quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Às mulheres de 30 anos

Daqui a alguns meses terei 30 anos. Essa constatação me pegou de surpresa uma noite dessas, durante o ritual básico: escovar os dentes, lavar, tonificar e hidratar a pele, escovar o cabelo 32 vezes da raiz às pontas e vestir um pijama. Está bem, não é tão básico assim, mas é comum entre as mulheres. O fato é que foi naquele momento, entre o tônico e o hidratante que eu me dei conta do que são 30 anos de vida.
E parece que quase ninguém se dá conta disso. Ter 30 anos é quase como existir em lugar algum, sabe. Há músicas para mulheres de 40 anos. Há livros para mulheres de 50 que atingiram a menopausa. Há tributos para adolescentes que estão decidindo o que fazer da vida quando saírem do ensino médio. Mas ninguém se lembra das mulheres de 30, que não estão lá nem cá. Elas parecem apenas uma ponte entre a faculdade e a idade da loba. Ninguém nem nota.
Ainda posso lembrar de como era fácil dormir aos 16 anos. Bastava desligar o walkman e o abajur e pegar no sono. Sonhar então era mais fácil ainda. Agora parece simplesmente uma luta desenfreada contra uma manada (sim, manada) de ovelhas geneticamente modificadas que balem num tom tão agudo que é quase ultrassônico e correm milhas para não pular a cerquinha branca.
E não sei se foi o choque da percepção tardia ou este ensaio de ruga que se forma bem no cantinho dos olhos (mesmo quando não estou sorrindo) que me fizeram cair em profunda reflexão existencial. Eu tenho uma lista incompleta de coisas a fazer, que eu nem sei onde guardei e estou cumprindo os pré-requisitos da existência. Mas falta alguma coisa que talvez só quem esteja à beira dos 30 vai conseguir entender. Quem já passou por isso, talvez entenda, mas agora tem vontade de voltar e modificar as coisas, então, na verdade, nunca se sabe. Confuso não é? Nem tanto.
Repentinamente me dei conta de que os planos necessitam de certa urgência, porque 30 anos é uma coisa bem significativa. É metade de 60. É uma parte da vida. É a idade limite para a decisão de onde queremos chegar. Meus óvulos estão envelhecendo, minha profissão está envelhecendo, meus amigos estão envelhecendo. É praticamente uma oxidação em massa.
Não é o fato de envelhecer que incomoda. Talvez um pouco, mas não é o ponto principal. A questão é que chega um momento na vida em que as coisas têm que se resolver, têm que acontecer. As convenções sociais não servem apenas para nos oprimir e nos fazer desejar ser inseridos. Servem para cumprir as etapas da vida e consequentemente, causar realização. É difícil encontrar alguém que seja feliz sem cumpri-las.
Então, se você está perto dos 30 como eu, ou está exatamente nesta casa e também está com a lista incompleta, bem-vinda ao clube. Dizem que daqui a algum tempo passa e dizem também, que é a ansiedade que causa aquelas rugas terríveis. Então vamos tentar curtir um pouco essa passagem nebulosa, para ver o que acontece lá na frente, virando a curva. Pelo menos em tese, isso parece funcionar muito bem.

Um comentário:

  1. Olá... adorei o seu blog.
    Eu tb tenho um e notei que nossas últimas postagens são bem parecidas, pelo menos ao que se refere o tema. rsrs
    Também tenho a mesma sensação que algo me falta, mas na verdade até sei o que é... mas deixa pra lá! rsrs Um dia, chegaremos lá...
    Se quiser visitar meu blog, segue o link:
    www.alice-tudojuntoemisturado.blogspot.com

    Bjs

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