Ah a vida, essa danada. Um dia a
gente acorda e planeja tudo, como se viver fosse tão simples quanto fazer a
lista do supermercado. No outro, a gente percebe que já está vivendo e que o
planejamento nem sempre ou quase nunca sai do papel.
É bom planejar, aliás, é
fundamental. Tudo o que é planejado previamente é melhor executado. Funciona
bem com as férias, com o orçamento, com a construção da casa e até no controle
neonatal, embora muitas vezes, esse também falhe. Mas não funciona muito bem no
campo amoroso.
Não significa que sou a favor da
bagunça amorosa. Longe disso! Acho importante que cada pessoa tenha em mente o
que quer de um relacionamento, que tipo de pessoa procura, que valores são
importantes encontrar no outro. Só que nem sempre as coisas acontecem como a gente
planeja. A casinha cor-de-rosa com cerquinha branca, um cachorro no quintal e
uma fumacinha saindo da chaminé, às vezes é um quartinho nos fundos na casa da
sogra. Não é o ideal, mas é o real.
Muitas vezes você tem a vida toda
organizada na sua lista imaginária de como ela deveria ser: vou crescer,
estudar, me formar, trabalhar, comprar uma casa, um carro, fazer uma viagem
pela Europa e um clareamento dental. Depois disso vou estar no supermercado
fazendo compras, na sessão das frutas e, quando eu pegar o melão, alguém vai
fazer o mesmo gesto, vamos tocá-lo juntos, nossos olhares vão se cruzar, vamos
tomar um sorvete, nos apresentar aos pais, namorar por dois anos, noivar por
seis meses e casar numa capelinha, em algum vale ou colina por aí. Seria
perfeito não é?
Algumas vezes dá certo. Tem gente
que segue o planejamento à risca e é feliz. Mas nem sempre é assim. A vida tem
a estranha mania de jogar baldes de água gelada nos nossos sonhos e a gente tem
que contornar as curvas do caminho e achar um jeito de fazer dar certo, mesmo
que esteja fora do plano. De abraçar as oportunidades quando elas aparecem, em
vez de desperdiçar tempo tentando encaixar os acontecimentos na nossa listinha
de “meu mundo seria perfeito se”.
Não me deixam mentir todas as
pessoas que disseram “eu nunca”. “Eu nunca mais vou me apaixonar”; “eu nunca
vou namorar antes de”; “eu nunca me casaria com”; “eu jamais vou abrir mão de”.
A maioria delas teve que engolir as próprias palavras e geralmente, fez isso
com o maior prazer. A gente até planeja não se apaixonar antes de, até que ou
ainda que, mas aí... Nem sempre dá para prever quando Deus vai dizer: “vai lá
filha (o) chegou a sua vez, se joga”.
E se jogar não quer dizer que você
precisa ignorar os planos e rasgar as listas. O amor é ponderado e tem boa dose
de racionalidade. Me nego a confundir amor com paixão desmedida, em que você
não consegue enxergar o barco furado em que está entrando sem remos. Se jogar é
permitir, por exemplo, que uma pessoa especial se torne um bom amigo e que esse
bom amigo se torne um amor, mesmo que o momento não seja aquele que você tinha
catalogado na estante da sua efêmera existência. Sim, a vida passa rápido
demais pra gente viver esperando a hora certa, a estação certa, o clima certo,
o cenário perfeito.
Quando der para encaixar as
oportunidades nos planos que você tinha traçado, ótimo, faça isso. Quando não
der, arrisque. Todo mundo que construiu um relacionamento saudável e duradouro,
em algum momento não teve certeza. Em algum momento pensou que era bom demais para
ser verdade. Em algum momento trocou o “não sei se estou pronto” pelo “não
custa tentar”. E de fato as coisas são mais simples do que a gente imagina. A gente
complica quando quer impedir que as coisas aconteçam naturalmente, só porque
isso, às vezes, sai do combinado.
Faça uma lista das suas prioridades.
Do que você deseja na vida. Dos planos que você quer concretizar. Seja organizada
(o), sensata (o) e cautelosa (o). Mas se no meio do percurso aparecer alguém
que bagunce um pouco a sua lista, seja corajosa (o) o suficiente para abrir mão
das suas certezas preconcebidas e se permitir sonhar novos sonhos e traçar
novas rotas, juntos. O que não dá pra fazer é ficar parada (o) a vida toda na
sessão de frutas, apalpando melões.