas, temos novas expectativas. Esperamos que eles nos ajudem com as tarefas domésticas, que continuem românticos como no namoro, que abandonem alguns hábitos nocivos que adquiriram ao longo da convivência materna, que façam massagem sem que precisemos pedir e sem esperar nada em troca.
Aí vêm os filhos e esperamos que sejam... Bem, não vou tocar nesse assunto, se não o texto não vai ter fim. Você consegue perceber como esperamos demais das pessoas e da vida, sem nem mesmo saber se estamos preparados para tanto?
Não quero dizer que devemos ter baixas expectativas e que devemos nos contentar com o que a vida nos apresenta, como eternas Polianas ou como se não fôssemos agentes da nossa existência. Contudo, creio que baixar um pouco as nossas altas expectativas, nos torna mais habilitados a conviver em sociedade e em harmonia, já que nem todo mundo, o tempo todo, conseguirá suprir nossas necessidades de satisfação.
Penso nas crianças, que se alegram com tão pouco, até os cinco anos pelo menos, quando passam a diferenciar as tecnologias dos videogames. É tão interessante observar uma criança diante de uma taça de sorvete, de uma folha em branco, de uma casinha de lençóis, de uma boa história. Elas esperam apenas ser amadas e alimentadas e tudo o que vier além disso, as surpreende e fascina.
Por causa da nossa fatídica mania de esperar demais, perdemos esta tão bela capacidade de nos surpreender, de nos encantar, de acreditar. E passamos a vida como se estivéssemos em uma estação ferroviária abandonada, esperando por um trem que sabidamente não virá.
Não há uma receita para isso, porque de vez em quando vamos cair nessa armadilha. Quem sabe voltando às nossas origens pueris possamos descobrir que todo mundo tem alguma coisinha a oferecer. E que essa coisinha pode não ser exatamente o que queremos, mas sim, absolutamente do que precisamos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

High definition mental: use o seu!

Não sei se você já teve a oportunidade de assistir alguma coisa em UHDT (Ultra High Definition Television) o sistema de tevê em alta definição, que está sendo implantado no Brasil. Se já, percebeu que num primeiro momento não dá aquele impacto de descoberta do fogo que o governo gostaria, quando anunciou a novidade. Mas realmente se nota uma maior definição dos detalhes, para desespero de quem ainda não fez plástica para aparecer na televisão.
Chegando perto, você pode notar coisas que nem a poderosa maquiagem consegue esconder: sinais do tempo, pequenas manchinhas, rugas, cor real dos dentes, essas coisas que os mortais costumam ter. O fato é que a alta definição consegue mostrar aquilo que todo mundo quer esconder: a verdade.
Fiquei pensando em como seria legal se a gente instalasse um sistema HD em nossa mente. Não para ver as coisas externas, os detalhes estéticos, mas a verdade sobre o que realmente querem nos dizer com todas as informações que uma novela passa. Seria no mínimo interessante.
Entra novela e sai novela e as temáticas não mudam muito: dinheiro, sexo, poder, trapaças, traições, distorções de valores e um pouco de humor caricato, que ninguém é de ferro. Mas quando eu ligo meu HD mental, posso ver um pouco mais sobre o que está por trás disso.
Quando a personagem trai o marido com rapazes mais jovens de maneira muito natural, meu HD mental me diz que a sociedade de massa, quando receber essa mensagem não vai decodificá-la como deveria. Vai assistir, vai achar normal, porque já está anestesiada, vai incorporar ao seu próprio comportamento e a vida vai seguir cada vez mais torta.
Quando os protagonistas são bonitos, intensos, perspicazes e conseguem imprimir um pouco de vida na rotina de seus telespectadores que só fazem trabalhar, eles podem até não ter o melhor caráter e o comportamento mais adequado, mas no final, lá no fundo, todo mundo acaba quase que torcendo por eles.
Se você acha que eu estou exagerando, perceba as entrevistas de artistas quando estão protagonizando papeis polêmicos. Geralmente, se são vilões, chegam a ser agredidos na rua. Foi o caso do ator Jackson Antunes, quando viveu o papel de Leonardo na novela “A Favorita”. Por causa das maldades de seu personagem, Jackson, que já sofre de problemas de saúde relacionados a uma trombose na perna, foi parar no hospital e quase teve um agravamento do quadro. E por que isso acontece? Porque as pessoas não sabem mais diferenciar o real do imaginário. Simples assim.
As novelas fazem as pessoas acreditarem em uma vida melhor sem esforço, onde trabalho duro não leva a nada, onde marido bom é marido bonito, onde boa esposa é a do vizinho, onde as coisas se resolvem por acaso. Aí a dona de casa, cansada de um dia cheio de fogão-tanque-pia olha pro maridão sentado atrás do jornal, que já não tem mais a barriguinha do Cauã Reymond e o sorriso do Rodrigo Lombardi e pensa: o que é que eu estou fazendo aqui?
Assim como muitos homens, que também são noveleiros, olham para as belas atrizes que vivem da imagem e para a imagem e então olham para suas esposas, que vivem para a casa, o trabalho e os filhos e procuram o botão ejetor do sofá. Pequenas crises são sutilmente instaladas nos lares, porque os cônjuges não conseguem mais superar as altas expectativas que as novelas incutem em suas mentes, sobre como deveriam ser os relacionamentos.
Então os autores das novelas dão entrevistas sobre como é “bacana” poder usar o horário nobre para causas sociais, para abrir espaços de discussão e por aí vai. Mas qual é o ônus dessa tão importante oportunidade? É como dar um presente envolvido em muitas caixas vazias, até que lá no fundo se encontre uma pequena caixa com o conteúdo, que nem sempre é tão genuíno quanto parece. Depende do quão bem seu HD mental está funcionando.
A discussão sobre quem influencia quem, se a televisão mostra o que o povo quer ou o povo quer porque a televisão mostra é multifacetada e eterna. Mas uma coisa é certa: quanto menos qualidade se apresenta na telinha, para garantir audiência, mais decadência moral se instala sorrateiramente na vida da família brasileira.
Nosso sistema de High Definition mental é muito mais poderoso do que este que a tecnologia desenvolveu para melhorar a qualidade de imagem. Basta um pouquinho de vontade de querer usá-lo e, a princípio, pode ser até assustador enxergar tão claramente coisas sobre as quais antes só se tinha uma vaga ideia. Mas com certeza vale à pena tentar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Homens maus, mulheres românticas e autoridades incompetentes


