terça-feira, 16 de abril de 2013

Quem me representa?


Quando vejo na mídia por aí, mulheres que se sobressaem pela superexposição do corpo, ou por um comportamento que, embora seja aceitável pela sociedade atual, não é digno de ser imitado, imagino que elas não têm a consciência de que estão representando uma categoria. Porque quando você vê uma amostra dessas na mídia, acaba por imaginar que isso é, de fato, uma fatia do bolo todo. Então se eu pudesse dar um recado a elas seria: pare! Você não está me representando com dignidade.
Quem me representa são as 18,4%, que segundo os dados da Síntese de Indicadores Sociais do último censo do IBGE, estão chefiando as famílias brasileiras com filhos. Porque elas não têm tempo para perder com degradação moral. Precisam colocar comida na mesa. Em 2001 esse número era de 3,4%. Ou seja, em 10 anos aumentou quatro vezes, porque enquanto muitas celebridades instantâneas surgiram e desapareceram, assim como a sua beleza montada, outra parcela da população estava fazendo malabarismo para cuidar de uma casa e sustentá-la, ao mesmo tempo.
Mas chegamos num ponto tão crítico, que soa moralista condenar a exposição do corpo, o esmaecimento dos valores, a proteção da família. Alcançamos um patamar como sociedade democrática, que nos permite expressar livremente nossa opinião, desde que ela não confronte o pensamento de quem além de liberdade de expressão, tem acesso à propagação de suas ideias.
O espaço virtual criou um sem número de filósofos de plantão, formadores de opinião, que defendem ferozmente suas posições a respeito dos mais variados assuntos. Eles esquecem de que fundamentalista não é só quem possui uma opinião diferente da deles e sim, todo aquele que se posiciona radicalmente, colocando suas ideias acima do respeito e valorização da vida. E aí surgem antagonismos tão gritantes em nossa sociedade, que às vezes chego a duvidar de que ainda estamos falando de seres pensantes.
Um exemplo disto são as caricaturas que as novelas globais fazem dos crentes. Eu sou cristã, mas as personagens cristãs das novelas da Globo também não me representam. Elas são imbecilizadas, culturalmente pobres, beiram o ridículo e são quase sempre representadas como se tivessem algum tipo de déficit intelectual. Quer dizer: preconceito só é detestável se for racial, sexual ou social. Se for religioso, tudo bem.
O que as pessoas precisam entender, de uma vez por todas é que ter uma opinião diferente, não significa que você não tem respeito pela pessoa que discorda de você. Eu posso não gostar de gatos, por exemplo. Mas isso não me dá o direito de envenená-los. Eu posso não concordar com a forma como uma amiga cria os filhos. Isso não me dá o direito de desautorizá-la na frente deles. Eu posso não concordar com a opção sexual de uma pessoa, sem, no entanto desrespeitá-la, porque acima de qualquer coisa está o direito que ela tem de escolher e o fato de ser um ser humano igual a mim. Tenho vários amigos homossexuais, dos quais gosto muito. Eles sabem o que penso a respeito e nem por isso deixamos de ser amigos. Jamais seria capaz de discriminá-los, pois não tenho esse direito.
O mesmo se aplica às pessoas religiosas. Eu posso discordar das crenças de alguém, mas se eu ridicularizar uma pessoa por aquilo que ela acredita, então não posso viver carregando uma enorme bandeira contra homofóbicos, racistas e pessoas que fomentam a desigualdade social: sou igual a eles. Só o que muda é a embalagem do meu preconceito, o conteúdo é igual.
E mesmo correndo o risco de parecer moralista, continuo defendendo que a mulher precisa se sobressair pelas suas qualidades morais e não pelos atributos físicos. Que as curvas do cérebro são mais belas do que as do corpo e que aquilo que se conquista unicamente pela beleza, vai embora tão rápido quanto chegou. Graças à sociedade democrática, ainda posso pensar assim. E o farei ainda que um dia eu venha a ser a única, porque as minhas ideias não dependem da quantidade de pessoas que concordam comigo para existir. Talvez um dia eu seja minha própria espectadora e ouvinte, mas de uma coisa você pode ter certeza: eu estarei vestida!