quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Sobre tudo e sobre nada

Bem, faz um tempão que não passo por aqui. Poderia alegar que é falta de tempo, mas todo mundo sabe que quando a gente quer, a gente dá um jeito. Poderia usar a criatividade em baixa como desculpa, mas já queimei essa alternativa. Então, só me resta mesmo ser franca: tem tanta coisa para ser dita, que nem sei mais se tenho vontade de falar. O mundo está provocando muito mais o meu silêncio do que a minha indignação.
Tem gente morrendo de fome, tem gente morrendo de epidemia, tem gente morrendo queimada em jaula, tem gente morrendo degolada, tem gente morrendo com tiro, facada e na fila do SUS. Tem gente roubando a gente na cara dura, tem gente roubando a gente por debaixo dos panos e cada vez mais tem gente roubando a gente. Tem gente que bate o carro e faz uma selfie. Tem gente que paga a conta de uma água que não existe. Tem gente perdendo pedaços do corpo e até a vida em nome do padrão de beleza vigente, tem gente perdendo a vergonha, a sensatez e a sanidade e tem gente que acha tudo isso normal.
E mesmo com tanta coisa acontecendo, dentre tantas outras que estão rolando desde a última vez que escrevi aqui, ainda tem gente que se preocupa mais com o corpo de alguém famoso que dá um mergulho na praia, com a cena da Paolla Oliveira seminua em um seriado que questiona abertamente a validade dos valores familiares na sociedade atual ou com quem será eliminado no reality show mais alienante do País. E daí que mais um jornalista foi assassinado pelo estado islâmico essa semana, gente? Era a Paolla Oliveira de f-i-o  d-e-n-t-a-l!
Nessas alturas eu tenho mais e mais vontade de me recolher no silêncio. O mundo está barulhento demais. É muito ruído, é todo mundo falando sobre tudo, sem conhecimento de causa, só porque ficou fácil. É gente demais olhando para a tela e pouquíssima gente olhando para o outro. É gente demais, ser humano de menos.
Aí você pode pensar: mas não é justamente essa, a hora de falar? De protestar? De reivindicar? Talvez seja. Só não sei se funciona. Porque a intolerância está bem maior que o bom senso e pensar diferente é ser radical e fundamentalista. Palavra esta, que aliás, me perdoem os pseudointelectuais midiáticos, está sendo usada de maneira muito errada. Usem a palavra "fanático". Fanáticos religiosos, fanáticos políticos, fanáticos esportivos é que chegam às raias da loucura por causa de suas crenças distorcidas. Só que a sociedade só costuma rechaçar os religiosos, porque alguém disseminou a falácia de que todo crente é ignorante. Não acreditar em nada ou em tudo ao mesmo tempo é que é cult.
O silêncio muitas vezes nos dá a oportunidade de observar e formar uma opinião mais embasada antes de criticar ou de vomitar absurdos nas redes sociais e nas rodas de conversa, se é que elas ainda existem. Pelo menos eu ainda prefiro quem emudece diante das calamidades, não por omissão, mas por estarrecimento, do que quem tem muito a dizer sobre nada que preste.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Planejamento amoroso ou a metáfora do melão

  Ah a vida, essa danada. Um dia a gente acorda e planeja tudo, como se viver fosse tão simples quanto fazer a lista do supermercado. No outro, a gente percebe que já está vivendo e que o planejamento nem sempre ou quase nunca sai do papel.
 É bom planejar, aliás, é fundamental. Tudo o que é planejado previamente é melhor executado. Funciona bem com as férias, com o orçamento, com a construção da casa e até no controle neonatal, embora muitas vezes, esse também falhe. Mas não funciona muito bem no campo amoroso.
  Não significa que sou a favor da bagunça amorosa. Longe disso! Acho importante que cada pessoa tenha em mente o que quer de um relacionamento, que tipo de pessoa procura, que valores são importantes encontrar no outro. Só que nem sempre as coisas acontecem como a gente planeja. A casinha cor-de-rosa com cerquinha branca, um cachorro no quintal e uma fumacinha saindo da chaminé, às vezes é um quartinho nos fundos na casa da sogra. Não é o ideal, mas é o real.
