sexta-feira, 28 de maio de 2010

Expectativas

Estive pensando sobre expectativas. E embora sejam inconclusivas as minhas ideias, elas ao menos lançaram uma pequena luz sobre o assunto, que estava há algum tempo dançando moonwalk na fissura sagital do meu cérebro (aquela que fica entre os dois hemisférios). Sim, porque para mim as expectativas não são nem lógicas, para estarem no hemisfério esquerdo e nem simbólicas, para estarem no direito.
Expectativas são pequenas bombas espalhadas pelo campo dos nossos sentimentos e, vez ou outra, pisamos nelas e voamos pelos ares, retalhados, feridos e confusos. Ou então, de tanto pisar em falso, optamos por parar no meio do caminho e simplesmente não pisar. Porque não pisar significa não correr o risco de se ferir.
Mas, acho que especialmente para as mulheres, as expectativas têm ainda um segundo elemento: a crueldade. E o que é pior ainda: a autocrueldade. Porque não há quem consiga ser mais cruel com uma mulher do que ela mesma e suas expectativas.
Desde os nossos primeiros passos começamos a esperar. Esperamos ser belas, inteligentes, sorridentes, amadas. Aí o tempo passa e esperamos circular por todos os grupos populares da escola. Mais tarde, quando temos que optar por uma carreira, esperamos ser bem-sucedidas e ainda ter tempo para cuidar do cabelo, das unhas, da pele.
Então surge a maior de todas as nossas expectativas: a do príncipe encantado. Sonhamos que ele virá mesmo num cavalo branco, apesar de sabermos que dificilmente os cavalos circulam em vias públicas. Que ele será igualmente bonito, educado, sensível, generoso e rico. Certo, muitas mulheres trocam o “ser rico” por outras coisas mais importantes. Mas a lista de qualidades esperadas segue mais ou menos nesse ritmo.
E aí com o passar do tempo e alguns beliscões da realidade, nos damos conta de que ninguém consegue reunir tantas qualidades e ainda ter um excelente caráter, que querendo ou não é enfim, o que mais importa. E aí baixamos um pouco nossas expectativas, nos contentamos com algumas qualidades da lista e casamos.
E então casadas, temos novas expectativas. Esperamos que eles nos ajudem com as tarefas domésticas, que continuem românticos como no namoro, que abandonem alguns hábitos nocivos que adquiriram ao longo da convivência materna, que façam massagem sem que precisemos pedir e sem esperar nada em troca.
Aí vêm os filhos e esperamos que sejam... Bem, não vou tocar nesse assunto, se não o texto não vai ter fim. Você consegue perceber como esperamos demais das pessoas e da vida, sem nem mesmo saber se estamos preparados para tanto?
Não quero dizer que devemos ter baixas expectativas e que devemos nos contentar com o que a vida nos apresenta, como eternas Polianas ou como se não fôssemos agentes da nossa existência. Contudo, creio que baixar um pouco as nossas altas expectativas, nos torna mais habilitados a conviver em sociedade e em harmonia, já que nem todo mundo, o tempo todo, conseguirá suprir nossas necessidades de satisfação.
Penso nas crianças, que se alegram com tão pouco, até os cinco anos pelo menos, quando passam a diferenciar as tecnologias dos videogames. É tão interessante observar uma criança diante de uma taça de sorvete, de uma folha em branco, de uma casinha de lençóis, de uma boa história. Elas esperam apenas ser amadas e alimentadas e tudo o que vier além disso, as surpreende e fascina.
Por causa da nossa fatídica mania de esperar demais, perdemos esta tão bela capacidade de nos surpreender, de nos encantar, de acreditar. E passamos a vida como se estivéssemos em uma estação ferroviária abandonada, esperando por um trem que sabidamente não virá.
Não há uma receita para isso, porque de vez em quando vamos cair nessa armadilha. Quem sabe voltando às nossas origens pueris possamos descobrir que todo mundo tem alguma coisinha a oferecer. E que essa coisinha pode não ser exatamente o que queremos, mas sim, absolutamente do que precisamos.

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