quarta-feira, 16 de março de 2011

A fidelidade é a chave e não a fechadura

Procurando algo interessante para assistir na televisão, me deparei com uma entrevista feita pela apresentadora Marília Gabriela em seu programa homônimo no canal GNT. A entrevistada era uma psicanalista cujo nome me recuso a citar, pelo simples fato de que as ideias dela não merecem publicidade.
Ela estava lá falando sobre relacionamentos e segundo ela, o problema do casamento é a ilusão do amor romântico. Até aí posso concordar. Muitos casamentos não dão certo porque as pessoas entram neles com uma elevada expectativa de que a paixão será contínua e em grande parte, a rotina demonstra outra realidade. Mas o que me chocou é que ela prosseguiu dizendo que a exclusividade dentro do casamento é uma ilusão e que se a pessoa amada preenche suas necessidades enquanto está com você, o que ela faz depois disto é problema dela e não seu.
Além de chocada fiquei revoltada, porque uma criatura destas consegue vender suas ideias, em um mundo de pessoas cada vez mais perdidas em seus relacionamentos e formas de encarar a vida. Vivemos no século da relatividade. Os valores que servem para mim, não são os mesmos que servem para esta psicanalista. Mas afirmar com propriedade que os casamentos funcionariam melhor se as pessoas não exigissem exclusividade, com certeza, está entre as piores coisas que já ouvi.
E isso não é uma grande mentira apenas porque o casamento é um plano de Deus e por isso não pode ser relativizado e enquadrado em uma mentalidade tão deturpada. É mentira também, porque nenhum relacionamento que pressuponha respeito como qualidade indispensável para fluir com estabilidade pode admitir a infidelidade. A traição não é simplesmente a abertura do relacionamento para a entrada de outras pessoas. Ela é uma ferida aberta no vínculo de amizade entre o casal. E quando aberta ela sangra por muito tempo ou talvez, nem mesmo chegue a cicatrizar.
Eu desejei estar sentada na cadeira da Gabi por um minuto. Gostaria de olhar nos olhos daquela mulher e pedir para que ela dissesse isso a alguém cuja família foi destruída por um ato impensado ou mesmo por alguém que usou a sua liberdade de maneira irresponsável. Gostaria que ela dissesse isso a uma criança que viu a mãe ser morta por em um ato violento motivado pelo ciúme ou que teve que dizer adeus ao pai que a colocava na cama à noite para dormir. Gostaria que ela fosse capaz de explicar a sua “brilhante” teoria a alguém que mostrou o melhor de si para outra pessoa e que, por causa de uma traição, sentiu que tudo o que tinha não era bom o suficiente para o ser amado.
O casamento não é uma instituição falida. A família sempre será a célula mais importante da sociedade. E a sociedade está se destruindo justamente porque não percebe a gravidade disto. Um pensamento como este que a psicanalista incute através de seus livros e entrevistas é uma poeira tóxica pairando sobre nossas cabeças. A ideia de que o casamento só poderá ser realmente feliz quando ambos fizerem o que quiserem quando não estiverem juntos é uma das maiores mentiras que se pode pregar irresponsavelmente por aí.
Duas pessoas que incluem em sua suposição de amor a cláusula da não exclusividade, jamais experimentarão a verdadeira liberdade que só pode acontecer quando a mente e o coração, em sintonia, escolhem o que é melhor para ambos. Liberdade é poder escolher conscientemente dedicar-se inteiramente a uma pessoa, mesmo tendo a opção de sair com outras. A utopia do relacionamento aberto nada mais é do que uma prisão, porque a pessoa só consegue se relacionar sendo infiel e desleal, da mesma forma que o viciado só encontra prazer na fissura da droga.
Ora, sejamos práticos. Se uma pessoa quer viver pulando de galho em galho, ela tem toda a liberdade do mundo para ficar solteira. Salvo raríssimas exceções, ninguém casa com uma arma apontada para a cabeça. Cada pessoa é livre para escolher viver só e sair com quantas pessoas quiser ou casar e fazer apenas uma pessoa feliz. Certamente é um desafio muito maior e exige muito esforço. O casamento não é autorrealizável. Ele exige dedicação e abnegação, mas a recompensa também é muito maior para quem faz esta opção.
A parte triunfal da entrevista para mim, e que desqualifica qualquer afirmação absurda dada pela entrevistada foi quando a Gabi perguntou a ela: você é casada? E ela respondeu: sim, pela terceira vez. Ou seja: se não funcionou para ela, vai funcionar para quem adquire os livros ou assimila as ideias dela? Não, não vai. Felizmente.

2 comentários:

  1. Brilhante seu texto, Fabi. Desde sempre, aliás. E concordo assinando embaixo de cada sentença. Afinal, o brilhantismo do casamento é a exclusividade de ter alguém só seu, enquanto o mundo cai lá fora. Louca de pedra esta irresponsável que sai alardeando infames teorias como esta nos já deturpados meios de comunicação.

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  2. Isso aí Fá!!!!! concordo com vc em gênero, número e grau... mas é o q a gente vai ter q ouvir inúmeras vezes no mundo... quero ir embora daqui logo hein!.. ninguém merece o pecado.. Jacqueline

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