Sempre achei que culpar as autoridades por tudo o que acontece ao nosso redor é uma forma de lavar as mãos e fingir que a responsabilidade é de alguém e nunca da gente. Mas tem uma questão que está me incomodando bastante e sobre a qual penso que falta um dedinho de autoridade, especialmente a legisladora.
Nos últimos meses a mídia nos “jogou na cara” inúmeras reportagens sobre homens que mataram suas mulheres ou namoradas em virtude da separação. E não bastasse isso, alguns deles mataram também os filhos ou em alguns casos, apenas os filhos, como forma de vingança.
Temos aí dois problemas terríveis. O primeiro é o do homem, que comete uma atrocidade destas. E o segundo é o da imprensa, que noticia. Há um bom tempo atrás, este tipo de notícia era evitado, principalmente se o homicídio fosse seguido de suicídio, pois a ampla divulgação pode gerar o fenômeno da cópia, ou seja, pessoas mentalmente prejudicadas ou em depressão podem se sentir estimuladas a fazer o mesmo. Está lá, no código de ética dos jornalistas, caso alguém ainda saiba o que isso significa.
Mas já que foi e é noticiado, vamos discutir. O recado é claro: as mulheres querem viver suas próprias vidas, fazer suas escolhas, ser independentes, se libertar de relações de abuso e violência? Que paguem por isso então. E com a vida, sua ou dos próprios filhos.
Não quero fazer apologia à separação, longe disso. Sou adepta da idéia de que todo casamento tem salvação e de que essa conversa de “incompatibilidade de gênios” nada mais é do que inabilidade para lidar com as diferenças. Mas ninguém é proprietário de ninguém, para se achar no direito de cercear a liberdade do outro e até de tirar-lhe a vida.
Dados na Anistia Internacional relatam que cerca de 70% das mulheres assassinadas no mundo são vítimas dos próprios maridos ou companheiros. No Brasil, a cada 15 segundos uma mulher sofre violência doméstica e leva em média, de 10 a 15 anos para efetuar uma denúncia.
A chamada à reflexão serve também para as mulheres. Esse tipo de comportamento autoritário, arbitrário e explosivo surge lá atrás, durante o namoro. Só que românticas que somos, pensamos que ele vai mudar ou até fechamos os olhos para não ver. Ah, ele acabou com as minhas amizades, mas elas eram ruins mesmo. Confiscou meus contatos telefônicos e minha agenda, mas foi para me proteger. Liga de meia em meia hora, mas certamente é porque me ama muito. Cuidado! Seu pincher pode se transformar em pitbull, mais cedo do que você imagina.
A fase do namoro é muito importante para conhecer a pessoa com quem se pretende passar o resto da vida. E ninguém muda de uma hora para outra. Se ele parece controlador durante o namoro, no casamento não vai ser diferente e pode ser até pior. Boas escolhas costumam resultar em felicidade, salvo raras exceções.
Mas aí a mulher não escolheu muito bem ou teve uma tremenda surpresa com a mudança de comportamento do marido, que passou a ser violento e ameaçador, gerando um desgaste emocional imenso. Azar o dela? Não, jamais! Aí é que entra a questão onde falham as leis e as autoridades competentes. A lei Maria da Penha é ótima, mas falta cumpri-la à risca. Mulheres e crianças que estão sofrendo ameaças devem ser protegidas de maneira eficaz e não apenas em tese.
As leis precisam ser severas e a punição precisa ser exemplar. Em algum momento isso tem que cessar. Não é possível admitir que a cada dia mulheres sejam assassinadas ou percam seus filhos porque não suportaram viver sob o teto de uma subordinação danosa.
Ou seja, as mulheres precisam escolher melhor, as autoridades precisam agir mais rápida e eficientemente e os homens precisam abrir mão da sua necessidade de controle e domínio. Se quiser conquistar uma mulher e tê-la para sempre ao seu lado, liberdade e respeito devem estar na sua lista de qualidades.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Antes que seja tarde


