segunda-feira, 14 de março de 2011

Uma nova revolução feminina

Atenção mulheres! Está na hora de descer do salto. Não, não estou falando sobre problemas ortopédicos ocasionados pelo uso exagerado de salto alto. Estou mesmo usando o sentido figurado e fazendo uma convocação extraordinária. Um estudo realizado pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na região metropolitana de São Paulo apontou que embora a participação das mulheres no mercado de trabalho tenha crescido na última década, com grau de instrução superior ao dos homens, os salários delas continuam sendo menores.
Segundo a pesquisa, as mulheres ganham 75,7% do valor pago aos homens para o desempenho das mesmas funções. Ou seja, é para ficar bege, rosa chiclete e roxa de raiva, sim. Na prática, isto significa que mesmo saindo de madrugada e voltando à noite para casa, a fim de não perder seu espaço no mercado de trabalho, você continua recebendo menos do que os homens que fazem o mesmo percurso, porém, em sua maioria, sem precisar iniciar uma nova jornada ao chegarem em casa.
Sei que já falamos disto aqui. Mas uma coisa é ver que isso acontece com você, sua vizinha, sua prima e uma amiga da sua diarista. Outra coisa é um estudo apontar os vergonhosos números de um estudo feito na quinta maior cidade do mundo, onde se vê mulheres trabalhando em absolutamente todos os setores da geração de renda do País.
A esta altura, a pergunta que não quer calar é: por quê? Por que estamos sofrendo essa injustiça, se a ciência tem comprovado que nossa presença na cadeia produtiva é tão boa quanto, ou melhor que a dos homens? E isto não é mera suposição, como estão pensando aqueles que quase posso ver torcendo o nariz.
No primeiro semestre do ano passado, a Universidade de Duke, nos Estados Unidos, divulgou o resultado de uma pesquisa realizada com grupos de estudantes em que as mulheres se destacaram como melhores líderes nas atividades propostas. Recentemente, pesquisadores do MIT (Massachussetts Institute of Technology) e da Carnegie Mellon University concluíram, através de um estudo, que os grupos com maior número de mulheres têm mais inteligência coletiva (termo usado pelas duas instituições para definir o desempenho coletivo na realização de uma tarefa).
Para reforçar a tese, podemos utilizar também a opinião de Karen Pine, professora de Psicologia da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, que lançou no final do ano passado, um livro chamado Sheconomics, que pode ser traduzido livremente como “ela e a economia”. De acordo com Pine, existem provas concretas da forte relação entre o sucesso financeiro das empresas e a presença de um número significativo de mulheres nos cargos mais altos.
O estudo do Seade/Dieese concluiu também que nos cargos com nível superior completo, a diferença de remuneração entre homens e mulheres é ainda maior: elas recebem 63,8% do valor pago a eles para as mesmas funções, menos que em 2000, quando esse percentual era de 65,2%. Isso mostra que precisamos, no mínimo, tomar uma providência urgente, antes de começarmos a pagar para engraxar as botas de nossos colegas de trabalho.
Este tipo de estatística só me faz acreditar realmente na velha história de que “Amélia é que era mulher de verdade”. Porque se temos que sair de casa para nos desgastar em empregos que nos cobram mais do que a eles, a fim de provarmos que merecemos estar lá e não vamos ganhar um valor justo por isso, temos que considerar a possibilidade de simplesmente desistir. Temos, rapidamente, de repensar os motivos que nos levam a buscar satisfação profissional. Temos que levantar urgentemente uma bandeira em prol de uma nova igualdade, que contemple direitos reais e não apenas o livre acesso ao mercado de trabalho.
Uma constatação destas me dá a impressão de que estamos sendo enganadas e continuamos acenando e sorrindo. Se a revolução para nos tornarmos iguais a eles nos trouxe tanto benefícios quanto prejuízos, possivelmente esteja na hora de uma nova revolução. Não uma revolução de armas e fogueiras, mas uma revolução de ideias, porque neste campo, o percentual é definitivamente favorável a nós.

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