  Muitas vezes você tem a vida toda organizada na sua lista imaginária de como ela deveria ser: vou crescer, estudar, me formar, trabalhar, comprar uma casa, um carro, fazer uma viagem pela Europa e um clareamento dental. Depois disso vou estar no supermercado fazendo compras, na sessão das frutas e, quando eu pegar o melão, alguém vai fazer o mesmo gesto, vamos tocá-lo juntos, nossos olhares vão se cruzar, vamos tomar um sorvete, nos apresentar aos pais, namorar por dois anos, noivar por seis meses e casar numa capelinha, em algum vale ou colina por aí. Seria perfeito não é?
   Algumas vezes dá certo. Tem gente que segue o planejamento à risca e é feliz. Mas nem sempre é assim. A vida tem a estranha mania de jogar baldes de água gelada nos nossos sonhos e a gente tem que contornar as curvas do caminho e achar um jeito de fazer dar certo, mesmo que esteja fora do plano. De abraçar as oportunidades quando elas aparecem, em vez de desperdiçar tempo tentando encaixar os acontecimentos na nossa listinha de “meu mundo seria perfeito se”.
  Não me deixam mentir todas as pessoas que disseram “eu nunca”. “Eu nunca mais vou me apaixonar”; “eu nunca vou namorar antes de”; “eu nunca me casaria com”; “eu jamais vou abrir mão de”. A maioria delas teve que engolir as próprias palavras e geralmente, fez isso com o maior prazer. A gente até planeja não se apaixonar antes de, até que ou ainda que, mas aí... Nem sempre dá para prever quando Deus vai dizer: “vai lá filha (o) chegou a sua vez, se joga”.
  E se jogar não quer dizer que você precisa ignorar os planos e rasgar as listas. O amor é ponderado e tem boa dose de racionalidade. Me nego a confundir amor com paixão desmedida, em que você não consegue enxergar o barco furado em que está entrando sem remos. Se jogar é permitir, por exemplo, que uma pessoa especial se torne um bom amigo e que esse bom amigo se torne um amor, mesmo que o momento não seja aquele que você tinha catalogado na estante da sua efêmera existência. Sim, a vida passa rápido demais pra gente viver esperando a hora certa, a estação certa, o clima certo, o cenário perfeito.
  Quando der para encaixar as oportunidades nos planos que você tinha traçado, ótimo, faça isso. Quando não der, arrisque. Todo mundo que construiu um relacionamento saudável e duradouro, em algum momento não teve certeza. Em algum momento pensou que era bom demais para ser verdade. Em algum momento trocou o “não sei se estou pronto” pelo “não custa tentar”. E de fato as coisas são mais simples do que a gente imagina. A gente complica quando quer impedir que as coisas aconteçam naturalmente, só porque isso, às vezes, sai do combinado.
 Faça uma lista das suas prioridades. Do que você deseja na vida. Dos planos que você quer concretizar. Seja organizada (o), sensata (o) e cautelosa (o). Mas se no meio do percurso aparecer alguém que bagunce um pouco a sua lista, seja corajosa (o) o suficiente para abrir mão das suas certezas preconcebidas e se permitir sonhar novos sonhos e traçar novas rotas, juntos. O que não dá pra fazer é ficar parada (o) a vida toda na sessão de frutas, apalpando melões. 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Tire esse monstro do seu armário

As pessoas têm medo da solidão. As mulheres, especialmente. Muitas delas se submetem a situações de desprezo, abuso, violência, indiferença ou desrespeito, simplesmente para ter uma companhia. São adeptas inveteradas do “antes mal acompanhada do que só”.
Obviamente não dá para ser hipócrita e dizer que é sempre maravilhoso estar só. Muitas coisas ficam mais interessantes quando se está acompanhada. Aliás, a felicidade está atrelada, em parte, ao coletivo. Basta lembrar os almoços em família, com aquela mesa rodeada de primos, tios, cunhados, vizinhos e agregados e de como eles permanecem na nossa lembrança da infância à velhice. A coletividade é importante para a nossa sanidade mental e para o desenvolvimento de valores como altruísmo e empatia.