Imagine a vida doméstica antes da revolução industrial. Você sentada na sala, bordando uma linda toalha de mão, vestindo uma longa saia, com as crianças aos pés, ensinando quadrinhas e cantigas de roda. Monótono não?
Agora pense na sua vida diária hoje, em pleno século XXI, onde não só foram abolidas as saias longas, os bordados e as cantigas de roda, mas principalmente a presença dos pais na vida dos filhos. Um salto, uma mudança abrupta, um progresso cujo preço incomensurável é medido pelas estatísticas da violência e do abuso infantil.
Não podemos mais pensar em uma família que desempenhe os mesmos papéis do passado, quando os homens sustentavam a casa e as mulheres cuidavam dos filhos. As coisas mudaram, as mentes mudaram. O mundo mudou. Mas não podemos mais admitir que as crianças sejam sacrificadas pela necessidade que seus pais têm de sobreviver e até um pouco mais do que isso: de consumir.
Mas é exatamente isso que temos feito com as crianças. Deixamos estas folhas de papel em branco à mercê de qualquer tipo de tinta. E as histórias que se escreve nem sempre tem sido as mais belas e com finais felizes, como nos contos de fadas, que há muito não se conta mais.
De acordo com a Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na Infância, de hora em hora no Brasil morre uma criança queimada, torturada ou espancada pelos próprios pais ou parentes próximos. 12% das 55,6 milhões de crianças brasileiras menores de 14 anos são vítimas anualmente de alguma forma de violência doméstica. Ou seja, por ano são 6,6 milhões de crianças agredidas, dando uma média de 18 mil crianças vitimizadas por dia, ou 750 crianças vitimizadas por hora ou ainda, 12 crianças agredidas por minuto.
Quando essa violência ocorre dentro de casa, por um dos pais ou responsáveis ou pelos dois é um problema social, uma chaga que precisa ser curada. Geralmente esse mal atinge as classes mais baixas da sociedade e está relacionado ao alcoolismo, ao desemprego e a um grande número de pessoas ocupando um mesmo cômodo da casa.
Porém, quando a criança é agredida ou abusada fora de casa é porque não estão prestando atenção em sua vida, nos lugares aonde vai, com quem anda e se está ou não segura. Muitos pais permitem que seus filhos sumam por algumas horas para ter um descanso. Mas basta uma hora para a tragédia acontecer e mudar completamente a vida dos envolvidos.
Diante de tantas notícias de atrocidades cometidas por pessoas doentes, não podemos ignorar a responsabilidade que recai sobre quem detém a guarda de uma criança. Não podemos nos dar ao luxo de sermos ingênuos em relação ao ser humano e confiar as crianças a pessoas que muitas vezes, nem mesmo conhecemos profundamente.
Gostaria de viver em um mundo onde fosse possível pedir ao vizinho que olhasse as crianças para uma rápida ida ao supermercado ou onde se pudesse permitir que as crianças brincassem livremente na rua ou voltassem para casa sozinhas depois da escola. Mas essa utopia tem levado milhares de pequenos inocentes a conhecer as agruras de uma vida adulta muito antes de ter idade para isso.
Fico angustiada quando assisto a um noticiário que mostra uma destas situações em que crianças foram abusadas e os pais afirmam que jamais poderiam imaginar que aquela pessoa fosse capaz de fazer isso. Não posso admitir que uma pessoa conceba filhos que não irá proteger e pelos quais não poderá zelar, escondendo-se atrás de uma pretensa ingenuidade. Se você não é capaz de pressentir o perigo atrás de um sorriso ligeiramente generoso, não arrisque. Nestes casos, prefira pecar pelo excesso a ter que conviver eternamente com a culpa de não ter cumprido sua parte.
Todos os anos meu pai doa uma sacola de alimentos e brinquedos para a mesma família carente no Natal. Eles moram em uma casa realmente precária, há frestas nas paredes e as condições não são as mais favoráveis. Mas a cada ano as crianças parecem mais saudáveis e felizes, porque a mãe está sempre por perto, evitando que cresçam nas ruas, sendo alvos fáceis para criminosos. Faltam roupas de marca, videogames e quartos temáticos, mas sobra tempo para ser criança, em toda a essência da palavra. E são estes paradoxos que nos fazem pensar sobre o que é de fato importante para uma criança. Tenho certeza de que elas preferem os pais em casa, cuidando de sua integridade, do que sempre trabalhando, para pagar os melhores brinquedos e as escolas mais caras.
É preciso cada dia mais conversar com as crianças, envolvê-las num círculo de confiança e afeto, pois isso vai evitar que elas sejam enganadas por falsas promessas de carinho. É preciso diminuir o ritmo frenético das atividades diárias e parar de delegar a outros a tarefa que é única e exclusivamente dos pais ou responsáveis: a de amar e proteger os filhos. Isso nem deveria ser tão difícil assim.

