sexta-feira, 29 de abril de 2011

O casamento real e os brasileiros que tropeçam na língua




O dia 29 de abril de 2011 certamente será um dos mais documentados da História. O olhar do mundo todo se voltou para a Inglaterra, onde o príncipe William se uniu à plebeia Kate, em uma cerimônia acompanhada por 1.900 convidados presentes e outros milhões de espectadores virtuais.
Nas rodas de conversas tupiniquins do dia, acompanhei muita coisa sendo dita e pouco proveito tirei. Foi um dia mesmo para morder a língua e calar. Descobri que a ignorância me irrita menos do que a pseudo-sabedoria e o discurso dos teórico-socialistas.
É uma ironia sem precedentes, os brasileiros criticarem o casamento real, sob o argumento do dispêndio de dinheiro popular. Primeiro, porque a Inglaterra é um país de primeiro mundo, por isso, não há um contraste tão grande entre a pompa do casamento mais esperado dos últimos anos e a camada financeiramente menos favorecida da população. Já por aqui, onde sediaremos uma Copa do mundo, que não temos condições financeiras de sediar, quando os jogadores estiverem pisando em gramados que mais tarde serão usados apenas esporadicamente, haverá crianças passando fome e pessoas morrendo por causa da falta de condições básicas de sobrevivência.
Outro ponto a ser analisado é que talvez, eles também olhem para nós e fiquem pasmos da mesma forma, com respeito ao carnaval. Só que casamentos reais acontecem de vez em quando e o carnaval brasileiro todos os anos suga milhares de reais dos cofres públicos, para bancar uma festa que não serve apenas para atrair turistas e divulgar a cultura brasileira, como tanto se gosta de alardear por aí. Carnaval também é sinônimo de violência, promiscuidade, incentivo ao uso de drogas e abuso de álcool, dentre outras centenas de frivolidades e nem por isso, o mundo se escora na soleira da janela para falar mal das nossas tradições.
E se não bastasse tudo isso, o simples fato de quem eles têm uma cultura diferente da nossa já seria suficiente para simplesmente respeitarmos as decisões que tomam, uma vez que elas não ferem nenhum dos princípios de paz entre as nações. A Inglaterra vive sob o regime monárquico, portanto, nada mais correto do que cultivar as tradições pertinentes a ele.
Além de tudo isso foi um dia feliz para o povo inglês. Todos saíram às ruas, organizados e civilizados como são, para prestigiar o novo casal real. A monarquia mudou e os súditos fazem isso por respeito e admiração e não por obrigação, como foi no passado.
Nosso mundo já está bastante cheio de desgraças cotidianas e estamos fartos de falar sobre elas. É necessário conscientizar as pessoas sobre o desperdício do dinheiro? Sim, é. Mas estamos escolhendo muito mal nossos governantes para dar palpite em como os outros países são administrados. Precisamos mesmo é encarar o grande espelho da nossa realidade, cuja desigualdade social é horrenda.
Que o belíssimo casamento de William e Kate nos faça refletir sobre a importância do matrimônio, seja ele celebrado com títulos, coroas e requintes, ou na mais simples capela, do local mais distante e solitário. Que o amor deles dure verdadeiramente e que vá além do que nossos olhos admirados puderam ver. Isto, brasileiros e brasileiras, são verdadeiros votos de felicidade.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Novos tempos

Não tenho conta no Twitter, Facebook, Orkut (já tive e ouvi dizer que agora é coisa do passado) e em nenhuma outra rede social. Minha única conexão com o mundo virtual é este blog. Veja bem: não me orgulho disso. Conheço as necessidades reais de se acompanhar o tempo e suas rápidas mudanças e sei que fico a léguas de distância daqueles que se conectam com maior facilidade. Mas ainda não encontrei um meio de organizar meu tempo onde isso se encaixe. Eu quero mesmo é diminuir as tarefas, para sobrar mais tempo para o que é essencial. E um “bichinho virtual” para cuidar não me ajudaria nisso. Hoje, mas espero que isso mude, logo.

Enfim, estou refletindo sobre essas mutações tecnológicas tão rápidas. Conheci a internet quando fui para a faculdade. Minha amiga Vivi criou uma conta de e-mail para mim, que utilizo até hoje. Eu morava em regime de internato, então outras três garotas dividiam o quarto comigo. Ninguém tinha celular. A televisão ficava em um centro de entretenimento, junto com uma sala de jogos de mesa. Se eu quisesse assistir telejornais, tinha que ir até lá. Eu não tinha computador pessoal e a faculdade ficava em uma fazenda a 15 km de distância da cidade mais próxima. Meus trabalhos eram entregues em disquete. Muitos eram feitos à mão, mesmo. Faz sete anos que me formei. Outro dia li uma troca de recados entre duas pessoas que moram e estudam lá atualmente, dizendo assim: “meu pendrive precisa visitar o seu MacBook para saber das novidades”. Sete anos é tanto tempo assim? Fiquei quase chocada.

O fato é que as coisas acontecem de maneira muito rápida, verdadeiramente. E isso é bom, mas pode ser ruim, para quem tem dificuldade de acompanhar o tempo. Algumas pessoas aceitam com maior facilidade, outras adoecem porque não conseguem absorver a demanda de tempo exigida, ironicamente, pela tecnologia. Era para a tecnologia facilitar a vida, mas para quem não sabe usar, ela apenas preenche pequenos espaços de tempo, até que “pessoa ocupada” vira sinônimo de “pessoa moderna”.

Mês passado o Japão sofreu um terremoto seguido de tsunami de proporções catastróficas. As pessoas não ficaram sabendo – elas viram em tempo real, transmitido pela televisão, ou via internet, por computadores, celulares ou tablets. Há apenas 10 anos isso seria quase impensável. Existia um caminho para que a notícia fosse exibida: pauta/produção/decupagem/edição/exibição. Hoje isso é praticamente arcaico. As pessoas fazem notícia pelas redes sociais em tempo real, sem intermediários. O papel do jornalista é muito mais interpretativo do que demonstrativo, porque quase todo mundo já sabe o que aconteceu, eles apenas querem saber o que você pensa sobre isso e qual é a sua maneira de se conectar à realidade.

Isso dificulta bastante a profissão, já que precisamos nos reciclar diariamente. Mas facilita bastante no tocante às fontes. Há fontes saltando da tela o tempo todo e isso enriquece as reportagens, as crônicas, os artigos. A informação nunca foi tão acessível, resta saber selecionar e aí podemos ter sérios problemas.

De qualquer forma, as mudanças estão aí e o que se pode fazer é tirar o melhor proveito delas, para que nos sirvam e não precisemos servi-las. Os verdadeiros sábios tecnológicos são aqueles capazes de viver sem a tecnologia, caso ela falte. E tomara que isso não aconteça, ou deixarei de existir virtualmente. Contraditório não? Nem tanto. Demandas de novos tempos.