quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Em construção

Todas as tragédias climáticas que atingiram o sudeste do Brasil e de forma mais traumática a região serrana do Rio de Janeiro me fizeram pensar. Pensar nas vítimas, nos que se foram, nos que perderam tudo, nos que perderam todos. Mas também naqueles que vão reconstruir. Naqueles que terão que começar do zero, que se obrigarão a ter forças para colocar tudo em pé outra vez.
Fico imaginando se vão querer colocar alicerces no mesmo lugar, se terão coragem de repetir o mesmo erro, não querendo julgar de quem é a culpa ou dividi-la em partes iguais entre governo e população. Apenas realmente fico conjeturando se vão querer as mesmas paredes, tudo exatamente igual ou se o que querem agora é transformar, esquecer e fazer tudo novo e diferente.
E então fico me questionando se é isso que fazemos diariamente. Nossa vida é toda planejada e vamos construindo paredes e escadas e varandas que muitas e muitas vezes se desfazem e viram poeira pelo ar. Construímos um quarto, pintamos, decoramos, penduramos retratos, enchemos vasos com lindas flores, mas de repente acontece alguma coisa inesperada e dolorosa e transforma nosso castelo em um amontoado de escombros.
É aí que acontece o dia seguinte. Muita lama, muita sujeira, muitos cacos para juntar, muitas feridas para curar. Mas ele está lá e temos que pensar em como colocar tudo no lugar e nos refazer, causando o menor dano possível. E é nesta hora que devemos planejar o que e como fazer novamente. Se vamos querer as mesmas cores, os mesmos móveis. Se vamos continuar pelo mesmo caminho que nos levou ao caos ou se é hora de mudar a planta e fazer um novo projeto.
Como mulheres temos ainda um “talento” especial de construir castelos nas nuvens, onde qualquer vento pode derrubar. Temos mais expectativas, esperamos mais dos outros, somos mais sensíveis às quedas. E ao mesmo tempo somos fortes o suficiente para carregar uma carga de tijolos e começar de novo. Talvez seja por isso que os homens tenham tanta dificuldade em nos entender. Eles apenas são ou não são fortes, ao passo que nós, respeitando-se as devidas exceções, somos frágeis como a pena e resilientes como o aço.
Em certo momento da vida percebemos então, que nossas escolhas já nos levam a paredes mais sólidas. Já conseguimos entender a dinâmica da construção da nossa existência e a decisão de que materiais usar se torna um pouco mais fácil. Aprendemos a selecionar os amigos, a cultivar a família, a admirar as pessoas certas, a administrar melhor as crises. E nem por isso, a construção estará terminada.
Nossa vida estará sempre em construção. Nunca chegará o momento da entrega das chaves. Sempre haverá o que resolver, sempre haverá um reparo, uma reforma e para muitos a reconstrução será constante. E isso não precisa ser ruim ou doloroso como é no caso de uma enchente. A construção diária de quem somos é um processo que embora não seja fácil, não precisa ser temido. O material de que somos feitos é bastante maleável e pode se moldar a novas situações, felizmente.

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