Outro Brasil


Um dia meu marido me perguntou se eu gostaria de ter nascido em outro país. Na hora não soube responder, apenas disse que achava que não, evasivamente. Hoje estou pensando naquela pergunta e já defini a resposta: não. Eu gostaria apenas de ter nascido em outro Brasil.
Explico. Todos os países do mundo têm seus problemas, porque o mundo tem problemas. Em Bangladesh tem 27 mil pessoas por quilômetro quadrado então, não, obrigada. Nos Estados Unidos não se pode sorrir para uma criança na rua, e apertar a bochecha dela então, pode dar até processo. Em Cuba a saúde é totalmente gratuita e nem por isso é ruim, aliás, é ótima, mas há muita gente fugindo de lá, sem poder voltar nunca mais.
Uma vez, quando era estudante entrevistei o jornalista Mino Carta, para uma matéria do curso. No meio da entrevista a filha dele ligou de Londres e após desligar, ele rapidamente comentou sobre como ela se surpreendia com as diferenças entre lá e cá. “Lá, as pessoas leem livros nos trens”. Aqui também! Sempre que pego o metrô vejo pessoas lendo livros. Elas e as pessoas que por uma questão de espaço acabam tendo que ler também, o mesmo livro e bem de pertinho.
Cada país tem sua cultura, seus costumes e seus problemas. Mas eu gostaria sim que o Brasil fosse um pouco diferente. Muito, para dizer a verdade. E como esta coluna é sobre mulheres, vou falar apenas deste aspecto e não sobre a política, a economia e o desastre anunciado no Rio de Janeiro.
Fico bastante envergonhada com o meu gênero quando somos lembradas lá fora pelo que fazemos aqui dentro. Podemos culpar os estrangeiros por pensarem que no Brasil, as mulheres usam folhas de parreira no lugar das roupas? Ou que tem praia no shopping, na balada, nos programas de televisão? Creio que não.
Também sinto vergonha do gênero quando a noiva de um famoso craque do futebol aceita dele o dobro do dinheiro que ganharia para posar nua. E aí fico totalmente corada quando meus colegas de profissão tornam isso uma notícia. Me corrijam se eu estiver errada, mas não bastaria ele pedir? Não é à toa que o relacionamento não vingou.
A preocupação das brasileiras em manter a estética impecável está suplantando em muito a preocupação em manter a mente inteligente. Gostaria de usar uma palavra mais branda, mas burrice é o que se adapta mais confortavelmente ao caso. Cada dia mais belas, cada dia mais burras.
Claro que a mudança de paradigmas sempre pode nos surpreender. Este ano temos duas candidatas à Presidência da República, pela primeira vez em 25 anos de democracia. Mas a caminhada no sentido de fazer com que as mulheres brasileiras sejam lembradas por algo mais do que beleza e disponibilidade é longa.
Para isso acontecer temos que sair das discussões triviais que permeiam o imaginário feminino e explorar um mundo de possibilidades mais concretas e sensatas. As mulheres querem dominar o mundo inteiro e esquecem seu universo particular. Sejamos rainhas de nossos lares primeiro e depois, partamos para patamares mais elevados. Imprimindo aos poucos na sociedade, os valores que cultivamos primeiramente em casa, passaremos a ser lembradas por legados mais dignos do que os que nos perseguem hoje. O problema é que mesmo em casa a mulher não sabe mais quem é.
Confundimos exposição com impressão, pensando que em quanto maior quantidade estivermos espalhadas por aí, não importa fazendo o que, conquistaremos tudo aquilo que temos sonhado ao longo dos anos. Mas neste caso sou mais a favor da qualidade.
Muitos brasileiros ficaram ofendidos com a piada de mau gosto do ator americano Robin Williams, por ocasião da escolha do Brasil para sediar as Olimpíadas de 2016. Ele disse durante uma entrevista, para um talk show: “espero que ela (Oprah) não esteja chateada de perder as Olimpíadas. Chicago enviou Oprah e Michelle. O Brasil mandou 50 strippers e meio quilo de pó. Não foi justo”.
Também fiquei chateada, especialmente porque a piada veio de um americano, cujo país lança bombas sobre civis para defender uma suposta supremacia galgada em atos deliberados de dominação e exploração. Mas não posso culpá-lo por pensar assim. Muitas brasileiras querem enfrentar e ganhar o mundo de costas para ele.
Seremos bem vistas lá fora, quando aqui dentro, em nossa casa, aprendermos a fazer com que, do pescoço para baixo, sejamos apenas mulheres e não moedas de troca. Quando nossa voz for ouvida pelas nossas ideias e não pelas nossas medidas, o resto do mundo nos olhará nos olhos e entenderá que um grande país é feito de pessoas e não da exploração do que elas têm a oferecer.
Em contrapartida, o Brasil precisa rever as políticas públicas relacionadas às mulheres, que em grande parte são inclusivas apenas na letra. Precisa agregar os valores demonstrados pelas mulheres verdadeiramente brasileiras (aquelas que não desistem nunca) ao seu modo de pensar e gerir a sociedade. Onde há planejamento eficiente e ação eficaz, certamente há um toque feminino.