O que não dá para fazer é prender-se a relacionamentos que só trazem sofrimento, apenas para não sentir solidão. Neste caso, é melhor estar só e aprender a ser feliz assim, do que aceitar a morte lenta que vem de um amor bandido.
Aprender a apreciar a própria companhia é uma arte. Isso é consenso no mundo da psicologia. Mas o quanto isso é real para você? Entre estar em um relacionamento ruim, mas que proporcione algum tipo de presença e estar só, mas manter a integridade física e emocional, qual dos dois você escolhe, de verdade?
Segundo uma pesquisa do Euromonitor International entre 1996 e 2011, o número de pessoas que moram sozinhas no mundo teve um aumento de 80%. No Brasil, conforme dados do último censo do IBGE, este número chega a quase 7 milhões de pessoas, ou 12,2% das pessoas que possuem domicílios particulares. Isso é bastante gente, não é?
Mesmo com dados tão expressivos, a solidão continua sendo o monstro de muitos armários por aí. É gente que tem medo do próprio eco. É gente que não sabe ser feliz se não puder reclamar de um tubo de creme dental mal espremido.
Claro: você não precisa sair sorrindo por aí porque está sozinha. Se isso não a faz feliz, mesmo, então busque uma companhia saudável e que no fim das contas, some alguma coisa à sua existência e vice-versa. Mas não faça de você mesma a vilã da história, como se passar um tempo na própria presença fosse o fundo do poço. Não se compare aos que estão bem- acompanhados e felizes, mas sim, aos que mesmo dividindo a vida com alguém, seguem amargurados. Aí você vai ver vantagem.
Pense em como é prazeroso não precisar dividir o controle remoto, não encontrar pelos no sabonete, não dar satisfação de horários, não ter obrigatoriamente, que fazer aquele serviço que pode ser protelado, não precisar discutir a relação, não ter que postar fotos diárias em suas redes sociais com cara de "olha como somos extraordinariamente felizes". 
Pense nos livros que pode ler sem interrupções, nos programas que pode assistir sem questionamentos, nos jantares com amigos que poderá desfrutar sem cobranças. Não se detenha pensando nos beijos e abraços, nos diálogos noite adentro, nos pés quentinhos no inverno e na resposta rápida quando precisar de ajuda. Foque nos benefícios e será muito mais interessante curtir um pouco da própria companhia.
Enquanto o monstro da solidão for inquilino no seu armário, dificilmente você estará pronta para um relacionamento maduro e saudável. A lente da solidão embaça o senso crítico e transforma qualquer sapo em príncipe encantado, rapidinho.  Pense nisso. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O que tem por trás do cara perfeito?

Estamos acostumados a ouvir histórias tristes sobre como mulheres têm sido vítimas de bandidos que conheceram através da internet. Seguidamente aparece na mídia a notícia de uma mulher que foi assassinada, depois de ter conhecido o “namorado virtual”. Na maioria esmagadora dos casos, o cara finge ser alguém que não é para atrair a vítima. E ela, por um sem número de razões, se deixa enganar e escolhe um caminho cujo final é a morte certa.
Essa, em última instância é a pior situação quando, por detrás daquele cara, existe “outro cara”. Mas existe uma situação menos dramática e terminal, que é ainda mais corriqueira e que rende muito mais histórias que sequer são contadas, porque de tão comuns, chegam a ser banais. É a do cara que finge ser outro cara, apenas pelo prazer de conquistar a mulher, objeto de seu desejo egoísta.
Esse “cara” é aquele que todas nós conhecemos muito bem e que vez ou outra cruza nosso caminho. Ele chega de repente, no meio de uma solidão aguda ou durante uma tempestade emocional. Estuda nossos movimentos, pensamentos e sonhos e se molda exatamente ao que estamos precisando. Analisa nosso perfil e se encaixa perfeitamente nele, sem deixar sombra de dúvida de que é “o cara” certo para nós.
