quarta-feira, 12 de maio de 2010

Homens maus, mulheres românticas e autoridades incompetentes


Sempre achei que culpar as autoridades por tudo o que acontece ao nosso redor é uma forma de lavar as mãos e fingir que a responsabilidade é de alguém e nunca da gente. Mas tem uma questão que está me incomodando bastante e sobre a qual penso que falta um dedinho de autoridade, especialmente a legisladora.
Nos últimos meses a mídia nos “jogou na cara” inúmeras reportagens sobre homens que mataram suas mulheres ou namoradas em virtude da separação. E não bastasse isso, alguns deles mataram também os filhos ou em alguns casos, apenas os filhos, como forma de vingança.
Temos aí dois problemas terríveis. O primeiro é o do homem, que comete uma atrocidade destas. E o segundo é o da imprensa, que noticia. Há um bom tempo atrás, este tipo de notícia era evitado, principalmente se o homicídio fosse seguido de suicídio, pois a ampla divulgação pode gerar o fenômeno da cópia, ou seja, pessoas mentalmente prejudicadas ou em depressão podem se sentir estimuladas a fazer o mesmo. Está lá, no código de ética dos jornalistas, caso alguém ainda saiba o que isso significa.
Mas já que foi e é noticiado, vamos discutir. O recado é claro: as mulheres querem viver suas próprias vidas, fazer suas escolhas, ser independentes, se libertar de relações de abuso e violência? Que paguem por isso então. E com a vida, sua ou dos próprios filhos.
Não quero fazer apologia à separação, longe disso. Sou adepta da idéia de que todo casamento tem salvação e de que essa conversa de “incompatibilidade de gênios” nada mais é do que inabilidade para lidar com as diferenças. Mas ninguém é proprietário de ninguém, para se achar no direito de cercear a liberdade do outro e até de tirar-lhe a vida.
Dados na Anistia Internacional relatam que cerca de 70% das mulheres assassinadas no mundo são vítimas dos próprios maridos ou companheiros. No Brasil, a cada 15 segundos uma mulher sofre violência doméstica e leva em média, de 10 a 15 anos para efetuar uma denúncia.
A chamada à reflexão serve também para as mulheres. Esse tipo de comportamento autoritário, arbitrário e explosivo surge lá atrás, durante o namoro. Só que românticas que somos, pensamos que ele vai mudar ou até fechamos os olhos para não ver. Ah, ele acabou com as minhas amizades, mas elas eram ruins mesmo. Confiscou meus contatos telefônicos e minha agenda, mas foi para me proteger. Liga de meia em meia hora, mas certamente é porque me ama muito. Cuidado! Seu pincher pode se transformar em pitbull, mais cedo do que você imagina.
A fase do namoro é muito importante para conhecer a pessoa com quem se pretende passar o resto da vida. E ninguém muda de uma hora para outra. Se ele parece controlador durante o namoro, no casamento não vai ser diferente e pode ser até pior. Boas escolhas costumam resultar em felicidade, salvo raras exceções.
Mas aí a mulher não escolheu muito bem ou teve uma tremenda surpresa com a mudança de comportamento do marido, que passou a ser violento e ameaçador, gerando um desgaste emocional imenso. Azar o dela? Não, jamais! Aí é que entra a questão onde falham as leis e as autoridades competentes. A lei Maria da Penha é ótima, mas falta cumpri-la à risca. Mulheres e crianças que estão sofrendo ameaças devem ser protegidas de maneira eficaz e não apenas em tese.
As leis precisam ser severas e a punição precisa ser exemplar. Em algum momento isso tem que cessar. Não é possível admitir que a cada dia mulheres sejam assassinadas ou percam seus filhos porque não suportaram viver sob o teto de uma subordinação danosa.
Ou seja, as mulheres precisam escolher melhor, as autoridades precisam agir mais rápida e eficientemente e os homens precisam abrir mão da sua necessidade de controle e domínio. Se quiser conquistar uma mulher e tê-la para sempre ao seu lado, liberdade e respeito devem estar na sua lista de qualidades.

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