Fechando janelas



Sentada diante da página em branco julguei bastante difícil escrever a coluna deste mês. Pensei em temas dos mais variados, desde a complicada relação homem e mulher até a origem do salto alto, que fez aniversário no mês de março. Mas cada vez que o cursor piscava na tela, só conseguia pensar em Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, assassinada pelo pai e pela madrasta, conforme concluiu o julgamento de ambos, ainda fresco nos noticiários e na memória coletiva.
E quando penso nesta Ana que ganhou a empatia da nação tupiniquim, me refiro também a todas as outras milhares de Anas que já passaram pela mesma dor. Ainda não tenho filhos, não posso imaginar como se sentem. Mas qualquer pessoa que não sofra de uma psicopatia é sensibilizada pela dor alheia. E a vida é cheia de histórias tristes e absurdas, como a de um pai que lança a filha para a morte.
Não quero falar de justiça ou do que transcende nosso entendimento. Nem discutir as causas ou a antropologia e sociologia dos fatos. Quero apenas pensar em como nós, mulheres, nos preparamos para a difícil tarefa de ser mãe e de educar seres humanos que um dia conviverão em sociedade e terão de resolver conflitos.
No rígido processo educacional do passado, os pais espancavam os filhos quando eles erravam. Quando não chegavam a tanto, não lhes davam o direito de defesa, de argumentação. Impunham castigos pesados, como ajoelhar no milho ou a famosa palmatória. Mas aí como somos exagerados em tudo que fazemos, passamos deste extremo para a completa negação da responsabilidade de educar.
Hoje dizer não a um filho é quase como torturá-lo com crueldade. Limites são para as classes sociais menos favorecidas, para que aprendam a conviver dentro da sua marginalidade, sem ultrapassar os muros da periferia. Disciplina é coisa do exército e repreensão é atitude arbitrária que deve passar longe da estrutura familiar pós-moderna.
Quando os pais defendem o filho sabendo que está errado estão assinando um cheque em branco para a vida. E sabe-se lá com que cifras será descontado. Crianças sem limites serão adolescentes sem limites e adultos sem limites. Hoje estão mordendo coleguinhas de escola, amanhã estarão dirigindo bêbados e sem habilitação e depois de amanhã estarão jogando filhos pela janela.
Educar em uma esfera de confiança e afeto deve ser o melhor caminho. Não o mais fácil, porque envolve uma enorme demanda de pequenos sacrifícios. Envolve fiscalização do conteúdo que estão acessando na internet, saber onde e como vivem os amigos, levar e buscar nos mais diversos programas, participar das reuniões escolares, exigir bom comportamento e atitudes positivas e principalmente muito diálogo. Em algum momento, janelas terão de ser fechadas diante deles, para evitar desastres futuros. Mas quem tem tempo para isso hoje?
Chamem de ultrapassado, arcaico ou moralista, mas ainda acho que algumas coisas da educação antiga deveriam ser resgatadas. Não a rigidez e a falta de diálogo, mas a idéia de que a educação para a vida é uma prerrogativa dos pais e não deve ser delegada ou ignorada. Sou do tempo em que a vinheta de despedida do Jornal Nacional era o anúncio da hora de dormir e agradeço aos meus pais por isso. Não acho que depois deste horário haja mesmo alguma coisa de interesse para as crianças na televisão.
Quando uma mãe toma o recém-nascido nos braços não está esperando que ele se torne um assassino no futuro. Mas esse negócio de acreditar que o destino é quem determina isso é uma das piores desculpas para a falta de empenho em torná-lo algo melhor. Se você está pensando em ter filhos, além do lindo nome dele, borde nas toalhinhas as palavras: confiança, afeto, limites e disciplina. Se você não esquecer delas, ele certamente nem chegará perto das janelas.

