segunda-feira, 20 de maio de 2013

A paixão é uma droga?


Outro dia uma amiga me questionou: “por que você não escreve mais sobre o amor?”. E ela não quis dizer mais, no sentido de quantidade, mas no sentido de que faz algum tempo que não falo sobre isso. Respondi: “acho o amor um assunto delicado”. Então vou falar um pouco sobre a paixão, que é menos complexa, mas não menos importante.

Tenho outra amiga, esta de longa data, que não consegue emplacar um relacionamento. Namora, namora, namora, mas quando a coisa vai ficando séria, o relacionamento não dá certo. Já disse para ela se tratar. Ela sofre de um mal muito comum, quase tão comum como se tornou em nossos dias, o uso de drogas: ela é viciada em paixão! Os relacionamentos dela duram enquanto dura o efeito entorpecente da paixão. Quando a fissura acaba, ela vai em busca de mais uma dose. E isso é trágico.
A paixão é responsável por aqueles calafrios todos que a gente sente, pelas noites mal dormidas, pelos sonhos de olhos abertos, pelos sorrisos sem motivo aparente, pelas horas que se perde em frente ao guarda-roupa, escolhendo alguma coisa para vestir num encontro. E por si só, isso não é ruim. Movimenta a vida, motiva a mudança, faz bem para o corpo e para a mente. O problema é quando não passa disso, quando não se avança para a próxima etapa.
O renomado psiquiatra Cesar Vasconcellos de Souza, no artigo “A emoção não é o amor”, diz que “a paixão emocional esconde da pessoa as dificuldades que ela tem, porque mantém o indivíduo num êxtase, semelhante ao efeito de uma droga. Naquela hora é tudo ‘paz e amor’. Quando acaba o efeito fica cinza, como um dia nublado. Então, é o momento de se lidar com a realidade, a dor, a limitação, a frustração, a necessidade de mudança interior que a droga e a paixão só prometem, mas não fazem”. Forte não?
Isso não quer dizer que a paixão seja ruim. Ela é necessária. Sem ela não há o encantamento que aproxima as pessoas. Seria mais fácil se a gente pudesse escolher num catálogo, alguém com as características que procuramos, mas, seria tão belo quanto se apaixonar sem razão óbvia? A paixão nos faz admirar a pessoa, com uma admiração que precisa ser sempre recordada, depois que ela passar, para que a gente nunca se esqueça de por que se apaixonou.
A paixão em si não é ruim, o que não dá para fazer é querer viver de paixão. É querer basear uma escolha tão importante, quanto a de um casamento, por exemplo, num sentimento tão turbulento quanto a paixão.  Em algum momento é preciso decidir amar e levar esta decisão adiante, mesmo quando as coisas vão mal, mesmo quando a pessoa tem defeitos, mesmo quando o barco parece estar afundando. A paixão não dá conta disso tudo, mas o amor verdadeiro, este dá sim.
E os casais felizes, aqueles que envelhecem juntos e que a gente acha tão lindo ver de mãos dadas por aí, são aqueles que decidiram continuar apaixonados pela pessoa que escolheram amar. Provavelmente, não se vai mais morrer de palpitação ou bambear as pernas, depois de uns 30 ou 40 anos de casados, mas nos pequenos gestos dá para incluir doses homeopáticas de paixão, que serão indispensáveis para tornar o relacionamento, além de duradouro, feliz.
Então, se a paixão é uma droga da qual não podemos fugir, que sejamos sábios para administrá-la de maneira consciente. Para utilizá-la a nosso favor. Para reduzirmos as doses de maneira paulatina e assim, termos a chance de ver claramente, quem estamos decidindo amar. Que a paixão nos motive a conhecer as pessoas verdadeiramente, além do que elas aparentam ser ou do que podemos sentir. Porque a real beleza das pessoas, aquela que é verdadeira e que importa mesmo, só se consegue ver de olhos bem abertos.