Esse indivíduo é aquele que abre a porta do carro, quando já não acreditamos mais que exista um homem assim. É aquele que lava nossa louça, para nos poupar as unhas feitas. Que nos chama para um passeio em uma noite estrelada e dá nosso nome a uma estrela. É aquele que discursa sobre um futuro promissor e que faz parecer que tudo quanto toca vira ouro. Que nos mima com pequenos gestos, telefonemas inesperados, declarações não convencionais, promessas regadas a jantares e manjares. Ele é tão perfeito que você começa a duvidar de que ele seria capaz de amenidades humanas, como flatulências e hesitações!
Há algo nesse tipo de cara que é tão cruel quanto aquele que assassina suas vítimas. É que eles não dão às mulheres que designam para ludibriar, a chance de escolher de olhos abertos. Elas optam por um homem, por tudo de bom que ele tem a oferecer e quando conseguem distinguir claramente o erro, às vezes é tarde demais.
Para essas mulheres a dica é simples: pare de procurar o homem ideal, ele não existe. Você precisa eleger uma lista de qualidades que considera importantes, ciente de que não encontrará todas em um homem só e trabalhar suas expectativas, para não esperar demais e nem se contentar com pouco. E por favor, inclua nessa lista, valores que não variem de acordo com a circunstância. O que passar disso é ilusão. É malandro querendo se dar bem em cima da sua carência, da sua boa vontade, da sua mania de sempre achar que o próximo sapo é de fato, o príncipe.
Acorda amiga! O carro pode ser roubado, o perfume pode ser falsificado, os dentes branquinhos podem ser clareamento, as mãos lisinhas podem indicar preguiça, o bom humor constante pode ser efeito do ansiolítico e as palavras bonitas podem vir de um livro que você ainda não leu. A regra áurea é: se o cara parece perfeito demais, desconfie sempre!
E para você homem, que nada mais é do que lobo em pele de cordeiro, o recado é um só: nós mulheres temos sexto sentido. Caímos uma vez, duas e até três. Mas uma hora a gente aprende a identificar suas reais intenções e a nos proteger das suas investidas. Você pode conseguir enganar as pessoas por um tempo, mas em algum momento sua máscara vai cair e certamente terá sido derrubada por uma mulher.
O meu desejo mais profundo às minhas poucas e fiéis leitoras e aos meus leitores de sensibilidade aguçada é que sejam sinceros em seus relacionamentos, não importa quanto isso custe.  Quando conhecerem alguém especial, deixem essa pessoa saber em que barco está entrando. Digam a ela exatamente onde está pisando e os riscos que corre e avise que tudo o que você pode oferecer é o seu mais genuíno desejo de não decepcioná-la ou decepcioná-lo.
Conte sobre seus defeitos, manias, mancadas e sobre como você nunca estende a toalha de banho ou recolhe as roupas que espalhou. Pode não ser encantador, mas definitivamente, se ela se apaixonar por quem você é de verdade, a chance de ser duradouro é muito maior. E quando vocês brigarem, você sempre poderá dizer: eu avisei! É ou não é tentador?

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Meu protesto particular

Este blog tem mais ou menos três anos de existência e nunca me senti tão estarrecida diante de uma página em branco, como desta vez. Não é que me faltem palavras, é que elas estão saindo dolorosamente. Talvez pela primeira vez em quase dez anos de jornalismo, sinto dor ao escrever e por isso acho difícil saber por onde começar.
Estava viajando quando a turista norte-americana foi estuprada por três homens em uma van, no Rio de Janeiro. Você deve ter ouvido bastante essa história e deve ter acompanhado a todos os noticiários e a repercussão internacional, mas eu estava em um lugar onde não havia internet, sinal de celular e onde não me interessava ligar a televisão. Então descobri tardiamente essa atrocidade. E quando voltei a assistir telejornais, eles simplesmente não falavam mais sobre isso. O assunto se perdeu na onda gigantesca de protestos que cobriu o País nos últimos dias.
E o jornalismo é assim mesmo, rápido, factual, efêmero. Mas para mim, como mulher, como mãe, como cidadã, essa notícia não passou e não passará nunca. Já chorei por essa moça muitas vezes e já pedi a Deus que encontre um meio de livrá-la dessa dor. Não sei qual será, mas sei que Ele pode fazê-lo.