8 de março: dia de arrumar o guarda-roupa


Tenho uma amiga que quando tem decisões muito importantes a tomar, arruma o guarda-roupa. Isso mesmo. Coloca abaixo todas as roupas, depois vai dobrando milimetricamente e colocando no lugar. Leva horas e pelo jeito funciona.
Pensando nisso, neste mês que é tão importante para nós mulheres, achei que seria interessante dar essa dica: arrume seu guarda-roupa! Tire tudo lá de dentro, indiscriminadamente, faça a maior bagunça e depois, vá arrumando aos poucos. Você pode se surpreender com o resultado.
A vida passa tão depressa e impomos a nós mesmas uma rotina tão extenuante, que quase não percebemos o quanto deixamos de tomar decisões fundamentais. As coisas vão acontecendo, sem planejamento e entre “sins” irrefletidos e “nãos” imponderados perdemos a capacidade de decidir com clareza e assertivamente.
Se comemoramos esta data hoje, com flores, bombons, cartões, jantares ou mesmo um rápido “feliz dia” é porque alguém, no passado, teve a coragem de tomar uma decisão. E não foi uma decisão simples como o que fazer para o jantar, mas uma decisão dessas que mudam o curso da História.
O Dia Internacional da Mulher foi criado em homenagem a 129 operárias que morreram queimadas em uma ação da polícia para conter uma manifestação em uma fábrica de tecidos. Essas mulheres estavam pedindo a diminuição da jornada de trabalho de 14 para 10 horas por dia e o direito à licença-maternidade. Isso aconteceu em 8 de março de 1857, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Foi uma decisão e tanto, já que naquele tempo as mulheres tinham passado de vaquinhas de presépio a burros de carga. Era difícil encontrar o equilíbrio, como é até hoje, mas alguém teve que decidir que aquilo não estava certo. E pagou caro por isso. Portanto, honre a memória daquelas 129 mulheres e arrume seu guarda-roupa.
Temos que decidir sobre coisas que fazem diferença na vida, como profissão, amor e religião, mas também temos que levar essas coisas adiante e fazer com que sejam reais em todas as esferas da nossa existência. Temos que avaliar constantemente se a profissão escolhida continua nos satisfazendo, se o amor está nos fazendo crescer ao invés de retroceder e se a religião nos torna pessoas melhores.
As decisões importantes são diárias e afetam também as pessoas ao nosso redor. Quando você decide o que coloca na mesa, está influenciando a sua saúde e a dos que dela se servem. Quando liga a televisão para assistir BBB na presença das crianças, está definindo quem serão os exemplos de conduta da sua família. É uma grande responsabilidade, mas é preciso assumi-la, diariamente.
Ao colocar cada peça no lugar, dobrando e ajeitando nos espaços, nas gavetas, nos cabides, avalie as decisões que tem tomado. Reveja seus conceitos e a forma como influencia as pessoas que convivem com você. Quem sabe entre uma camisola e uma calça jeans, você descubra que é hora de começar tudo outra vez.

Nossos ídolos ainda são os mesmos


Em 1976 Elis Regina fez o maior sucesso com uma música composta por Belchior, que até hoje é uma das mais tocadas pelas rádios brasileiras. “Como nossos pais” fala do tempo, das gerações e de como algumas coisas não mudam. Seria a cultura genética ou temos errado na transmissão de valores há muitas gerações?
Na verdade de todas as afirmações da música, a que mais me intriga é que “nossos ídolos ainda são os mesmos”. Entra geração e sai geração e continuamos reverenciando pessoas vazias, de comportamentos duvidosos e influência negativa. E o que é pior: continuamos incutindo nossos ídolos às novas gerações.
As crianças precisam aprender a separar a obra de uma pessoa, de sua vida. Pode-se tranqüilamente, por exemplo, admirar as músicas de Cazuza, sem pretender que ele tenha sido um grande homem, digno de uma estátua. O mesmo serve para Renato Russo, Raul Seixas, Michael Jackson, Bob Marley, a própria Elis Regina, que teve a maior voz brasileira de todos os tempos, mas que morreu de overdose, deixando os filhos pequenos e assim por diante. A fila é grande.
Em nossa geração temos uma grande carência de ídolos. As pessoas admiram e idolatram por motivos cada vez mais indignos. Geisy Arruda virou ídolo por usar um vestido curto. Ganhou música, apliques de cabelo, capas de revista. Bruna Surfistinha ganhou um filme. Pessoas passaram mal na porta do hotel onde Madonna ficou hospedada quando esteve no Brasil. Sarney’s dão nome a praças, ruas, instituições.
Quando deixamos que uma criança aprenda com a televisão quem são os seus ídolos, permitimos que ela crie uma falsa expectativa sobre a vida, sobre a resolução de problemas. Ela passa a reverenciar Ben 10, X-Men, Batman e uma infinidade de personagens inúteis, como se eles pudessem fazer alguma coisa boa, realmente. O pai já nem é mais admirado como antigamente, afinal, ele não atravessa paredes, não tem garras que saem do corpo todo, não destroi o inimigo com os olhos.
Somos parte de uma cultura que cada vez mais cultua a futilidade. Surgem de todos os lados programas de televisão e páginas da internet destinadas a especular a vida das celebridades. Divulgam o que vestiram, com quem saíram, o que comeram no jantar, o que fizeram no fim de semana, o que compraram, com quem falaram. E quem assiste ou acompanha passa a fazer parte de um mundo que não é real. Tecnologicamente possível, virtualmente acessível, mas humanamente pobre.
Prova disso é que atitudes nobres são tão escassas que viram notícia. Vez ou outra aparece por aí, alguém que encontrou um pacote de dinheiro no lixo ou uma mala de pertences importantes num banheiro e devolveu. Deveria merecer destaque? Sim, pela raridade com que acontece, e não, porque é o certo a fazer, o óbvio, o indiscutível.
Pegue seu filho pela mão e leve para pedir autógrafo a alguém que criou 10 filhos sem nunca ter roubado. Mostre a ele um casal de velhinhos de mãos dadas, um pedreiro construindo um complexo viário, alguém que perdoou o assassino do filho, que é feliz em uma cadeira de rodas.
Ensine seu filho a admirar os personagens da História que realmente fizeram alguma coisa importante, que deram a vida por um motivo nobre. Em vez de ficar em casa “contando o vil metal”, ensine-o a reverenciar feitos menos efêmeros, cuja importância será percebida através da eternidade. E quem sabe um dia, você terá composto uma canção bem diferente desta.

