quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Não, beleza não é fundamental


Quando Vinícius de Moraes escreveu a famosa frase “que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental”, certamente devia estar apenas poetizando. De fato a frase é boa de marketing. Possivelmente era apenas retórica, já que o considero inteligente demais para ter pensado assim. Afinal, beleza só é fundamental mesmo em concurso de beleza. No mais, fundamental é caráter, que não dá para disfarçar com corretivo e pó-de-arroz.
A
indústria cosmética é uma das que mais crescem no mundo. Investe-se milhões em tecnologia para descobrir novas maneiras de tornar as pessoas mais bonitas por fora. O Brasil é o terceiro maior mercado mundial de cosméticos, perfumes e higiene pessoal, atrás apenas dos Estados Unidos e Japão e à frente de países europeus como França, Alemanha e Reino Unido.

E
m 2003, a Avon encomendou uma pesquisa, com 21 mil mulheres em 24 países, constatando alguns resultados surpreendentes. Por exemplo, que para 90% das brasileiras, os cosméticos são uma necessidade e não um luxo. Esse número chega a 67% nos Estados Unidos e a 73% em média na Europa. Quase 90% das brasileiras responderam também, que a aparência é importante para definir o que são. A questão ignorada é que sim, é possível pagar por um novo nariz, lábios mais volumosos, cabelos mais lisos, seios maiores e até por uma cintura mais fina, mas não há dinheiro no mundo que compre um caráter sem manchas.

E
ntão preciso correr o risco de discordar do Vinícius e dizer: não, beleza não é fundamental. Ou pelo menos, não deveria ser. Não deveríamos relegar à beleza a tarefa de escolher cônjuges, amigos, funcionários. Deveríamos escolher as pessoas de nosso convívio com base naquilo que não se pode ver de imediato. Porque beleza acaba. Nem a mais bela mulher do mundo será eternamente assim. Já as qualidades que não se pode perceber exteriormente, essas acompanham a pessoa além da própria existência.
Obviamente é mais rápido e fácil fazer escolhas com base na beleza. É por isso que ela se tornou tão fundamental. Construir um caráter dá muito mais trabalho do que “dar um tapa no visual”. Um caráter nobre se constrói desde a infância, com palavras e principalmente com ações. Porque de nada adianta dizer para seu filho que é feio mentir, mas mandar dizer que não está quando alguém vem à sua porta pedir comida.
N
ão é errado querer ser bonita e estar sempre apresentável. É até uma qualidade. Porque apesar de não ser fundamental, a beleza é cativante. O problema é quando cultivamos a beleza apenas, em detrimento de todas as demais qualidades. O erro ocorre, quando trabalhamos tanto na embalagem que esquecemos completamente o conteúdo.

M
ulheres belas de verdade têm mais a oferecer ao mundo do que apenas o rosto impecável e o corpo esbelto. As muito bonitas contribuem na decoração, com certeza. Mas não dá para mover o mundo em cima de um salto 15. Então, se ficar na dúvida entre investir na sua beleza ou no seu caráter e não puder mesmo conciliar os dois, escolha de olhos fechados a segunda opção. Porque um dia vai faltar espaço para as rugas do lado de fora, mas sempre haverá espaço suficiente para novos valores do lado de dentro.