De qualquer forma, continuo afirmando que esse assunto não deve ser esquecido. Precisa ter uma bandeira em todos esses protestos que estamos acompanhando em tempo real, que lembre a tragédia dessa moça e do seu namorado, que também foi uma vítima de abuso, de certa forma,  além de violência e roubo. Não podemos esquecer, não podemos deixar passar. Não podemos simplesmente seguir a vida como se em algum lugar do mundo não houvesse uma moça que foi estuprada oito vezes por três monstros diante do namorado imobilizado, aqui no Brasil. E isto aconteceu na “cidade maravilhosa”, sede das próximas Olimpíadas e uma das cidades-sede da Copa do Mundo. Não temos o direito de esquecer isso, jamais.
A sociedade pós-moderna se considera altamente evoluída, puramente racional. Mas o que se vê cotidianamente é uma selva de homens cada vez mais primitivos. Uma “involução” rápida e impossível de frear. Com tanta oferta de sexo pago ou gratuito como se pode encontrar por aí, por que o número de vítimas de estupro só aumenta? Não, os homens não estão evoluindo. Eles estão dando vasão a seus instintos mais selvagens. Nunca na história do mundo, os homens foram tão boçais quanto são agora.
Uma notícia publicada pelo jornal O Globo, no dia 20 de janeiro deste ano destaca que nos últimos cinco anos houve um aumento de 157% no número de registros de estupros. Somente no Rio de Janeiro são 16 casos denunciados por dia. Aparecida Gonçalves, secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, na mesma reportagem afirmou que “isso mostra o comportamento machista da nossa sociedade, que autoriza que homens se apropriem do corpo da mulher. É como se o homem não pudesse ouvir o não”. Bingo, Aparecida! Há homens, e infelizmente são muitos, que não sabem ouvir “não”.
Nós temos uma mulher na presidência e em grande parte das chefias mais importantes do Brasil, inclusive no setor da segurança pública. E mesmo assim, pouco se tem feito pela questão. É inaceitável que um País que se julga em pleno desenvolvimento, ainda permita que suas cidadãs e até mesmo as turistas que o visitam sejam tratadas como o parque de diversões da bandidagem. Quando é que isso vai acabar?
A notícia me deixou chocada em tantos níveis, que fica difícil conseguir explicar o tamanho da indignação. Fiquei envergonhada de viver em um País que se considera rico o suficiente para construir ou reformar estádios que serão eternos elefantes brancos, mas que não tem capacidade de defender suas mulheres e proteger suas turistas. Não é questão de discutir se a Copa do Mundo vai ser boa ou não para o País. A questão é que não temos a mínima condição de sediar este evento e mesmo assim teremos de engoli-lo. Se eu fosse turista jamais viria para cá, depois do que aconteceu com a norte-americana e do que acontece com uma brasileira a cada 12 segundos, conforme o jornal O Dia.
A igualdade feminina aconteceu apenas em setores onde isso não incomoda demais aos homens. Porque no campo sexual, a dominação masculina ainda é uma dura realidade. E os números alarmantes dos casos de estupros no País demonstram isso. Existe um número crescente de homens dispostos a conseguir pela força, aquilo que são incapazes de conquistar pelo mérito. Lamentável demais.
Assistindo ao depoimento da colega jornalista que recebeu um tiro de bala de borracha, de um policial em São Paulo, enquanto cobria os protestos, fiquei pensando no quanto existem homens covardes em nosso País. Ela disse que jamais imaginava que ele fosse atirar, por ela ser mulher e não estar representando perigo. Se eu pudesse dizer alguma coisa a ela, seria: “amiga, ele atirou justamente porque você é mulher!”.  Atrás de uma farda, com uma arma na mão e sem se sentir ameaçado é muito fácil ser machão. O mesmo serve para esses monstros estupradores: é fácil ser viril segurando um revólver e subjugando a vítima. Difícil mesmo é ser homem de verdade e merecer a disponibilidade sexual de uma companheira.