Enfim, uma resposta




Passamos a maior parte de nossa existência atormentando os homens com mistérios que estão latentes em cada discussão de relacionamento. A pergunta “o que as mulheres querem, afinal?”, parece estar estampada em neon e piscando, sobre cada testa masculina que se move sobre o universo.
Além desta questão intrigante e altamente decisiva para a prosperidade das relações há outras implícitas e um pouco menos filosóficas, mas que demandam, certamente, alguns minutos de reflexão diária a cada homem que já deixou uma gravata no braço do sofá ou um sapato a alguns centímetros da caixa: (a) por que as mulheres reclamam tanto? (b) o que deixa uma mulher realmente feliz? (c) elas nos querem em casa, fazendo o serviço doméstico, ou no trabalho, provendo o sustento da casa?
Colaboração é o centro de toda a batalha entre os sexos que atravessa os séculos, muda de cenário, mas está sempre ali, de uma forma ou outra. Quando pedimos que as roupas voltem ao seu local de origem, que é o guarda-roupa, após serem utilizadas ou ao cesto de roupa suja, quando for o caso, não estamos pedindo que os homens abandonem a importante tarefa de assistir ao esporte para fazer todo o processo de lavagem da roupa ou organização do guarda-roupa. Estamos apenas pedindo um pouco de colaboração.
Quando chegamos exaustas de um longo dia de trabalho e queremos conversar sobre o colega chato que fala sem parar ou sobre o chefe insensível, não estamos pedindo que os homens abram uma planilha do excel com 1.326 possibilidades de resolução do problema e com dados estatísticos que comprovam a probabilidade de 78% de alguma delas dar certo. Estamos pedindo apenas, um ouvido, um colo, um abraço. Colaboração, resumindo.
Por outro lado, quando saímos para trabalhar, estamos apenas querendo colaborar. Não estamos assumindo a responsabilidade financeira da casa e nem pedindo para sermos chefes de família. Porque aprendemos dolorosamente que nossa projeção no mercado de trabalho não nos destituiu dos afazeres domésticos, apenas acrescentou mais algumas horas a nossa dupla jornada de trabalho.
Obviamente que a realidade é bem diferente. Pelo menos no Brasil, essa tal colaboração está se transformando em vaga lembrança para um terço das mulheres que trabalham fora. Conforme pesquisa divulgada no dia 9 de outubro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 34,9% das mulheres que estão no mercado de trabalho também são chefes de suas famílias. A pesquisa também mostrou que mesmo quando há um homem presente no lar (9,1% dos casos) a mulher é a pessoa de referência da casa.
E se você duvida da pesquisa, dê uma boa olhada para seu filho de 15 anos deitado no sofá da sala. Os homens estão cada vez mais dependentes das mães, que se tornaram o maior referencial de vida dos filhos. Há bem pouco tempo atrás, os filhos homens ligavam para o pai quando seus namoros entravam em crise e quando a vida profissional não ia bem. Hoje, eles ligam para a mãe, sem pestanejar. Quem dera todas as mulheres tivessem a sabedoria da minha cabeleireira Elis, que não faz comentários sobre a nora perto do filho, pois não quer influenciar, já que ela sabe o peso que sua opinião exerce sobre ele.
A resposta então, não poderia ser mais simples. O que as mulheres querem, afinal? Colaboração. O que deixa uma mulher feliz? Um homem colaborando. Por que as mulheres reclamam tanto? Porque falta colaboração. E por fim, se queremos que os homens abandonem o trabalho fora de casa para fazer as tarefas domésticas? Claro que não. Queremos mesmo é só um pouquinho de colaboração!
Ah, só para exemplificar, a pesquisa também indicou que o número de horas semanais dedicado a tarefas domésticas pelas mulheres é de 20, 9 e pelos homens, 9,2. E se alguém conhecer um homem que trabalha tudo isso em casa, emoldure e pindure no meio da sala. Pode valer milhões em leilões de raridades.

Mulheres maduras: quem poderá detê-las?


