quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Você realmente precisa disto?


Caminhando pelos corredores de um shopping center em uma grande cidade é possível entender o fenômeno do endividamento feminino. Motivo de piada, embaraços e até brigas, o estouro do cartão de crédito costuma ser rotina na vida das famílias de classe média para cima. As mulheres em especial são campeãs no quesito “Ih! Me perdi nas contas outras vez!”.
Andando pelo shopping, elas olham para os manequins com lindos vestidos, presos na parte de trás da cintura com alfinetes. Então, na verdade, não querem o vestido, querem aquela cintura. E nunca param de comprar, achando que em algum momento vão encontrar exatamente a fórmula que, sem esforço e sem sacrifício, as tornará lindas e desejáveis.
Claro que não é só isso. Mas em grande parte é sim: quando compramos compulsivamente, estamos tentando preencher um espaço que é relacional. Nada material poderá preencher. E enquanto cada uma de nós não descobrir isso de fato, as empresas de cartões de crédito, os bancos, as lojas, a publicidade e todo segmento envolvido na problemática continuará a lucrar na mesma proporção: compulsivamente.
No mês de agosto, a empresa especializada em pesquisas sobre mulheres, Sophia Mind constatou que 59% das mulheres brasileiras estão endividadas e que 21% delas não sabem como pagar a conta. A pesquisa também apontou que 81% das brasileiras compram a prazo e 11% delas, não controlam os gastos.
Esta pesquisa apenas oficializou aquilo que a gente já sabe. Ouvimos por aí toda hora, no salão de beleza, na fila do supermercado, na sala de espera do médico, esperando as crianças na escola. Todo mundo sabe que grande parte das mulheres tem dificuldade de resistir a um sapato, uma bolsa, uma joia, à coleção de roupas da nova estação. E quanto mais a dívida cresce, mais aumenta a angústia de não conseguir pagá-la e mais se pensa em comprar, tentando aplacar a ansiedade que esta situação causa. Como sair, então, deste círculo vicioso?
A minha solução pessoal é bem simples, mas funciona. Uma vez fui a uma loja com um grupo de colegas de trabalho e coloquei o olho em um sapato. O mundo parou, a fivela do sapato brilhou mais do que nunca e uma névoa tomou conta do lugar. Então um amigo me puxou da nuvem e perguntou, sem dó, nem piedade: “você realmente precisa deste sapato?”.
Como uma amazona distraída, caí sentada do alto do cavalo galopante da ilusão e respondi: “não, não mesmo”. A partir de então, a tarefa tem sido bem menos dolorosa para mim.
Obviamente que, como toda mulher que se preze, as cores e modelos de cada nova estação ainda enchem meus olhos como frutas maduras em um pomar perfumado. Mas identificando todos os sentimentos possíveis, percebi que o de deitar no travesseiro à noite sem dívidas, me deixa mais feliz do que aquele despertado pelo cheiro de um sapato novo dentro da caixa.
A pesquisa também mostrou que quase 70% das entrevistadas já usaram ou usam o cheque especial e 27% destas o fazem todos os meses. E muitas delas responsabilizaram os problemas de última hora como fator determinante para entrar no vermelho. Ou seja: a renda está tão comprometida com o pagamento de dívidas, que não existe espaço para imprevistos.
Cada mulher (e cada homem também) precisa encontrar um caminho que torne viável o contorno do endividamento e ainda assim, a satisfação das necessidades pessoais. Ter o controle da situação nas mãos é como poder comer uma trufa sem engordar, ou como se a louça de uma hora para outra, se tornasse autolimpante: tecnicamente impossível, mas, totalmente desejável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário