quarta-feira, 11 de maio de 2011

Guarde para você


Há tempo quero escrever sobre algo que me incomoda muito em nossa sociedade, mas não sei bem por onde começar. Tem certas coisas hoje em dia, que parecem “incriticáveis”. E falar sobre estas coisas de maneira negativa, faz com que as pessoas pensem em você como alguém retrógrado, como se valores tivessem prazo de validade.
Mas eu vou falar. Não tenho medo de rótulos que me definam como ultrapassada. Tenho medo sim, de ser omissa e um dia criar filhos que tenham vergonha de assumir seus valores, porque não conseguem viver com isso. Eu prefiro me encaixar em algum lugar de um passado bem distante, do que viver em um presente onde nada na vida tem realmente um propósito.
A questão é: detesto pessoas que vão à mídia falar sobre sua vida sexual. Mais especificamente, tenho vergonha de mulheres que falam sobre suas intimidades para a imprensa, a fim de causar polêmica. Explico. Primeiro, porque não acredito nelas. Eu não estava lá (graças a Deus!) e, portanto, nunca saberei se disseram a verdade. E segundo, porque tenho a nítida impressão de que falam sobre estas coisas, apenas para criar uma imagem sexy de si mesmas, para se vender aos programas de televisão, revistas e campanhas publicitárias. Puro marketing.
O bombardeio de informações ocasionado principalmente, pelo boom tecnológico que faz parte da vida cotidiana do nosso século, preenche cada minúsculo espaço destinado ao raciocínio, em nosso cérebro. Uma pesquisa sobre o volume de informações que uma pessoa recebe durante a sua vida, feita em 2008 (olha que já faz tempo!) nos Estados Unidos, constatou que cada pessoa recebe informação equivalente a 174 jornais, por dia. Se cada um desses jornais fosse vendido a um dólar, seria necessário mais do que a soma mundial de todos os PIB’s (Produto Interno Bruto) para comprá-los. Com toda a informação produzida em um ano, seria possível forrar todo o território da China com 13 camadas de livros. A quantidade representa 80 vezes mais informação por pessoa, do que armazenava a histórica Biblioteca de Alexandria, em seu tempo (século 3 a.C.).
Diante desta realidade, que impacto você acha que causa em uma pessoa - particularmente se for homem e casado - informações do tipo?: “se você não enviar fotos nua ao seu namorado, então eu me sinto mal por ele”; “já explorei obsessão e fetiches sexuais estranhos’; “não faço sexo casual, mas não julgo mulheres que fazem, homens fazem isso o tempo todo”; “para uma noite quente, eu uso um casaco com nada embaixo”; “é claro que sou boa na cama, meu marido diz isso e tem muita experiência nessa área”; “eu não sou contrária a ser amarrada com lenços de seda”; “gosto de sair de casa sem calcinha”.
Estas são algumas frases, as menos agressivas, que coletei durante algum tempo, de “notícias” da internet. Elas estão espalhadas por aí, em páginas e mais páginas do mundo virtual, se infiltrando na mente das pessoas, se tornando corriqueiras e dizendo claramente a quem quiser ouvir: se você não for assim, desta forma, não é boa o suficiente para o seu marido. Estas frases, que geralmente estão fora de um contexto são pequenos passarinhos fazendo um ninho pernicioso no imaginário masculino.
E então estes homens voltam de seus escritórios para casa, depois de um dia inteiro em contato com frases e informações estimulantes e se deparam com mulheres normais, reais, que têm suas inseguranças em relação ao corpo, que trabalham em jornada dupla, que não tem acesso aos recursos financeiros que levam as atrizes e as celebridades a investirem fortunas em sua beleza e que se dedicam a fazer do lar, mais do que apenas um lugar onde se pode fazer sexo livremente. Que tipo de frustração você imagina que isso causa na cabeça destes homens? Já parou para pensar nisso ou acha que é exagero?
É claro que não há nada de errado com muitas das intimidades expostas por estas mulheres. Cada casal é responsável por aquilo que faz entre quatro paredes. O problema é justamente esse: deveria permanecer entre quatro paredes. Não é útil à vida de ninguém. Não há proveito algum para qualquer pessoa, saber o que a outra faz ou deixa de fazer com o seu parceiro.
Por isso, seria muito bom que cada qual guardasse para si aquilo que não diz respeito aos outros. Se querem vender uma boa imagem de si mesmas, que façam alguma coisa realmente útil à humanidade. Em alguns anos, quem sabe até décadas, a maioria destas mulheres terá sido esquecida tanto pela mídia, quanto pelas próximas gerações. Mas quem se dedica a fazer de sua vida um verdadeiro marco da existência, permanece na História eternamente.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A importância da mãe