Meu protesto particular não é pelos R$0,20. É pelas minhas leitoras, pela minha filha, pela minha mãe, irmã, avó, tias, primas, amigas, vizinhas, conterrâneas. Não tem ninguém, de nenhum dos três poderes, olhando por nós. O que mais precisa acontecer para que este País tenha leis mais severas para o estupro, como a castração química, por exemplo? Sinceramente, tenho medo dessa resposta.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A paixão é uma droga?


Outro dia uma amiga me questionou: “por que você não escreve mais sobre o amor?”. E ela não quis dizer mais, no sentido de quantidade, mas no sentido de que faz algum tempo que não falo sobre isso. Respondi: “acho o amor um assunto delicado”. Então vou falar um pouco sobre a paixão, que é menos complexa, mas não menos importante.

Tenho outra amiga, esta de longa data, que não consegue emplacar um relacionamento. Namora, namora, namora, mas quando a coisa vai ficando séria, o relacionamento não dá certo. Já disse para ela se tratar. Ela sofre de um mal muito comum, quase tão comum como se tornou em nossos dias, o uso de drogas: ela é viciada em paixão! Os relacionamentos dela duram enquanto dura o efeito entorpecente da paixão. Quando a fissura acaba, ela vai em busca de mais uma dose. E isso é trágico.
A paixão é responsável por aqueles calafrios todos que a gente sente, pelas noites mal dormidas, pelos sonhos de olhos abertos, pelos sorrisos sem motivo aparente, pelas horas que se perde em frente ao guarda-roupa, escolhendo alguma coisa para vestir num encontro. E por si só, isso não é ruim. Movimenta a vida, motiva a mudança, faz bem para o corpo e para a mente. O problema é quando não passa disso, quando não se avança para a próxima etapa.
O renomado psiquiatra Cesar Vasconcellos de Souza, no artigo “A emoção não é o amor”, diz que “a paixão emocional esconde da pessoa as dificuldades que ela tem, porque mantém o indivíduo num êxtase, semelhante ao efeito de uma droga. Naquela hora é tudo ‘paz e amor’. Quando acaba o efeito fica cinza, como um dia nublado. Então, é o momento de se lidar com a realidade, a dor, a limitação, a frustração, a necessidade de mudança interior que a droga e a paixão só prometem, mas não fazem”. Forte não?
Isso não quer dizer que a paixão seja ruim. Ela é necessária. Sem ela não há o encantamento que aproxima as pessoas. Seria mais fácil se a gente pudesse escolher num catálogo, alguém com as características que procuramos, mas, seria tão belo quanto se apaixonar sem razão óbvia? A paixão nos faz admirar a pessoa, com uma admiração que precisa ser sempre recordada, depois que ela passar, para que a gente nunca se esqueça de por que se apaixonou.
A paixão em si não é ruim, o que não dá para fazer é querer viver de paixão. É querer basear uma escolha tão importante, quanto a de um casamento, por exemplo, num sentimento tão turbulento quanto a paixão.  Em algum momento é preciso decidir amar e levar esta decisão adiante, mesmo quando as coisas vão mal, mesmo quando a pessoa tem defeitos, mesmo quando o barco parece estar afundando. A paixão não dá conta disso tudo, mas o amor verdadeiro, este dá sim.
E os casais felizes, aqueles que envelhecem juntos e que a gente acha tão lindo ver de mãos dadas por aí, são aqueles que decidiram continuar apaixonados pela pessoa que escolheram amar. Provavelmente, não se vai mais morrer de palpitação ou bambear as pernas, depois de uns 30 ou 40 anos de casados, mas nos pequenos gestos dá para incluir doses homeopáticas de paixão, que serão indispensáveis para tornar o relacionamento, além de duradouro, feliz.