Fazemos parte de uma sociedade que nada mais é do que um fruto do pensamento ocidental, de que o avanço da idade nos faz piores e de que a perda da juventude é o fim da produtividade e por conseqüência, da utilidade. Vemos isto claramente no abandono dos idosos, na desvalorização do emprego na maturidade, nas campanhas publicitárias, no seio familiar.
Mas isso precisa mudar e pouco a pouco é possível perceber iniciativas tímidas que podem favorecer uma revolução do pensamento popular. Uma pesquisa com mulheres na menopausa, conduzida pela Amerift Brands constatou que as mulheres maduras estão se divertindo muito mais agora do que quando tinham 20 anos. Acredito, porque mulheres de 20 anos têm muito a provar aos outros e as de 50, já não querem provar nada para ninguém.
No Brasil, as mulheres que têm entre 50 e 70 anos somam 15% da população. Segundo o IBGE, em 2025 este número chegará a 21%. Isto quer dizer que não podemos ignorar uma parcela tão significativa da população, fingindo que elas não estão aí, prontas para compartilhar sua experiência de vida, para acrescentar consistência a quem está na casa dos 20 e para continuar produzindo sim, mesmo em uma cultura onde as pessoas se tornam descartáveis à medida que envelhecem.
Tenho uma amiga que fez 50 anos no mês passado. Nunca vi ninguém tão feliz por completar meio século de existência. Acho incrível, já que a maioria das mulheres que conheço, quando chegam nesta idade começam um ritual de autocomiseração que seria engraçado, se não fosse triste. Longas sessões de tratamentos de beleza, plásticas para parecer alguém que não são, terapia para enfrentar o envelhecimento, apego ao passado, ufa! Esta preocupação toda sim deve acrescentar muitas rugas a quem tenta fugir tanto delas.
Assim como existem pessoas que desistem antes dos 30, vemos se multiplicando exemplos de pessoas que voltam a estudar depois dos 50, que se casam de novo, que realizam projetos pós-aposentadoria, que fazem a vida acontecer. Idade acaba se tornando um conceito relativo, quando entendemos a vida como um espaço de tempo que precisa ser muito bem aproveitado.
Precisamos parar de tentar encaixar as pessoas nas engrenagens da máquina capitalista, tornando cada dia mais vulneráveis aqueles que deixam de fazer parte do processo de produção. Toda e qualquer pessoa tem muito valor enquanto estiver viva e até mesmo depois disto, afinal, sua memória será lembrada pelo que fez ou deixou de fazer.
Todas as mulheres maduras parecem possuir um segredo inerente, um mistério. Elas podem ir muito longe quando encontram pelo caminho pessoas que valorizam suas conquistas e que se propõem a desvendar este mistério. Tão longe que ninguém poderia detê-las. Aliás, ninguém, em sã consciência, ia mesmo querer detê-las.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Hollywood e a Realidade


Algumas mulheres têm muita dificuldade de enfrentar a realidade. Isso é fato. Preferimos nossas quimeras, nosso mundo paralelo, nossa zona de conforto, a um tanque de roupa suja ou uma porta na cara. Dói para todo mundo, mas para essas mulheres dói mais, dói quase que fisicamente.
Essas mulheres são aquelas que continuam suspirando por horas depois do final do filme, que criam frestas com os cotovelos na janela, que têm amor à dor e já não sabem como sair dela. Acostumam, quase gostam.
Conheço uma que sofreu tanto com o fim de um relacionamento que estabeleceu uma meta: só vou namorar de novo quando eu, um dia, sem querer e sem planejar, descobrir que estou apaixonada por alguém que tenha se tornado meu melhor amigo e que tenha descoberto a mesma coisa, ao mesmo tempo. Acontece, muito, o tempo todo. Só que em Hollywood, não aqui.
E nos filmes, por mais que demore um pouco e que aconteçam desencontros, tudo acaba bem, com trilha sonora, com paisagens inesquecíveis, com tudo a que um grande amor tem direito. E melhor do que tudo isso é o fato de que no começo você já sabe como será o fim. Altamente previsível e seguro.
Esconder-se atrás de uma tigela de pipoca funciona por algum tempo, porque você está tão isolada que quase ninguém percebe. Só que de vez em quando, o filme acaba e a pipoca esfria e inevitavelmente vai ser preciso levantar e se aventurar em busca de um pouco mais do que um final “água com açúcar”.
E aí, as possibilidades de reescrever uma nova história são inúmeras. Basta ter a mente e o coração abertos e esperar sem estar esperando. Parece confuso, mas é bem simples. Criar expectativas demais nos faz acreditar que qualquer esbarrão na rua é uma mãozinha do destino. E não ter expectativa nenhuma nos deixa à beira de uma cegueira emocional.
Não existe um segredo. O segredo é persistir em enfrentar a realidade tal qual ela se apresenta.
Vamos então à realidade: se a vida fosse um filme, certamente não seria um romance. Teria um pouco de tudo sim, comédia, ação, suspense, drama e até terror. Mas romance completo, difícil.
Seria romance até a primeira TPM, até a primeira toalha molhada sobre a cama, até o primeiro choro noturno do bebê, até a primeira briga de egos. Depois, romance mesmo, de verdade, daqueles em que o amor escorre pela tela, só num sábado à noite chuvoso, em que a locadora fica aberta até mais tarde. Isso porque o futebol é às quartas-feiras. Caso contrário, seria o drama do Ronaldo, o suspense do Muricy...
E que mal há na realidade? O seu príncipe pode não ser encantado e o cavalo dele pode ser um fusca branco, mas se ele está lá quando você realmente precisa, desça das nuvens e venha fazer companhia a todas nós. Valorize o que as pessoas têm de bom e minimize um pouco os defeitos. Dê mais de si do que espera receber e quem sabe, você vai se surpreender com um final que nem mesmo Spielberg seria capaz de criar.

Dizer Dizendo


Eu já tive um blog. Achei interessante, mas cansei e desisti. Hoje a profissão e a vida me levam a compartilhar meus textos de novo. Mas não pretendo fazer um diário virtual, até porque, minha vida é bem mais interessante para mim, do que para os outros. Mas vou postar os textos que escrevo para a revista onde trabalho atualmente, especialmente sobre o universo feminino, que insistem em chamar de complicado. É simples, posso garantir. Bom, eu só quis dizer dizendo e se alguém ler, melhor ainda.