Já é de praxe da publicidade em geral, comemorar massivamente o dia das mães neste mês de maio. Estamos acostumados. Levamos automaticamente a questão para o lado dos presentes e lembrancinhas. Mas a data merece uma reflexão mais ampla.
Minha geração reclama muito dos pais e das mães, porque talvez tenha sido a primeira permitida a fazer isso. Reclama que foram autoritárias, insensíveis, exigentes, que se esqueceram de quando eram jovens. E elas sempre dizem: um dia você vai ser mãe, vai entender o que estou dizendo. Nem chega a tanto. Quando se cresce um pouco mais e se tem uma carga maior de responsabilidade, nem é preciso ter filhos para compreender os erros cometidos pelos pais.
Uma das minhas lembranças mais queridas da infância envolve uma boneca chamada “roqueira”. Não se fabrica mais, mas ela era muito engraçada. O corpo dela era todo maleável, o cabelo era de lã azul e ela tinha velcro nas mãos, o que permitia que fosse colocada em diferentes posições. Eu tinha quatro anos e fui passar uns dias na casa de uma tia, em outra cidade. Quando voltei, a “roqueira” estava sentada na minha cama, de pernas cruzadas, com as mãos juntas sobre os joelhos e com certeza, minha mãe é que tinha “brincado” com ela. Eu era muito pequena, mas até hoje me lembro da sensação de “a minha mãe sentiu a minha falta”.
Outra coisa de que me lembro com saudade é que quando chegava perto da hora de dormir ou quando eu estava triste ou brava, minha mãe sentava na cama em “posição de índio” e me colocava naquele vão entre o tronco e as pernas. Ela dizia “vem para o meinho”. E ali no “meinho” a vida era um pouco mais fácil. Hoje em dia, quando as coisas se complicam, eu penso em como seria bom ainda caber no “meinho”, para que a vida se tornasse, outra vez, um pouco mais fácil. Mas, além de não caber mais ali, minha mãe também está a mil quilômetros de distância, então, não tem jeito mesmo.
Estas coisas me fazem pensar sobre a importância da mãe para o desenvolvimento do ser humano. Muitos dos monstros cruéis que tiram vidas sem piedade são pessoas que não tiveram mãe ou que tiveram uma relação complicada com ela. A mãe é alguém que, por mais que cometa erros ensina a pessoa a ser humana. É ela quem apresenta o mundo ao pequeno ser e mostra a ele como viver em sociedade. Caso ela falhe neste sentido, ele talvez nunca seja sociável. Mas em alguma coisa elas sempre acertam, ou então não haveria tantas pessoas boas no mundo, para fazer contraponto às que são más.
Diariamente a vida de milhares de mães ao redor do mundo é mutilada pela perda de filhos de maneira brutal. Impossível não lembrar nesta hora das mães de Realengo, no Rio de Janeiro, que no mês passado tiveram os filhos arrancados de seu convívio por um psicótico, cuja mãe biológica sofria de esquizofrenia, enquanto era viva. Estas mães, de braços vazios, jamais terão suas feridas curadas, embora talvez um dia, elas parem se sangrar.
Como estas há tantas e tantas mães com histórias tristes, de filhos mortos pelo tráfico, pela violência urbana, no trânsito e doméstica, pela fatalidade, pela doença, pela depressão, pelos motivos mais diversos. Para estas, a data será de dor e talvez, ao encontrarem o conforto no abraço de outros filhos, no carinho dos amigos ou na fé, tenham a tristeza amenizada.
Para as demais, que a data seja alegre, comemorativa e intensa, afinal, ser mãe é certamente um dos maiores privilégios concedidos às mulheres. Quem nos criou certamente sabia que a vida não seria nada fácil, com tantos afazeres, exigências, com tanta exploração e desvirtuação de valores. E quem sabe por isso, nos deu esta tarefa intransferível de conceber a vida como presente supremo da existência. Como filhas e como mães é nosso dever aproveitar a data ao máximo. Então, aproveite!