Então, se a paixão é uma droga da qual não podemos fugir, que sejamos sábios para administrá-la de maneira consciente. Para utilizá-la a nosso favor. Para reduzirmos as doses de maneira paulatina e assim, termos a chance de ver claramente, quem estamos decidindo amar. Que a paixão nos motive a conhecer as pessoas verdadeiramente, além do que elas aparentam ser ou do que podemos sentir. Porque a real beleza das pessoas, aquela que é verdadeira e que importa mesmo, só se consegue ver de olhos bem abertos.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Gente rasa


Acho bonito pessoas que têm um pacto com a felicidade.  Sentem suas dores e choram suas mágoas, mas logo ali na frente dão as mãos à alegria, afinal, a vida tem que continuar. Infelizmente, não sou uma dessas ricas criaturas. Minhas dores sempre duram mais do que o necessário e minhas lágrimas sempre borram mais a minha maquiagem do que deveriam. Por isso admiro tanto essas pessoas: são leves, como, aliás, todo mundo deveria ser.
Por outro lado, não suporto pessoas rasas.  Gente que sente de menos, que se doa de menos, que chora de menos, que ri de menos, que se arrisca de menos, que contribui de menos. Gente rasa é fácil de identificar: está sempre desconfiando de algo, está sempre atenta ao segredo alheio, mas nunca compartilha nada. Gente rasa é sempre nude, nunca pink, nunca vermelho.
E o pior de tudo é que gente rasa, quase sempre, vem embalada em papel de profundidade: quem mergulha acaba quebrando a cabeça. Gente rasa não mostra exatamente quem é e aí, quem convive nunca sabe se é seguro dar um “biquinho” ou se por via das dúvidas é melhor só molhar os pés.
É por isso que não me assusto com gente que assume o que é. Circulo livremente por todas as tribos, sem ficar chocada, mesmo que eu não concorde com tudo o que fazem. Porque prefiro gente profunda, que assume o que é, com todos os riscos, do que gente rasa, de quem a gente nunca sabe o que esperar.
A vida da gente é cercada de pessoas rasas e profundas. Basta olhar ao redor e logo você identifica. E se você pensou em algumas pessoas, logo vai notar que as profundas são as que marcaram sua vida de forma positiva. Já as rasas... Bem, não é difícil perceber o quanto não fazem falta.
Não estou nem falando de falsidade, porque esse é outro patamar de discussão. Gente rasa, nem sempre é falsa. Às vezes, simplesmente se tornou rasa porque lhe faltou a coragem de dar o próximo passo. Às vezes, porque preferiu a segurança ao risco. E às vezes, porque acreditou que não tinha outra opção.
Gente rasa é aquela que aceita meio amor, uma profissão mais ou menos satisfatória, uma vida aparentemente boa, fé sem compromisso, amizades de fim de semana e qualquer coisa que não requeira intensidade demais. Porque se tem uma coisa da qual gente rasa foge é de intensidade na vida.
Mas isso não é uma crítica direcionada. De verdade. Pode até ser uma autocrítica. Em algum momento da vida ou em determinada circunstância, todos somos rasos. Eu, por exemplo, tenho duas mãos cheias de amigos e parentes que me dizem para escrever um livro. E estou há anos na beira, morrendo de medo de me jogar. Isso é ser gente rasa! Mas eu supervisiono minha cota de rasadura (sim, eu pesquisei:  é isso mesmo). Não pode passar muito disso. Porque quanto menos medo se tem, mais profundo se é.
O fato é que a vida voa depressa demais e não há tempo para perdermos no raso. Quanto mais tempo se passa na superfície, mais nos acostumamos a ela. Ser superficial, realmente dá menos trabalho. Gente profunda, muitas vezes, tem menos amigos, menos tempo para discussões inúteis, menos paciência para coisas sem sentido e uma agenda repleta de tarefas que ninguém entende muito bem. Porque gente profunda, a gente só conhece de verdade, se ler o manual de instruções, já que intimidade demanda uma boa dose de percepção.
Ser leve sem ser superficial é mesmo uma tarefa bem árdua. E que tenhamos a disposição de nos entregarmos a ela. O que não dá para fazer é passar a vida toda apenas molhando os pés. 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Reencontros reflexivos



Uma das coisas mais discrepantes que vejo na atualidade é as pessoas criticando, nas redes sociais, quem usa demais as redes sociais! Coisas de um tempo em que todo mundo tem algo a dizer sobre tudo. O silêncio se torna cada dia mais, artigo de luxo. Mas enfim, o que eu acho mais interessante nas redes sociais não é encontrar pessoas para conversar. Isso, de fato, é bem mais interessante pessoalmente. O grande barato das redes sociais é reencontrar pessoas.
