terça-feira, 15 de junho de 2010

Aconteceu de novo


Acompanhamos estarrecidos (pelo menos a maioria de nós) mais um caso com desfecho trágico para uma família brasileira. Mais uma jovem mulher assassinada, privada do seu direito de viver e conviver. Mais um período de luto para o Brasil. Mais um período de luto para a humanidade.
Mércia vivia um momento promissor na carreira e segundo familiares, um momento feliz na vida. Mas conforme quem a matou, ela não tinha esse direito. Ela não podia ser feliz, a menos que aceitasse viver sob a coação de quem deliberadamente escolheu outro tipo de vida para ela.
E mais uma vez acompanhamos entorpecidos a imprensa divulgar fotos e imagens do corpo encontrado na represa, como se lhes pertencesse. Aquele corpo pertence à família de Mércia, nem um tipo de mídia – da mais poderosa à mais simples – tem o direito de mostrar aquelas imagens.
Esta mulher morreu porque tinha consciência. Ter consciência hoje em dia pode ser muito perigoso. Outras tantas, milhares eu diria, não têm consciência de sua situação. Não sabem que são mulheres, que são belas, que são livres, que têm valor, que há um mundo de possibilidades. Vivem ali, amarradas, atreladas ao pé da cama. E no dia em que tiverem consciência disso, correrão risco de morte, como Mércia corria.
Ela provavelmente descobriu que era boa demais para aquele homem. E não me venham os ativistas de direitos humanos usar o absurdo, legal, mas imoral, de dizer que estamos julgando precipitadamente o ex-companheiro dela. As evidências gritam mais alto do que qualquer prova.
Ela um dia deve ter acordado e olhado no espelho, daquelas olhadas para dentro de si, e visto que merecia muito mais do que uma coleira que a permitisse apenas espiar pela janela. Viu que não servia para ela aquele tipo de vida, aquele tipo de caráter. E por ter bom senso, terminou aquele relacionamento.
Então, mulheres, prestem atenção a isso e não sejam vítimas de homens sem caráter como este que vitimou Mércia. Se forem ameaçadas, denunciem, registrem boletim de ocorrência, mas não dependam da polícia. Avisem a família, os amigos, se mudem e andem acompanhadas. Não fiquem caladas, achando que o homem está blefando. Se ele disser, como aquele homem disse para Mércia, que você irá se encontrar com Deus mais cedo, não duvide dele. Proteja-se, proteja seus filhos, fuja, faça o que for necessário.
Gostaria de dizer que acredito que este será o último caso deste tipo, mas não posso. Porque o que vemos por aí é que há um tipo de homem que não aceita receber não como resposta. É uma pequena parcela da população masculina que não aceita o fato de que as mulheres, tal qual eles, têm direito ao seu livre arbítrio.
Não deixem de ter consciência, de perceber sua importância no mundo, de se valorizar para priorizar as vontades perniciosas dos outros. Mas saiam destes relacionamentos antes que eles destruam sua vida, sua família, sua identidade.
A única maneira de preservar a memória de mais esta vítima deste tipo de violência inaceitável é não permitindo que aconteça com você.