Sabe, encontrar alguém que fez parte da história da gente e ver como essa pessoa está hoje é um tremendo exercício de pensamento. Pensamento sobre a vida, sobre as circunstâncias, sobre as escolhas, sobre os rumos que cada um pode tomar. Passados 10, 15, 20 anos, as pessoas mudam muito! Não só fisicamente, embora essa parte também seja interessante, porque algumas pessoas permanecem do mesmo jeito e outras, acabam ficando totalmente diferentes. Mas principalmente, ver o que as pessoas fizeram da vida. Isso é realmente revigorante. A palavra “reencontrar”, inclusive, deveria ter seu significado ampliado no dicionário, após a explosão das redes sociais.
Eu, por exemplo, posso citar vários casos desse “reencontro reflexivo”. Um dos meus colegas de ensino fundamental, outro dia me “reencontrou” e disse que eu fiquei bonita. Para a pessoa que eu sou hoje, não significou muita coisa, já que aprendi a conviver pacificamente com quem sou do lado de fora. Mas para a garotinha de 10 anos que eu fui, que se achava a criança mais feia da escola, fez um bem enorme. Ela, com certeza, economizou um bom dinheiro em terapia!
Também reencontrei um colega do ensino médio. E as fotos dele contam uma história muito incrível sobre o que ele fez da vida. Fala várias línguas, visitou vários continentes, estudou bastante, conhece muitas pessoas e lugares interessantes. Encheu a bagagem dele de cultura, conhecimento e aventuras. Nossa, que máximo! Quem poderia imaginar isso há 14 anos?
Nós, as meninas, em grande parte, estudamos, casamos, tivemos filhos, separamos, outras casaram de novo, outras ainda vão casar. Mas as realizações permeiam bem mais a questão familiar. E isso não é menos interessante, porque ter filhos também é uma aventura indescritível, uma descoberta sem fim, uma conquista preciosa.
De qualquer forma é muito válido pensar sobre quem nos tornamos depois que nos despedimos daquelas pessoas do passado. Para onde fomos? Que tipo de escolhas fizemos? O que acumulamos em nossa bagagem, através do tempo? Gostaria de dizer que sou uma pessoa bem melhor, mas isso nem sempre é verdade. Então isso me leva a outros questionamentos: como estarei daqui a 20 anos? Como as pessoas de hoje se lembrarão de mim? O que preciso fazer para que daqui a 20 anos, eu possa olhar para trás e dizer que, de fato, me tornei uma pessoa melhor?
As redes sociais me fazem viajar no tempo e de vez em quando, voltar para a sala de aula e ver cada um daqueles rostos que conheci. Fico pensando sobre o que fizeram da vida, se são felizes, se estão realizados com as conquistas que tiveram. É quase como um jogo da verdade virtual, só que a garrafa nunca para de girar, porque assim é a vida: uma aventura alucinante entre o nascimento e a morte.
Proponho a você o mesmo desafio: pense nas pessoas que conheceu. Pense na pessoa que você era e na pessoa que se tornou. Se o resultado for positivo, ótimo! Continue nesse caminho e quando abrir o seu amarelado álbum de formatura, você vai sorrir e se orgulhar por ter chegado aonde chegou com integridade, mesmo que não tenha acumulado bens ou atendido a todas as convenções sociais sobre o que é felicidade. Mas se você achar que com o tempo as coisas não ficaram melhores, então esse é um bom momento para começar a construir uma nova história.
Não podemos fazer nada sobre as escolhas que foram feitas no passado. Mas olhar para trás nos faz perceber que cada escolha, por menor que seja, tem uma consequência para o futuro. E que aquele futuro que não chegava nunca antes de fazermos 18 anos, um dia chega mais rápido do que poderíamos imaginar. Então, o dia para fazermos escolhas melhores e tomarmos decisões mais acertadas é hoje. A garrafa está continuamente girando e a qualquer momento, o gargalo pode apontar para você!